31 de out. de 2011

DIA DOS MORTOS

caveira mexicana
Diante da morte, temos três saídas: o cinismo (de quem não ousa buscar mais sentido ou valor, conforma-se com a vida que tem e vai empurrando a morte com a barriga, tornando-se um bicho a mais, normalmente um predador, tentando matar a morte nos outros), o suicídio (de quem, também por horror à morte, “entrega-se aos outros bichos”, tenta matar a morte em si mesmo, vive todos os momentos a um passo da ruptura, porque quer demais o absoluto, não se conforma com a vertigem de estar no caminho misterioso e tortuoso para “o outro lado”), ou então a aposta da fé (de quem, sem certezas, mas cheio de esperança e amor, planta flores nos desertos, “arruma o quarto pro filho que já morreu”, faz o que pode mas sente-se parte de um poderoso projeto que ultrapassa a si mesmo, sente-se descentrado, teima em que o mundo será fraterno e ajardinado - a despeito de toda humilhação e morte, entrega-se nas mãos do Jardineiro - que sabe transformar a energia da vida). Preferimos a saída da fé!

Somos, em verdade, ao menos devíamos ser, um esforço para vencer a morte, na medida em que morremos construindo a nossa vida. E a morte serve é para limitar a vida - e daí exigir que lhe demos valor, sentido, intensidade. Pense num berimbau: uma corda esticada por um arco, para se fazer música. Metáfora do que somos: somos um berimbau, onde a corda é o amor, Eros; e o arco é a morte, Tânatos. É assim que os artistas produzem beleza: esticando o amor com o arco da “morte”. O amor sozinho é frouxo ou bobo, a morte sozinha é terrível. Viver com arte é saber esticar o amor de viver no arco da morte e produzir beleza - que tem sempre um pouco de tristeza (como no seu por-do-sol), porque somos assim: seres crepusculares. Morrer - vivendo com intensidade - é modular bem esse berimbau e fazer uma música bela pra se dançar a vida. Mas não aperte demais, não exija demais da vida, senão a morte lhe devora. A morte é álcool de lei, sagrado conhaque que anima a vida, mas é para bebermos aos poucos e com alegria, brindando à vida que se esvai - e nos imortaliza, se vivemos bem.

Toda religiosidade surge ante o horror das “mortes” e se desenvolve em torno de "sacrifícios" nessa busca de uma fonte de “jorro eterno” de vida. Sacrificam-se pessoas e bens às divindades e/ou a divindade às pessoas: variações em torno do mesmo tema. O que se quer com “salvação” é saúde, completa e pra sempre. Como então encarar a morte, do ponto de vista de uma fé autêntica? Vamos silenciar um pouco, pois mais importante do que nossas palavras é o silêncio que queremos criar para que a Palavra lhe fale, de dentro...

Continue lendo a reflexão (Irmã Morte) por aqui.
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Veja mais sobre morte e imortalidade no blog:
Nós que aqui estamos...

E mais: Continente, revista de cultura de Pernambuco, traz este mês o cemitério como matéria de capa (veja aqui os resumos dos artigos que estão nas bancas) e também resgata integralmente on-line edição de 2006 sobre a morte (veja aqui).

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