23 de out. de 2010

NÓS QUE AQUI ESTAMOS...


Dia desses, presente do amigo de outras "encadernações", Marconi Campos, assisti ao documentário "Nós que aqui estamos por vós esperamos" (acima está a última parte, Perto de Deus, mas você também pode ver o filme todo aqui). Trata-se de uma leitura da Era dos extremos (Eric Hobsbawm), dirigida por Marcelo Masagão, que mostra, com montagem de imagens do século XX e música de Wim Mertens, esse período de contrastes dos últimos cem anos, entre um mundo que banaliza a violência e desenvolve a tecnologia, cria enormes esperanças e gera muita loucura nas pessoas. O título do filme vem de letreiro sugestivo de cemitério do interior de São Paulo, muito adequado, lembrando que viemos todos do pó e a ele retornaremos, independentemente dos nossos feitos e defeitos - a morte nos iguala e lembra da nossa comum condição! Com certeza, lembrar da morte (e pensar na vida para além da vida) é bom para revisar a história, seja da sociedade, seja da gente. Afinal, toda cultura - e religião - começa quando os humanos se dão conta da morte e passam a cuidar dos seus cadáveres, enfeitando-os com sinais da esperança em uma vida além.

Dia 31 próximo, no Halloween, via espalhamento da contra-cultura americanalhada (do Christian American Way), nossas crianças do inglês, e do catecismo, vão festejar os mortos do druidismo celta e se vestir como bruxas, sacerdotisas pagãs, marcando o final do verão na Gália - e a vigília da antiga Festa dos Mártires cristãos. No 1º de novembro temos a Festa católica agora chamada de Todos os Santos e, desde o século XIII, o 2 de novembro associa-lhe o costume cristão de rezar pela salvação de todos os que morreram, celebrando o Dia de Finados. Esse é um festival religioso muito forte em diversas culturas e noutras religiões também, mormente entre os indígenas do México, onde no Dia dos Mortos se faz a maior festa nas casas e cemitérios, com bandinha de música, docinhos de caveira e muita tequila, para “receber” os parentes e amigos que partiram. Já os nossos "crentes", protestantes e evangélicos, não rezam pelos mortos, apenas lembram-se deles, porque acreditam que o Juízo ocorre após a morte da pessoa, com base na fé que ela professou em vida. Mas também os seguidores do Xangô não serão vistos rezando nos cemitérios do Recife: muito embora misture Iemanjá na maior festa religiosa da cidade, a Festa da santa católica do Morro da Conceição, o "povo de santo" tem outras crenças sobre o Além e os seus “eguns” recebem oferendas no quarto de “balé” - até que reencontrem o seu “duplo” no Orun... Mas, afinal, como as religiões compreendem a morte, a passagem para uma outra vida?!

Imagem Wikimedia
O que anima mesmo a vida da gente? Começa aqui a busca por re-ligação espiritual, através de sacrifícios e do transe, com os espíritos da natureza. As religiões tribais ou indígenas geralmente acreditavam e acreditam que a alma da pessoa e de todos os seres vivos, o seu “sopro de vida”, sobrevive à morte numa espécie de sobrevida imaterial. Ela vai habitar lugares sagrados, ”terras-sem-males”, e precisa ser agraciada com oferendas para trazer benefícios e saúde para a comunidade. Há casos até em que o indígena morto é queimado e as cinzas ingeridas pela família e todo ano a tribo faz festa para que os espíritos fiquem contentes e protejam a aldeia. Desenvolve-se assim, com diversas formas, uma crença na imortalidade da alma. Depois, as mais antigas esculturas conhecidas da pré-história revelam um culto principal dedicado ao espírito da deusa-mãe, fonte de toda vida, rainha da terra, soberana de todo nascimento. Após a invenção da criação de animais e da revolução agrícola, essa deusa aos poucos é afastada pelo deus supremo, simbolizado como macho no céu (em consonância com a “descoberta” do papel masculino na transmissão da vida), ou então surgem hierogamias e tríades mitológicas.

Mas depois da percepção desse mundo espiritual, ficou a questão: por que os espíritos vêm aqui... E para onde vão? As mais antigas reflexões sobre esses símbolos e mitos, sobre a relação entre o humano e o divino, são derivadas das meditações dos monges brâmanes (certamente influenciados pela descoberta dos ciclos da natureza no Vale do Indo) e relacionadas ao hinduísmo e budismo (e ao espiritismo ou “nova era” hoje em dia). Nesse meio, onde os mortos de preferência são cremados, desenvolveu-se a crença na reencarnação ou transmigração das almas entre as pessoas e/ou seres vivos, devido a uma lei “natural” de causa e efeito ou “karma”. De modo que a nossa “ânima”, alma ou animação da vida, provém de um espírito universal e para ele retornará, após ter se aperfeiçoado por sucessivas encarnações neste mundo material. A morte, assim, é apenas uma estação na roda dos renascimentos. No final da “samsara”, da peregrinação pelas existências, encontra-se a libertação, isto é, a união com o Absoluto. Ou ainda, seguindo outra ênfase, matéria inerte e matéria viva são vistas como ilusão e o destino espiritual do homem, fugindo do sofrimento terrestre inelutável, se completa com a libertação final do não-ser, depois de várias (re)encarnações e através de muita meditação.

Já a ressurreição é a crença numa vida além, do judaísmo, cristianismo e islamismo, que são as religiões mais novas e que se tornaram as maiores do mundo, desenvolvidas no Oriente Médio a partir do Êxodo do movimento de Moisés. Elas aprofundaram uma conotação ética da salvação, que já vinha fermentando no zoroastrismo e em outras crenças da Era Axial (de 800 a 200 aC, vários movimentos proféticos surgiram na Índia, China, Irã e Mediterrâneo Oriental). Trata-se de uma fé vinculada à luta histórica pela terra (com a sedentarização deflagrada pela agricultura) e à experiência de uma “Força dos Céus” que promete a “terra onde corre leite e mel” e faz aliança para justiçar o povo e a pessoa que cumpre a sua lei de amor: no Dia de sua Ira, Deus virá julgar os vivos e os mortos - que terão a sua “Carne” pessoal ressuscitada. A “outra vida” julgará então para sempre a relação com os outros na sociedade, o engajamento histórico desdobra-se na eternidade.

Os judeus foram aos poucos acreditando na ressurreição, como maneira de entender que os seus mártires poderiam esperar, ainda para além desta vida, a justiça divina: vale a pena arriscar-se na defesa do povo e da sua terra, porque no “fim dos tempos”, depois do advento da Idade Messiânica, Deus ressuscitará espiritualmente os corpos dos mortos para um julgamento junto dos vivos (agora, eternamente) em vista de um Banquete Eterno em Jerusalém, uma vida nova em um novo mundo - “novo céu e nova terra” - ou, então, para a condenação a vagar no “monturo que arde fora da cidade”, a Geena - que traduzimos por inferno! Ainda hoje judeus ortodoxos são enterrados na direção do nascente, de onde surgirá o Messias esperado para os “últimos tempos”.

Os cristãos e muçulmanos também acreditam mais ou menos assim, com a diferença de que o islã discute se a ressurreição para o paraíso há de ser corporal ou somente espiritual e o cristianismo nasce pela fé de que Jesus, aquele judeu crucificado em Jerusalém, já foi o Messias, o governante ungido por Deus para inaugurar o seu reinado de justiça e misericórdia, e ele já foi o primeiro a ressuscitar dentre os mortos (debate-se teologicamente se a gente ressuscita ao morrer ou espera o Dia do Julgamento). Não se trata de um cadáver reanimado, porém, nem da pura sobrevivência de uma alma, mas da vida nova de uma pessoa que se relaciona e é reconhecida quando os amigos, amando segundo os seus ensinamentos, repartem o pão e a vida, como aconteceu com Jesus no caminho de Emaús.

Essas visões do "outro lado" (a ancestralidade, a reencarnação e o nada, a ressurreição), avivadas nas festas dos finados por símbolos da fé no que cada grupo humano considera sagrado no "rio da morte" e por vezes recombinadas segundo a caleidoscópica sensibilidade espiritual contemporânea (veja-se o número de católicos reencarnacionistas!), procuram resolver, cada uma à sua maneira, os problemas do humano diante dos limites da existência, do bem e do mal na vida. Retomando o documentário à epígrafe, que inspirou essa crônica dos mortos, poderíamos dizer que a busca pela felicidade, tanto quanto a espera da morte, traduzem a nossa humana condição. Mas, para terminar com otimismo, havemos de perguntar: se a morte é certa, será que a felicidade existe? O filme conclui justo com uma frase de 1907, do maravilhoso e querido poeta Maiakovsky, que eu bem gostaria que fosse o meu epitáfio: "Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz". E você, o que pensa disso tudo? Como vai celebrar o Dia de Finados? Conhece outras crenças, de outras religiões, sobre o que esperar da vida - e da outra vida?! Clique aí em Comentários e se manifeste... enquanto é tempo!

Gilbraz Aragão.

Para saber mais:
LENOIR, F. et TONNAC, J. (dir.). La mort et l'immortalité. Paris: Bayard, 2004.

8 comentários:

  1. oi, professor. Gosto da sua reflexão. Na ultima semana interramos duas pessoas em nossa comunidade de fé(evang.Menonita). Mesmo diante da certeza espiritual da nossa mordamia existencial, que somos uma dadiva de Deus e que ele pode dispor da nossa vida quando, como e onde fizer; ainda nos causa tristeza e choro esse momento de partida. Como vive no aparente sem se apegar ao sentimento de realidade? Como objetivar um transcendente se vivemos o presente? Olha é por esses questionamentos e pelas certezas que a espiritualidade tem me respondido que vivo uma existencial de dualidades e de busca por misericordia e luz.

    Em Cristo

    Valéria Alvarenga
    Mestra em Ciencias da Religião ( pense no orgulho que tenho disso)

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  2. Olá! Não, não queria pensar nisto agora, mas... já que houve o convite, resolví assistir o vídeo.
    E quando percebí, estava eu cebolando os entes que partiram, é como se passase em um filme. Pois é, o momento é propício, e acredito que a morte é o momento de reflexão da vida.Na qual nos debruçamos a perguntar: de onde viemos, para onde vamos? É amigo... ainda não pensei em epígrafe como vc, mais já acalentar uma reflexão no momento para mim é o suficiente. Para mim este é um sentimento muito profundo e me trás recordações distantes.Pois é, deixo-o nas mãos do Pai e obrigada por nos proporcionar este momento!

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  3. Durante muito tempo tivemos a impressão de que a morte era uma etapa distante da vida e sem solução aparente. Essas idéias ocorriam porque todas as religiões falavam da morte como uma “coisa bela”, cheia de esperança e quase feliz. Mas vemos pessoas chorando e até entrando em estado de alucinação pela perda de um ente querido. Por isso, resolvemos investigar a fundo a realidade da morte e alguns personagens históricos e descobrimos que a morte tem seu lado místico.
    A história recente registra um grande número de artistas, músicos, pensadores, figuras do meio eclesiástico, homens e mulheres anônimos que enfrentaram a morte de maneira inusitada. Para quem morre fica o legado da sua obra, perguntas sem resposta e uma certeza: diante da morte todos somos iguais o problema é como a ela encaramos.
    Temos no nordeste a figura mítica de Pe. Cícero e Luiz Gonzaga: este último deixou um legado inesquecível na música e na nossa cultura. Quem esquece a Triste Partida, A Prece a Nossa Senhora, O louvor ao Papa João, reconhecendo o valor histórico de João XXIII? E o cantor Tim Maia, figura polêmica que recebe no dia de finados milhares de visitas no seu túmulo. Impossível não pensar no lado místico da morte ao ouvir: “ah se o mundo inteiro me pudesse ouvir tenho muito prá contar dizer que aprendi. Que na vida à gente tem que entender que uns nasce prá sofrer enquanto outro ri”. E como esquecer Vinícius de Moraes com seu lado poético e boêmio. Numa das viagens de volta da Unicap, descobrimos numa leitura que até sobre a morte o músico pensou, deixando-a envolto num misto de desencanto, inquietude e irreverência: “Ela virá me abrir à porta como uma velha amante sem saber quem é minha mais nova namorada”. O que dizer sobre a figura de Renato Russo, seus poemas e músicas que marcaram gerações. Quando ouvimos o artista até parece que ele está em nossa frente declamando, curtindo conosco, interpelando-nos ou mesmo nos fazendo crer que a vida termina logo ali, ali, ali aonde? Ali, sem endereço, sem conclusão, sem caminho e talvez só com chegada. E o que dizer de Irmã Dorothy Stang, filha das irmãs de Notre-Dame, a incansável defensora dos pobres? Como foi assinada? O que significou sua morte? O que comentar no dia de finados, ao pensar sobre a morte e lembrarmos-nos de D. Távora e D. Hélder. O primeiro completaria cem anos de vida em 2010 – caso estivesse vivo – com uma passagem nesse mundo permeada de lutas, encantos, alegrias e deixando muita saudade. E o segundo: quem esquece a figura de estatura baixa e voz imponente? Desafiou as estruturas sociais e religiosas do seu tempo impondo ao Brasil e ao mundo a certeza de que vale a pena lutar pelos humildes, defender os fracos, sonhar com mudanças que ajudem o ser humano a ser mais solidário. Será que a morte calou sua voz profética? Achamos que não. É constante o desafio do ser humano perante essa realidade da sua existência. Mas insistimos que a morte tem seu lado místico. Vou continuar essa reflexão...
    Pe. José Soares de Jesus.
    Mestrando em Ciência das Religiões na UNICAP.

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  4. Continuo a pensar sobre a Mística da Morte...
    E para as religiões o que é a morte? Sem dúvida temos tantas filosofias e doutrinas que se arriscam desde a antiguidade a pensar e dizer algo sobre ela. Na verdade, cada grupo religioso aponta uma solução imediata para a morte, diante da angústia que invade o ser humano. Só que muitas vezes não convence. Há muitos que falam em passagem, viagem e descanso eterno. Porque a questão em foco está naquilo que enxergam: consolar seus adeptos que perdem pessoas queridas. Ao passo que a mística da morte indica outra reflexão. As religiões devem preocupar-se em ajudar seus seguidores a viverem e serem melhores. Mais tolerantes, amáveis, compassivos – como sempre preconiza o budista tibetano Dalai-Lama – car idosos e cheios de ternura. Tudo isso porque a morte não está lá, não está além, nem amanhã e nem no futuro. Nós convivemos todos os dias com a vida e a morte. “Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão. Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15, 19-20). Somos seres desejantes e queremos sempre mais: queremos sonhar mais, viver mais tempo, alcançar nossos objetivos e superar nossos limites. Nessa condição está o lado místico da morte. Só ela pode nos fazer enxergar nossa finitude e também nos impulsionar para existir com mais alegria, com mais entusiasmo e sempre descortinando as barreiras do impossível. Para o ser humano o impossível não existe. O que prevalece é sua vo ntade de ser feliz e eterno. E é justamente a morte que se coloca – não como conceito ou resposta religiosa obsoleta – no caminho da sua realização definitiva. Por isso ela possui seu lado místico. Só pela mística enxergamos o morto vivo. O feio passa a ser bonito. O diabo vira santo. O pecador torna-se virtuoso. A magia vira encanto e a decepção acalanto. Só o lado místico da morte consegue ser bálsamo dos angustiados.
    No dia de finados todos temos que postular alguma coisa e defender nossas crenças. Até os sem religião precisa fazê-lo. É inerente a nossa condição buscarmos resposta para nossas inquietudes. Desejamos encontrar na existência de alguém ou no além, alguma palavra ou gesto que abata nossa dor quase invisível. Preferimos chamar para o hoje da vida, aquele que a morte tentou vencer e acabou sendo vencida: JESUS CRISTO. Porque trazê-lo à tona? Ele encarna a experiência vital de milhares de homens e mulheres que sendo cristãos não se conformam com a morte agora e crêem na plenitude da vida. “Não se perturbe o vosso coração! Credes em Deus, crede em também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não f osse assim, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós” (João 14, 1-2). É mais do que um texto histórico que se celebra nas igrejas cristãs pelo mundo inteiro. Trata-se de um itinerário a ser perseguido. Jesus encerra Nele a vontade humana de eternidade. Jesus se coloca como o caminho que desvenda o sentido da morte. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (João 14, 6). Enfrentemos essa condição indescritível da condição humana e creiamos na possibilidade de vencer nossas tragédias repetindo a máxima repetida pelos antigos antes de dormir: “Que o Senhor nos conceda uma noite santa e uma morte feliz”. Amém, Axé, Aleluia!
    Pe. José Soares de Jesus.
    Mestrando em Ciência das Religiões na UNICAP.

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  5. Num frio dia de dezembro, alguns anos atrás, um rapazinho de cerca de 10 anos, descalço, estava em pé em frente a uma loja de sapatos, olhando a vitrina e tremendo de frio.
    Uma senhora se aproximou do rapaz e disse:
    - Você está com pensamento tão profundo, olhando essa vitrina!
    - Eu estava pedindo a Deus para me dar um par de sapatos - respondeu o garoto...
    A senhora tomou-o pela mão, entrou na loja e pediu ao atendente para dar meia duzia de pares de meias para o menino. Ela também perguntou se poderia conseguir-lhe uma bacia com água e uma toalha. O balconista rapidamente atendeu-a e ela levou o garoto para a parte detrás da loja e, tirando as luvas, se ajoelhou e lavou seus pés pequenos e secou-os com a toalha.
    Nesse meio tempo, o empregado havia trazido as meias. Calçando-as nos pés do garoto, ela também comprou-lhe um par de sapatos.
    Ela amarrou os outros pares de meias e entregou-lhe. Deu um tapinha carinhoso em sua cabeça e disse:
    - Sem dúvida, vai ser mais confortável agora.
    Como ela logo se virou para ir, o garoto segurou-lhe a mão, olhou seu rosto diretamente, com lágrimas nos olhos e perguntou:
    - Você é a mulher de Deus?

    Na data de hoje, Dia de Finados, é bom relembrar: a vida é curta, quebre regras, perdoe rapidamente, beije lentamente, ame de verdade, ria à vontade, e nunca pare de sorrir, por menos importante que seja o motivo. E lembre-se que não há prazer sem riscos. A vida pode não ser a festa que esperávamos, mas uma vez que estamos aqui, temos que comemorar bem !!! Aprecie a Vida sem qualquer moderação ...
    Para os que já se eternizaram, as nossas reverências com muito amor.

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  6. Escrevi algumas linhas à respeito de um assunto que, para alguns do senso comum, ou não, assusta e não é lá tão interessante.
    Trata-se da morte. Este final ou começo, sei lá. “Ela está caminhando ao nosso lado”, como disse certa vez o digníssimo Raul Seixas.
    O que me parece, na verdade, é que ela nos faz alguns testes. As vezes provoca desânimo, depressão, nos coloca diante dos problemas físicos, dos sofrimentos físicos sociais. Mas está por aqui, sempre nos arrodeando feito bambolê de criança, com um ar que se mostra diferente. Até que nos arrebata.
    Vinícius de Morais pronunciava em seu Soneto de Fidelidade: “(...)E assim quando mais tarde me procure / Quem sabe a morte, angústia de quem vive (...) É a morte vista de maneira bela mas, problemática: angústia de quem vive (se bem que as vezes o Homem moderno ou pós-moderno nem tem tempo para sentir esta angústia).
    Lembrando do filme Nós que aqui estamos por vós esperamos, veio em mente um outro cemitério: o de Limoeiro. Há uma frase (que propositadamente foi colocada na parede interna) que diz: “aqui todos são iguais”. Esta frase nos remete a uma reflexão: aqui onde? No cemitério, onde todos estão deitados sepultados? Ou aqui no plano social, econômico, etc.? Prefiro contextualizar e ficar com olhar do ambiente dos que partiram e pensar que a igualdade tão almejada, cantada, buscada em textos bíblicos ou nas utopias comunais, está concretizada neste estado graças a ela: a morte.
    Tragados que seremos, para o paraíso judaico-cristão, islâmico cercado de virgens, budista, hindu com reencarnações animais ou não, espíritas reencarnadoras de outras pessoas, o que sabemos é que esta caminhada está colorida de situações e justificativas.
    De uma forma ou de outra devemos dizer: Espere um pouquinho que já, já eu vou.

    Mauro Azevedo pensofilosofia@bol.com.br

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  7. Muito bom o filme. Somente me assustei com as cores dos túmulos. Foi chocante. As diferenças de túmulos por situação econômica ainda me assusta.

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  8. O funeral, na multissecular cultura negra africana, é uma ocasião propícia, que mobiliza e reúne todos os membros de uma tribo. Quer morem perto ou longe, trabalhem na cidade ou na roça, este momento privilegiado constitui para todos um apelo a retornar à aldeia do falecido para participar do seu cerimonial fúnebre. O funeral representa uma “festa” que tradicionalmente faz parte do cotidiano das tribos. Elas vivem ao ritmo de tais cerimônias, como vivem também ao ritmo da estação das chuvas e do trabalho agrícola.
    Sua repetida celebração permite ao grupo social redefinir continuamente o projeto de vida e de se renovar, purificando sua relação com ela. Assim ensina o provérbio: “A esteira da morte está estendida em frente de todos os humanos”. Então, participar dos funerais é obrigação que se impõe a todos os membros da tribo, sobretudo se há laço de parentesco com a pessoa falecida.
    A comunidade deixa seus afazeres domésticos ou a roça e ruma ao lugar da celebração das honras fúnebres. Em geral, as famílias não têm dinheiro para custear as despesas com o tratamento de um doente, mas, quando alguém morre, elas se endividam para satisfazer às obrigações lutuosas.
    Adeus ao defunto
    Um ancião enche uma cabaça com vinho de palma (bebida natural, extraída de determinada palmeira) e derrama o conteúdo no fundo da cova, ao invocar todos os ancestrais, chamando-os:
    “Venham, eis aqui vosso vinho, bebam e nos protejam e a todos os habitantes da aldeia”. Depois de colocar o defunto na cova, e antes de cobri-la com terra, outro ancião se aproxima e, em nome dos habitantes da aldeia, dá o adeus ao falecido. Eis que este é o momento exato em que o espírito do falecido se desintegra do corpo e parte para o lugar dos mortos.
    O ancião, então, diz em voz alta:
    “Yao! (nome dado a quem nasceu na sexta-feira), nós te damos nosso adeus; ignoramos quem te matou. Se foi o firmamento (divindade local) que te chamou, vai em paz; todavia, se foi um inimigo, mata-o e leva-o contigo ao lugar dos mortos”. Em seguida, começa-se a cobrir de terra a cova, de maneira superficial, porque é esta primeira camada de terra rasa que estará em contato com o cadáver. E, como ela ouviu o derradeiro adeus, feito pelo ancião, e viu todas as suas ações, relatará ao defunto a verdade por inteiro.
    Dizem os nativos:
    “em vida, pode-se enganar os outros, mas com a morte tudo se esclarece, não há mais mistério para o finado”. Para concluir este ritual, os anciãos e “os coveiros” se reúnem em torno da vala para beber o resto do vinho de palma e depois retornam às suas casas. Na entrada da aldeia, acendem uma fogueira e passam pelas chamas os instrumentos de trabalho, a fim de purificá-los dos vestígios da morte. Pelo mesmo motivo, lavam as mãos e os pés em um recipiente com água misturada a folhas e ervas medicinais...

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