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Na sexta-feira a professora trabalhou a questão: como entender o discurso de possessão demoníaca? Apresentou um quadro de elementos históricos sobre a figura do diabo e da possessão, dissertou sobre a tradição do exorcismo na igreja católica, mostrando os séculos 17 e 18 como a grande época do exorcismo, e resenhou a compreensão do exorcismo hoje no ambiente cristão e na cultura ocidental. Depois ofereceu elementos teóricos, desde a psicanálise, para que possamos aprofundar o entendimento da possessão demoníaca, que tanto inspira a nossa literatura e cinema, bem como os movimentos religiosos mais populares: falou sobre os mecanismos psíquicos de defesa e a compulsão de repetição (traumas recalcados que vêm à tona frequentemente). Por fim, a partir da sua experiência no Centro de Exorcismo da capital francesa, apresentou casos clínicos dos “endemoniados” de Paris e também de um trecho do filme “O ritual”. O dia ainda teve uma surpreendente reflexão sobre a história de Santa Teresinha de Jesus e a sua “estranha doença”.
Alguns tópicos que deram o que pensar desse primeiro dia é que a cultura é que dá lugar às alegações do tipo mau-olhado, demônio, como explicação para a causa dos problemas das pessoas. Outros grupos explicam o mal através de outras figuras simbólicas. Muitas pessoas que procuram o exorcismo já vêm acompanhadas de psiquiatras e medicamentos, mas como não encontram melhora acreditam ser “coisa do demônio”. Então em alguns casos, só em falar com o exorcista já ajuda. Há casos de alucinações (sente-se coisas que não estão ali) e mesmo de visão (mais sutil). Para estar vivo e saudável é preciso ter vontade de viver, mas há pessoas que tiveram a sua capacidade de desejar destruída desde a infância, precisam atribuir o seu sofrimento a um poder externo: o demônio personifica o mal para muitos grupos culturais. Antes de afirmar que é o demônio existem várias “etapas”: histeria, neurose, transtorno, traumas, etc. A explicação do demônio para um fenômeno maléfico não resolvido pode trazer alívio, pois tem uma pessoa que pode cuidar e “curar”. Se alguém de importância simbólica te protege, diz entender teu problema, e diz te curar do “demônio” (um pastor, um padre, um exorcista) então essa pessoa já fragilizada, crê e submete-se ao processo. Como o simbólico constrói a realidade, uma reorganização da “alma” pode recuperar a saúde e integridade do corpo também.
No sábado a professora Veronique trabalhou a dimensão do sacrifício em relação com a possessão e apresentou elementos históricos e socioculturais para se compreender a noção de sacrifício e a prática do sacrifício em distintas culturas. Como elementos teóricos, tratou do “fantasma sacrificial”, estruturador do funcionamento psíquico e apresentou um pouco de psico-criminologia. A seguir, trouxe elementos clínicos e analisou um caso de crime sacrificial no qual atuou como perita.
Percebemos que a temática tem muito a ver com as superstições e o animismo, com o pensamento mágico e primário nas religiões. Sacrifício vem do latin sacer–facere (fazer sagrado, tornar sagrado). Sacrificar é tornar um ser, uma coisa, sagrada e oferecer essa coisa aos deuses como sacrifício. O sacrifício modifica a coisa sacrificada e a pessoa que está promovendo. Sacrifício tem a ver com “dom”, promessas, pedidos, troca de empenho. Há um tipo de sacrifício que coloca até o deus como dependente do ser humano. “Oferendas de carne, animais, bebidas”. Santo come? Sente cheiro das flores, incenso? Na Grécia antiga o sacrifício tinha a função de exorcizar uma culpa de alguém. Sacrifício do Bode expiatório: deixavam o bode no deserto para morrer. Sacrifício do cordeiro que se imola e dá o exemplo para o sacrifício interior: sacrificar-se até quando não se é culpado, para restaurar a paz das relações. Esse é outro tipo de sacrifício, em que a pessoa se identifica com deus. Por ex: o sacrifício de Jesus, um deus que se fez homem e se sacrificou. Os astecas sacrificavam as pessoas e depois comiam, antropofagia mística, comer a vítima é comer também sua força. A eucaristia é um sacrifício transcendentalizado, mais ou menos simbolizado (transignificação, transubstanciação). Enfim... um seminário muito esclarecedor: refletir a partir da psicanálise sobre o "bicho", a possessão e o sacrifício, esclarece muita coisa e por outro lado deixa caminho para outras reflexões surgidas e sugeridas...
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Com anotações e fotos de Silvério Pessoa.
ps.: soube-se depois que um participante do seminário andava munido da reza forte de São Bento,
caso houvesse alguma "falha" psicanalítica...
Crux Sacra Sit Mihi Lux
Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana
Numquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas
Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana
Numquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas
Ipse Venena Bibas
uiiiiiiiiiii... reze mesmo.
ResponderExcluircuidado com o coisa-ruim, viu?
oxe! não se mexe com essas coisas não.