30 de dez. de 2010

FINAL DA EPISTEMOLOGIA MÍTICA

O CETR (Centro de Estudos das Tradições de Sabedoria) organizou em Barcelona o seu 7º Encontro Internacional, de 28 de junho a 2 de julho de 2010, que tratou do “fim da epistemologia mítica”. Essa epistemologia sustenta aquilo que dizem as nossas construções linguísticas do tipo simbólico, os mitos e ritos, e inclusive formações conceituais como “a realidade”. As ciências, até o último terço do século XX interpretaram-se segundo essa epistemologia, com algumas exceções. Trata-se, portanto, de uma compreensão da língua e uma ontologia.

Com o desenvolvimento de sociedades industriais, a aparição de sociedades de conhecimento, inovação e mudança contínuas, e a globalização que colocou culturas mitológicas ao lado de outras, somos forçados a abandonar essa epistemologia mítica. Hoje temos consciência clara de que a realidade não é como a descrevem as nossas formações linguísticas, nem as míticas, nem as científicas modernas - que se pretendem verdadeiramente objetivas. Nenhuma das nossas linguagens descreve a realidade, mas modelam a nossa frágil medida do real, em correspondência com determinadas condições de vida.

Nessa altura das transformações sofridas pela humanidade, é evidente que os mitos e narrativas sagradas são sistemas de modelação da realidade, de acordo com determinadas necessidades; são sistemas de representação e objetivação que orientam e dão eficácia a nossas ações, sobretudo são estruturantes da forma como grupos humanos sobrevivem em condições pré-modernas e pré-industriais.

A partir desse enfoque surgem muitas questões que deveríamos enfrentar, sobretudo em estudos religiosos. Se todo mito, símbolo e ritual, e sistemas de conceitos, são apenas modelações, correspondentes a um certo grupo insignificante de viventes, de um insignificante planeta; se a epistemologia mítica não é mais capaz de proporcionar um refúgio a sociedades que vivem em outros quadros culturais, então o que é a verdade? Como entender revelação? O que é o caminho da salvação, ou melhor, da realização humana? Qual é a qualidade humana profunda? O que é espiritualidade? É possível uma espiritualidade sem epistemologia mítica? Como seria uma teologia sem epistemologia mítica? Como se colocaria uma ação social a favor do cuidado de outros e do planeta? Como o final dessa epistemologia afeta a educação?

Os trabalhos apresentados no Encontro Internacional do CETR enfrentaram algumas dessas questões. Foram desenvolvidos por Jaume Agustí Cullell, Marià Corbí, Montse Cucarull, Juan Manuel Fajardo Andrade, Marta Granés, Teresa Guardans, Juan Diego Ortiz Acosta, Queralt PratiPubill, J. Amando Robles e José Mª Vigil. Na publicação disponibilizada agora estão as suas apresentações, bem como resumos das sessões de trabalho e discussão que se seguiram no Encontro.

Veja os títulos: A verdade, a revelação e a qualidade humana profunda, em uma sociedade sem epistemologia mítica; Religião e teologia desde uma epistemologia não mítica ou da não dualidade; O budismo, uma aproximação à dimensão absoluta livre de epistemologia mítica; As identidades axiológicas a favor da criação como articuladoras de grupos humanos; As sociedades de conhecimento desde seus criadores e suas consequências sobre a epistemologia mítica; A epistemologia mítica na espiritualidade de empresa; O desenvolvimento de competências e o cultivo da qualidade humana; Texto e tradição como problema no marco de uma nova epistemologia; O fim da epistemologia mítica ou a mudança de paradigma epistemológico.

Baixe aqui (em espanhol) o livro
Consequências do final da epistemologia mítica
e comente depois as suas impressões...

Veja também, aqui, sobre esse tema, a proposta de Espiritualidade Integral de Ken Wilber.

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