Marcha Pela Educação e Contra a Corrupção
15 de Novembro de 2011
Concentração às 14h na Pracinha de Boa Viagem
Recife, Pernambuco, Brasil
Concentrações e Marchas dos "Indignados" multiplicam-se pelo mundo, em favor da Liberdade e da Educação e contra a Corrupção Política e o Sistema Financeiro (veja notícias e reflexões aqui mesmo no blog ou aqui na Carta Maior, veja também ao vivo aqui a ocupação de Wall Street). Dizem que a história dessa juventude, que se combina pela internet e sai às praças meio anarquicamente, começou na França e foi provocada por um velhinho de 94 anos, Stephane Hessel, que escreveu dois panfletos incendiários, "Indignez-vous" e "Engagez-vous". Assisti outro dia a uma entrevista dele na TV5Monde: com muita lucidez, Hessel declinou da paternidade do movimento, que considera espontâneo (um "caos generativo"), e defendeu que é preciso indignar-se mesmo porque a sociedade francesa é injusta (a despeito da divisa "Liberté, Egalité, Fraternité"), porque a Europa é injusta, porque o mundo todo é injusto! Precisamos nos engajar em favor dos empobrecidos do planeta, dos direitos humanos, dos direitos ecológicos da Terra. Esse é o caminho para a nossa salvação comum! (Ah, para ver uma leitura contrária desses eventos - e exercitar uma epistemologia das controvérsias - leia aqui as coisas do Pondé!)
A bandeira republicana do Brasil traz o lema, positivista e francês, "Ordem e Progresso". Mas por aqui também há gente meio indignada e buscando um outro padrão de envolvimento social e qualidade profunda para a vida humana. No próximo dia 15 de novembro, dia da República ("Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós"... Lembra que a gente cantava assim na escola?!), haverá nova Manifestação também no Recife, agora na Pracinha de Boa Viagem. As bandeiras reivindicadas nessa "primavera jovial" que varre o mundo, são, no nosso caso: Corrupção como crime hediondo, Voto aberto no Congresso e constitucionalidade da Ficha Limpa para políticos, 10% do PIB para Educação... Mais ou menos isso.
Os Indignados estão denunciando os desmandos com a "coisa pública", a precariedade do trabalho e das relações humanas, o aviltamento dos salários e o empobrecimento geral a favor dos poucos que se tornam sempre mais ricos. Essa indignação, que continua levando às praças milhões de pessoas e sacode o mundo globalizado, pode ser capaz de promover uma nova “práxis” ética e política. Mas o que as religiões têm a ver com esse processo? Em nome de deus, muita revolta já foi condenada, a indignação foi associada à ira e envolta na bruma do pecado...
Lembro que, no ano 2000, com Maria Clara Bingemer e Eliana Yunes e uma turma de gente boa, na PUC do Rio, organizamos um Seminário sobre "As virtudes do nosso tempo", que começou justamente por uma Mesa sobre "Indignação" - mas sob protestos de um importante clérigo, que recordava não se tratar aí de uma virtude teologal do catecismo cristão... Nós seguimos em frente, contudo, buscando os valores que deveriam nortear as relações humanas nos dias de hoje e o resultado virou até um livro (veja aqui). Então, para sensibilizar pessoas religiosas e cristãs para a sagrada causa da política, além da foto acima (que tirei dia desses quando passava pelo Espinheiro com o Grupo do Caminho da Unicap), compartilho também um trecho (o texto completo está aqui) da comunicação que fiz naquela Mesa...
"... Indignar-se, além de uma forma de sentir, pensar e de agir, é também uma forma de crer. Veja-se o empenho dos grandes profetas e de pessoas simples como Maria, que canta a indignação de Deus “que derruba os poderosos”. De modo que a indignação não é somente a fonte da práxis contemporânea e da sua filosofia, mas é a fonte primeva do quefazer teológico e do jeito cristão de ser e de atuar no mundo, enfim de contas. O próprio Jesus, aliás, dizia "não resistais ao homem mau, antes, àquele que te bate na face direita, oferece também a esquerda" (Mt 5,39), numa demonstração de superioridade e de resistência ao agressor – e não de amolecimento e covardia, como se tem interpretado.
Jesus mesmo reagiu com altivez à bofetada que lhe deu o sumo sacerdote: "se falei alguma coisa de errado, mostra o que foi, se não, por que me bates?" (Jo 18,23). E não teve “meias palavras” para tratar certos grupos: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da Lei: a justiça, a solidariedade e a fidelidade...” (Mt 23,23-35). Também derrubou as mesas do templo e pegou um chicote para com ele manifestar a sua indignação diante da profanação da "casa de seu Pai" (Lc 19,46). O templo, que devia acolher todas as pessoas, sobretudo as mais necessitadas, como filhas de Deus, tinha sido pervertido e degradado: de casa de Deus tornara-se “covil de ladrões” (Mc 11, 15-19).
Jesus gostava de distinguir a "sua paz" da "paz do mundo" (Jo 14,27), chegando a dizer claramente que não veio "trazer a paz, mas a espada" (Mt 10,34). E "quem não tiver uma, venda a sua túnica para comprá-la" (Lc 22,36). É distorcer gravemente a mensagem de Jesus confundir a misericórdia, a mansidão e a afabilidade que manifestava para com os pequeninos do Reino de Deus, com a flacidez, a passividade e a resignação diante do mal e da injustiça.
Jesus, ao seu tempo, discutindo com doutores sobre preceitos de santidade, foi levado a “repassar sobre eles um olhar de tristeza e de indignação pela dureza de seu coração” (Mc 3,5). Quem dera fosse outro o seu olhar sobre nós hoje, preocupados que estamos com certas virtudes da “sua” religião...".
...
Gilbraz Aragão.
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