Monet |
O site português da Pastoral da Cultura trouxe um post com texto do teólogo católico Maurice Bellet, sobre "Dezessete maneiras de rezar"... Selecionamos quatro aqui, pra começar:
Duvidar, duvidar de Deus intensamente
Duvidar, duvidar de Deus intensamente
o quê, haverá um Deus bom e todo poderoso
com toda esta crueldade na natureza
com a infernal crueldade humana
as crianças morrendo de fome, os explorados,
os neuróticos, os embrutecidos, os alcoólicos, todos os resíduos humanos?
É bela, a imagem de Deus!
E o que é Deus
senão pobre pequena ideia elaborada
no planeta em que somos
nada, no seio do universo brilhando
para dimensões inimagináveis
Objeções, objeções, agonia de Deus
no coração do homem de fé.
Ele respondeu cem vezes, mas trata-se de ausência
Pobre Deus em agonia
como o Verbo idêntico a Si no jardim das oliveiras
enquanto os seus melhores amigos dormiam…
Não é realmente nada pouco vigiar. Na sua agonia.
Nem as imagens nem o texto
Nem as imagens, nem o texto,
nem o lugar, nem a hora
nem a palavra que brota do coração
nem a repetição aborrecida e atenta
nem mesmo o silêncio
mas simplesmente o real
terrivelmente real e chão, as coisas, a superfície
a conversação sem finalidade
as tarefas, os lazeres,
comer, sonhar, dormir
e o sofrimento intolerável, indizível
de tal modo sofredor que nem sofremos
a espera nua do que deve vir ao mundo
para que a terra seja como o céu.
Ouvir música
Ouvir música
A Missa em Si menor de Bach, por exemplo,
especialmente Incarnatus, Crucifixus, Resurrexit
ou então outra coisa
não necessariamente música religiosa
mas escutar na profundidade
escutar o canto do novo Orfeu presente
em toda a música humana
encarnação, crucifixão, jubilação
Se pudermos cantar nós mesmos e tocar um instrumento,
é ainda melhor!
Desejar, desejar desesperadamente
Desejar, desejar desesperadamente
desejar até à dor e à angústia
até ao grande vazio amargo
desejar que seja de outro jeito
desejar o fim das crueldades
das loucuras, da estupidez, do abjeto,
desejar a satisfação, a luz, a ternura
ter muita fome, ter muita sede
do mundo diferente
e de si-mesmo diferente.
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