18 de set. de 2013

FÓRUM DEBATE XAMANISMO


...
Vídeo de Luca Pacheco para o Observatório das Religiões, texto de Camila Moura no Boletim UNICAP,
fotos de Eduardo Tenório.
...
O xamanismo foi tema da reunião do Fórum Inter-religioso, na tarde desta segunda-feira (16) na UNICAP. O encontro sobre essa prática religiosa, que mantém relação do sagrado com estados alterados de consciência, realizado no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), teve como palestrantes a xamã (sacerdote do Xamanismo), Regina Oliveira, e a professora de história e mestranda em Ciência da Religião, Andréa Caselli (veja aqui a sua apresentação do movimento religioso).

Assim como as outras sessões, promovidas pelo Fórum, o momento foi utilizado para debater e desmistificar os rituais religiosos. “Nós temos aprofundado não apenas as grandes religiões, mas buscamos compreender o que há de experiência do divino nos diferentes grupos”, frisou o coordenador do Mestrado em Ciência da Religião e organizador do evento, Gilbraz de Souza Aragão.

A história do xamanismo, como este surgiu e como é tratado aqui no Brasil, foram alguns dos pontos abordados durante o evento. Para que a plateia pudesse entender melhor a doutrina xamânica, foi apresentado um vídeo, produzido pelo mestre em Ciência da Religião e produtor audiovisual da Unicap, Luca Pacheco, mostrando a rotina dos xamanistas do Espaço Sagrado da Grande Mãe, localizado em Vitória de Santo Antão.

O xamanismo, que surgiu no paleolítico, é uma das manifestações espirituais mais antigas e não pertence a um determinado povo ou cultura: está nas estruturas mas básicas das religiões. A sacerdotisa da Ordem Mística Xamânica, Regina Oliveira, destacou algumas características das práticas xamânicas. “O xamanismo não tem lideranças, não existe uma política, ocorre sim a relação diretamente do homem com a natureza.”

A xamã, também relatou a onipresença de rituais como o totemismo, que baseia-se na crença da influência de animais e plantas sobre determinado grupo de pessoas, em diversas religiões. “Ele está em todas as religiões porque o xamanismo é a base de todas as manifestações religiosas.”

A palestra foi encerrada com uma vivência de tambores xamânicos, tocando algumas músicas da crença para que a público conhecesse como é o trabalho xamânico. Para a palestrante Andrea Caselli a possibilidade proporcionada pela Universidade Católica de Pernambuco de debater um ritual religioso que é pouco divulgado permite acabar com preconceitos. “A partir do momento em que um ser compreende a cultura e a religiosidade do outro, o respeito inter-religioso acontece.”





9 comentários:

  1. Estive no fórum e não tive coragem de fazer umas perguntas, que aproveito pra fazer aqui, mas no espírito de respeito e apreço pelo caminho espiritual do grupo... Trata-se da gente se entender e se ajudar...
    Mas, por que os símbolos rituais e totêmicos usados fazem referência sempre aos indígenas dos Estados Unidos (parece os caboclinhos do nosso carnaval, que se vestem que nem índios americanos), quando os nossos índios também têm ritos e mitos que podem e devem ser resgatados (inclusive com rituais de iniciação mais conformes ao nosso clima do que aquela tenda quente)?!
    A gente que lê a bíblia judaico-cristã vê toda uma luta dos profetas contra as antigas religiões da natureza, As antigas religiões foram acusadas pela bíblia de "oprimir" as pessoas. O ser humano era escravo e submisso ao horóscopo, aos cultos dos animais e às estações. Além disso, legitimavam os impérios e ditadores (o faraó era filho do sol, o rei da Babilônia era divino e mais tarde o imperador de Roma também). E todo o trabalho dos profetas foi libertar o povo dessa sujeição aos elementos naturais e à fatalidade da ordem considerada natural. Não é meio ingênuo voltar a sacralizar a natureza?

    ResponderExcluir
  2. ó, a primeira questão eu não sei, acho que eles teriam de pensar... mas a segunda não cabe, basta lembrar direito da apresentação, rapaz: o Xamanismo atual parece ser todo em função das pessoas e não ter nada dessa servidão fatalista. é comunhão com a natureza e não submissão acrítica...
    Tibúrcio Lira.

    ResponderExcluir
  3. Também acho que a mística da natureza do pessoal não é um retorno, sem mais, às velhas religiões pagãs e à sua dependência das forças cósmicas. Aliás, quando vi o filme Avatar eu refleti um pouco sobre essa retomada do caminho da natureza nas espiritualidades contemporâneas: http://crunicap.blogspot.com.br/2010/08/avatar-velha-encarnacao-do-futuro.html

    ResponderExcluir
  4. Professor, ouvi sua palestra hoje aqui na Federal de Juiz de Fora, sobre as inovações nas religiões, e logo vim ver o blog que o senhor falou. Gostei muito e fiquei atraída por essa notícia do Xamanismo, que eu pesquiso. Não sei como é aí no Recife, mas por aqui muito que se chama Xamanismo Urbano são práticas de cura dos índios norte-americanos, trazidas para cá por pessoas da New Age... (Marcela).

    ResponderExcluir
  5. o termo xamã vem das culturas turco-mongólica e tungúsica, na Sibéria. o xamanismo tradicional só existe, portanto, na Rússia - é preciso viajar no "trans-siberiano" pra encontrar um xamã autêntico, que te cura e te faz viajar pra outros estados de consciência... mas mesmo lá, em cidades como Moscou e São Petesburgo, os elementos xamânicos pagãos são associados à mentalidade da Nova Era, à mitologia eslava e até às figuras cristãs... se lá mesmo é assim...
    Marconi.

    ResponderExcluir
  6. Mircea Eliade em “O xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase” é quem destaca o xamanismo siberiano como uma prática xamânica tradicional tão complexa, que decide estudá-la mais a fundo; porém não se trata da mais tradicional ou original. Inclusive, no decorrer do livro, ele aponta que: “Tal Xamanismo stricto sensu não está restrito Ásia central e setentrional, podemos encontrar isoladamente, certos elementos xamânicos em diversas formas de magia e de religião arcaicas” (ELIADE, 2002, p.18). Inclusive, o próprio xamanismo asiático não é isento de influências externas, pois possui uma longa história. Quem esteve na palestra teve a chance de apreciar o que eu falei sobre o fato do xamanismo ser um produto do hibridismo cultural/religioso nas sociedades globalizadas. O xamanismo cobre experiências de cura de ancestrais primitivos e indígenas ao redor do mundo, pois envolve práticas desenvolvidas no paleolítico. A busca pela harmonia com a natureza não é um fim em si, mas a forma saudável e profunda de aprimorar todas as relações.
    O xamanismo norte-americano é bastante difundido devido principalmente ao ambiente de livre mercado nos Estados Unidos, o que muito facilita, na contemporaneidade, que os lakotas, cherokees e outros grupos viajem mundo afora ensinando suas culturas e valorizando suas medicinas xamânicas. As leis norte-americanas que protegem a propriedade privada e a proteção às reservas também favoreceram que, na última década, os índios pudessem lançar mão de recursos dos grandes bancos e fundos de investimento americanos. Atualmente muitos representantes indígenas são donos de redes de cassinos, postos de gasolina, shopping centers e atrações turísticas. A prosperidade dos índios americanos é ainda mais surpreendente quando se considera que três décadas atrás eles ainda faziam invasões armadas em áreas que pertenceram a seus antepassados, como Wounded Knee - em Dakota do Sul - para exigir mais atenção do governo. Hoje, eles compram terras em lugar de invadi-las. Assim, fica claro o exemplo de que o crescimento de uma religiosidade pode também estar atrelado à condição econômico-social de seus praticantes.
    O xamanismo vivenciado no Brasil insere em seu contexto as práticas norte-americanas, peruanas, bolivianas, celtas, siberianas... Mas não deixa de exercer os ensinamentos dos indígenas locais, também valorizando as diversas tradições das tribos brasileiras e as demais religiosidades que possam ser inseridas na prática.

    ResponderExcluir
  7. Regina e Hugo24 setembro, 2013

    Saudações a todos e todas. É um prazer poder usar esse canal de comunicação para estender os diálogos sobre xamanismo, xamanismos, ou práticas xamânicas, que iniciamos com uma pequena palestra na Universidade Católica de Pernambuco, em seu grupo de estudos religiosos. O xamanismo, ou os Xamanismos, é (ou são) um apanhado teórico e prático constituído das diversas práticas de relação das comunidades humanas no mundo. O Trabalho do Antropólogo Michael Harner, um dos responsáveis pela formatação do que se convenciona chamar xamanismo, que iniciou-se com o estudo dos povos Jivaro , habitantes dos andes e do Equador, construiu um novo paradigma para o fértil solo dos holistas do New Age, que percebiam e lutavam contra o desamparo de uma sociedade antropocêntrica, androcêntrica e adultocêntrica. Harner abriu o caminho teórico e vivencial que seria pavimentado por tantos outros cientistas como a médica Jeanne Atchterberg, ou o físico Patric Drouot, entre tantos... Esse caminho teórico e mágico inspirou indivíduos sensíveis a buscar elementos e ensinamentos tradicionais, em tantas e tantas tradições, em várias partes do mundo. É bem verdade que, considerando que algumas tradições se mantiveram bem mais preservadas e acessíveis que outras, como é o caso do Xamanismo Sioux (Um dos povos que viveram na America do Norte) se encontre mais informações sobre essas tradições. Esclarecer essa questão se faz importante, especialmente porque historicamente os discursos sobre tradições foram, e por vezes ainda são, inconsciente ou conscientemente, usados de forma nacionalista. Essa não é a tônica do Xamanismo, especialmente do xamanismo universal. Para um xamanista a cultura da tradição com a qual trava contato não é mais importante do que o fenômeno estático e curador em si. As praticas xamânicas são basicamente as mesmas em todos os povos, como a Sauna Sagrada, que é uma prática existente em todos os continentes de nossa Terra. A título de informação, o nosso grupo, a Ordem Mistica Xamânica Buscadores da Divina Luz, usa práticas e elementos oriundos do xamanismo Sioux, Cherokee, Andino, Romani, Amazônico, Africano, kahunas havaianos, Xucurus e Fulni-O, celta, Bon Po tibetano, hindu, nórdico, sem contar práticas constituídas por Neo Xamãs brasileiros e estrangeiros. E toda essa aparente miscelânea incongruente se combina perfeitamente a partir da apreensão fenomenológica e essa é uma característica marcante do Neo xamanismo. Como exemplo dessa miscelânea possível cito o uso de instrumentos de tradição Sioux, Pueblo e Cherokee ( tambores) e Andinos e Fulni-Os (maracas) durante nossa apresentação.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Regina e Hugo24 setembro, 2013

      Quanto à questão politico-filosófica e de afiliação religiosa feita sobre a ética, moral e maturidade da práxis xamânica, faz-se importante lembrar de que, como foi dito na palestra, o xamanismo não é uma religião. Na verdade, historicamente falando, o inicio do declínio do xamanismo tradicional, no qual o xamã é a ponte entre os mundos espirituais e materiais e atua como um curador, professor e conselheiro para sua comunidade, se dá a partir da utilização dos serviços do xamã pelos impérios (Ásia, América do Sul, Mesopotâmia, Egito, Turquia, etc..). Nesse momento histórico o xamã começa a perder sua autonomia política e passa a ser sacerdote. Muitos xamãs foram mortos pelos grandes impérios por não aceitarem ser subjugados e utilizados como arma politica de contenção de massas, justamente porque todo xamã é um servidor da comunidade e não uma ferramenta de manutenção de hegemonias.
      Nós, neo xamanistas, xamanistas urbanos, xamanistas universais, não vivemos a perseguição politica, que depois veio a se tornar religiosa, das potencias politicas e militares da Idade Antiga, mas vivenciamos o que a dessacralização da vida presente, do Aqui e Agora, engendrada por um positivismo capitalista clássico e com a conivência de uma Igreja conformada com a sacralização de uma vida “no porvir” pode causar na sociedade, na humanidade. Os xamanistas se colocam eticamente e politicamente a favor do respeito incondicional à vida, e para nós tudo tem vida. Acreditamos que somos parceiros de todos os indivíduos que agem a partir dessa lógica, independente de sua afiliação religiosa. Um bom exemplo do nosso bom convívio é a participação constante de xamãs tradicionais (Tribo Potiguar), neo xamãs e xamanistas no Encontro para a Nova Consciência, que, a mais de uma década, vem sendo realizado aqui no Nordeste, em Campina Grande, na Paraíba. Nesse lugar variadas tradições religiosas se sentam para discutir. "Dizia uma profeta índia que, quando não houvesse mais condições da humanidade viver na Terra de forma ingrata e destruidora, surgiria uma tribo nova, formada por pessoas de todas as cores e raças, e essa tribo iria ir até o Povo Vermelho (indígenas) e reaprender as tradições e iria salvar a Terra". Acreditamos que todos os que despertam para uma nova consciência de unidade e ressacralização do viver, para ser o "Sal do Mundo", são nossos irmãos, são os Guerreiros do Arco íris. Nós, sacerdotes da OMXA, assim falamos.

      Excluir
  8. Midgard - Bruxo11 setembro, 2014

    Que assim seja, E assim se faça!!

    ResponderExcluir

Obrigado pela sua participação!