Suor e muito esforço. Esses são os verdadeiros sinônimos do trabalho que, por sua vez, gera emprego e renda. Mas existe um símbolo que representa o resultado de uma vida repleta de tarefas e, ao mesmo tempo, é o objeto de desejo de boa parte da sociedade capitalista mundial: o dinheiro. Os caminhos entre o capital e o religioso foram discutidos na conferência “Economia e vida: o simbolismo religioso do dinheiro”, do professor do Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP, Drance Elias da Silva, na noite desta terça-feira (9), no auditório do CTCH.
Uma das polêmicas do encontro foi o caso das doações em dinheiro de fiéis para sua igreja ou congregação religiosa de origem. Elias da Silva lembrou de um passado pouco recente, a Idade Média, na qual, a Igreja Católica, acostumada com as trocas de objetos e alimentos, condenava o uso do dinheiro para gerar dinheiro. “Ser pobre sempre foi algo recomendado pela Igreja naquela época. No cristianismo da Idade Média a riqueza era associada ao diabo e outros elementos negativos com o argumento principal de que o dinheiro não produzia por si mesmo, pois era estéril”, disse.
De objeto de especulação por não gerar riquezas ou distribuição de renda, o dinheiro, com o passar dos anos e o crescimento de novas Igrejas, sobretudo protestantes, passou a representar, pelo gesto da doação, um ato de fé. “Nos rituais neopentecostais, o dinheiro é apresentado, nomeadamente, como uma ferramenta de Deus. Ao desprender-se daquilo que o impede de ofertar, o fiel revigora-se com o poder superior, que o abençoará com abundância. Trata-se de uma verdade inerente a uma determinada práxis religiosa, a qual, sem dúvidas, encanta”, afirmou o professor.
Engana-se aquele que restringe o estudo da teologia apenas aos fenômenos religiosos. O professor Drance Elias da Silva propôs soluções na utilização do dinheiro, a exemplo da instrumentalização do capital para a distribuição de renda. “Nós mesmos, às vezes, fazemos compras numa grande rede estrangeira de supermercados que fica longe de nossa casa. Poderíamos, entretanto, ser adeptos da economia solidária. Ou seja, você pode comprar num mercadinho ao lado de sua casa, no seu bairro, e gerar riquezas na sua comunidade”, defendeu.
E foi nesse sentido que a conferência destacou os dados do relatório da “Situação Mundial das Cidades 2006/2007” do Programa da Organização das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UM-Habitat), divulgados recentemente no Jornal do Commercio. Pois, sem a distribuição de renda, fenômenos sociais, como as favelas, poderão dominar a paisagem das cidades dos países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Com taxa de crescimento de 1,78% ao ano, o número de habitantes das cidades passará, em 2007, para 3,27 bilhões, dentro de uma população de 6,45 bilhões. Até 2030, 5 bilhões de pessoas viverão nos centros urbanos. Em contrapartida, a população rural deverá crescer em ritmo menor, em torno de 0,32%, perdendo 155 milhões de pessoas nas próximas décadas.
“Frente à iminência de tal realidade, podemos afirmar que, em face da pobreza das populações, as religiões tendem a prosperar. Esses dados com certeza indicam que os marginalizados estão ficando social e culturalmente para trás, mas também que tal realidade é terra fértil para o aparecimento de novas formas de religiosidade e aprofundamento e dinamização das que já existem”, refletiu Drance Elias. Durante a conferência ainda foi exibido o filme do pré-lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, que trata justamente do uso cristão do dinheiro.
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