8 de set. de 2009

EXCLUÍDOS FAZEM GRITO EM PAZ

Publicado pelo Jornal do Commercio, em 8/9/09
Na chuva, no sol e na paz. A 15ª edição do Grito dos Excluídos no Recife transcorreu ontem sem conflitos com a Polícia Militar. Ao contrário do ano passado, em que manifestantes foram barrados na Avenida Conde da Boa Vista pelo Batalhão de Choque, o trajeto da Praça Oswaldo Cruz ao Pátio do Carmo foi cumprido das 10h às 12h, com patrulhamento militar, mas sem atritos.
Organizado pela Conferência dos Bispos do Brasil e seguido em todo o País por movimentos sociais, partidos de esquerda e vítimas de exclusão, o grito contesta a comemoração oficial da independência. A versão recifense contou com o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, 62. “Onde estão as ovelhas deve estar o pastor. O tema do grito, a transformação pela organização popular, é verdade absoluta. Desafios se tornam pequenos quando juntos buscamos soluções”, disse, debaixo de chuva, num trio elétrico e aplaudido pelos manifestantes. Ele condenou o desemprego e pediu moralização na política. No ato também estavam religiosos assíduos na defesa dos oprimidos, como frei Aloísio Fragoso e o padre casado Reginaldo Veloso, perseguidos pelo antigo arcebispo, dom José Cardoso.
O babalorixá Luiz Carlos Silva, Pai Lula de Oyá, representante de religiões de matriz africana, abriu as falas oficiais do grito. Pediu respeito ao candomblé, que ainda é visto como seita, aos negros, índios, prostitutas e homossexuais. Presbiterianos, anglicanos, sindicalistas e outros deram sequência. Lá estavam Jaime Amorim, do MST, querendo terra para 240 mil, a Rede Tecendo Parcerias, contrária à redução da maioridade penal, o Movimento de Trabalhadores Cristãos lutando pela tarifa social da conta de luz, a central sindical Conlutas pedindo o fim do Senado, ativistas do meio ambiente, professores querendo piso salarial, médicos exigindo que recursos do pré-sal sejam destinados às políticas públicas, homossexuais contra a homofobia, movimentos dos sem-teto pedindo políticas habitacionais e aposentados.
Ao grito compareceram antigos militantes, como Edival Nunes Cajá, 58, preso pela ditadura militar. “É a conquista da luta popular. Não temos ainda a total democracia do povo, mas também não estamos na democracia dos mais ricos”, comentou, avaliando a liberdade dos movimentos na rua. O ato contou também com a voz dos mais jovens, como Camila Santana, 21, estudante de ciências sociais e que segurava cartaz pedindo a revisão da condenação do cacique Marcos Luidson, líder indígena xucuru do Ororubá, responsabilizado pela revolta popular de sua comunidade ao atentado que sofreu há seis anos. Não compareceram dez mil pessoas como se esperava. Para Rosana Reis, da coordenação do grito, cinco mil devem ter participado. A redução de militantes foi resultado dos conflitos do ano passado, avaliou. A paz de ontem foi atribuída à conversa prévia com o governo.

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