15 de fev. de 2009
PLURALISMO RELIGIOSO, POR CLAUDE GEFFRÉ
Por Rebeca Kramer, para o Boletim UNICAP
"Eu sou crente. Eu creio que Deus existe.Mas eu não tenho a pretensão de possuir Deus. Ninguém possui a Deus" (Pierre Claverrue, Bispo da Argélia)
No auditório, muita gente curiosa. Quem é esse homem tão comentado no mundo da teologia como um dos maiores teóricos da atualidade? Esse homem brilhante, como assim definiu o Padre Jacques Trudel, chama-se Claude Geffré. Com a tradução simultânea de Cláudio Vianney Malzoni, a Universidade Católica de Pernambuco promoveu a conferência intitulada: “A revolução diante do pluralismo religioso”, às 19h desta quinta-feira (12), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH). A palestra tinha por objetivo interpretar e refletir a relação existente entre as religiões e a importância de cada uma delas para o mundo.
O teólogo Claude Geffré, que é membro do Comitê Científico da Revista Internacional “Concilium”, diretor da coletânea “Cogitatio Fidei” e, além disso, professor do Instituto Católico de Paris, também já foi diretor da Escola Bíblica de Jerusalém. Segundo o professor de teologia da Católica Marcos Almeida, a mente aberta do teórico teria lhe propiciado muita experiência positiva: “Claude pensa a pluralidade religiosa a partir da contemporaneidade, que vai desde a exclusão religiosa, até o combate à guerra. Debate questões místicas sem preconceito e como todos os tipos de religião atuam na vida das pessoas”.
Nas palavras de Geffré, “É preciso encarar esse desafio de pluralidade religiosa. Estamos no século 21, em que há um pluralismo religioso com o mito de Babel tornando-se cada vez mais verdadeiro. Deve haver um bom pluralismo, aquele em que a sociedade aceite que haja uma busca comum da verdade. Assim como em Babel se falavam várias línguas, o exercício das diferentes religiões presentes em todo o mundo também podem ser bênçãos de Deus.” Dessa maneira, o teórico resumiu a ideia de uma teologia da religião em que o foco não seja o pecador ou o pecado, mas sim a importância que as outras religiões têm em si. Afinal, o respeito às outras doutrinas seria a melhor maneira de escapar do pensamento de ser um proprietário de Cristo ou de sua graça. Ele propõe, dessa maneira, uma teologia inter-religiosa, reinterpretativa dos principais dogmas do cristianismo.
De acordo com Anderson Magno (26), estudante do Instituto Sedes Sapientiae e graduado em Filosofia, a teologia deveria surgir para amadurecer o conceito de fé. A fé, hoje, seria viver no fanatismo e olhar o mundo através de uma só ótica. “As pessoas deveriam saber viver num mundo de diferenças, ter personalidade para permanecer com sua ideologia de fé e sem interferir na liberdade do outro”, afirmou Anderson. Para a Irmã Consuelo Tavares, beneditina missionária, um grande defeito do homem seria sua incapacidade de enxergar o que interessa ao outro, em outras palavras, a prática do princípio da alteridade.
Para quem pôde conferir o discurso de Geffré, muita ideologia foi, por ele, desmistificada. Ao final da palestra, por volta das 21h30, abriu-se espaço para as perguntas do público e as considerações finais do Reitor da Universidade, Padre Pedro Rubens. Uma dessas perguntas, inclusive intrigante, foi a seguinte: “O Papa e seu Vaticano são essenciais à Igreja e ao cristianismo”? Geffré respondeu que Não, mas que havia muitas formas de Cristianismo, como no caso do catolicismo. “Não se deve ver Jesus como o fundador de uma religião, mas como um caminho para se chegar a Deus. É possível falar em um ‘cristocentrismo’ e haver uma abertura para a discussão entre outras religiões. Se o Cristianismo pode dialogar com as outras religiões é porque ele entende suas próprias limitações”. E assim, indagou: “Quem sabe o pluralismo não seja um desejo secreto de Deus?”. Nós somos acostumados a uma lógica de verdadeiro e falso. Não conseguimos ver a possibilidade de haver uma verdade e outra e outra e outra, complementou o teólogo.
Durante a conferência, foram vendidos exemplares da Revista “Concilium” e do livro de Claude Geffré em português: “Crer e interpretar- A virada hermenêutica da teologia”, com a tradução de Lúcia M. Endlich Orth, ao preço especial de R$ 30,00.
VEJA O ARTIGO PLURALISMO SEM RELATIVISMO, QUE O JORNALISTA JURACY ANDRADE PUBLICOU NO JORNAL DO COMMERCIO DE 21/2/09, SOBRE A CONFERÊNCIA DE GEFFRÉ.
VEJA TAMBÉM A SEGUIR UM TRECHO DA CONFERÊNCIA:
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