20 de jul. de 2013

OS PAPAS E O FUTURO DA IGREJA




O nosso mestrando em Ciências da Religião pela UNICAP, Luiz Gonzaga Penteado, chegou nesta semana a Aparecida-SP (de onde mandou as fotos acima) e encontrou centenas de jovens, vindos de diversos países da América Latina, para o encontro com o papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude. De fato, o Brasil todo tem recebido e enviado milhares de peregrinos rumo à JMJ no Rio, atraídos pelos ares humanizantes que a igreja católica começa a viver, pela imagem de um divino "fervor de caridade" que gente que nem o papa desperta ("quando eu tento imaginar Deus, eu o vejo em prece diante de mim", François Varillon, jesuíta). Ao mesmo tempo, recebemos de Eduardo, nosso ex-estudante nos Estados Unidos, o pedido de assinatura eletrônica de uma carta (veja aqui) que as comunidades querem enviar ao papa, solicitando que ele convide todos os católicos do mundo a, em união com o clero local, escolherem os seus próprios bispos - entre outras pautas para uma Reforma da Igreja.

Isso faz pensar nos desenvolvimentos complexos que, de repente, podem acontecer no mundo católico, com as mudanças no papado - e o clamor esperançoso do povo. Eu tive duas boas surpresas no pontificado do papa Bento: uma no começo e outra no final. Bento XVI falou de amor em sua primeira encíclica, “Deus é Amor”. O papa foi logo tratando de amor e surpreendeu, porque o tema e o estilo não combinavam com a sua figura austera e transcendental. Mas ele valorizou o amor como Eros, como desejo humano, e o associou ao Ágape, amor descentrado e divino, de quem dá a vida pela causa ou pessoa amada. Ele mostrou, então, que o amor erótico não é inimigo da santidade, equilibrando o caminho cristão para a humanização da vida da gente, onde as paixões devem ser integradas e não demonizadas.

Esse reconhecimento da transparência divina em meio à existência humana eu senti novamente na sua renúncia ao papado. Porque era de se esperar um hierarca que, mesmo sofrendo, fosse aferrado à sacralidade do cargo e o mantivesse resignadamente. Mas daqui pra frente o fato vai lembrar aos católicos que “a graça supõe a natureza”, que o Espírito de Cristo age através dos nossos corpos e conta com as nossas decisões (e limitações) frente aos conflitos da comunidade, frente às contradições da sociedade. Isso é uma equação teológica muito “moderna”, que tende a humanizar o papado e a estrutura da igreja católica.

A igreja católica romana tem um novo papa, o cardeal de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, que agora é chamado Francisco - e gosta de assinar como "bispo de Roma". Trata-se de um latino-americano de raízes italianas e que estudou na Alemanha. Jesuíta, também é ligado ao movimento Comunhão e Libertação: um grupo de religiosos e outro de leigos, todos compromissados com a defesa da fé e da justiça no mundo. Bergoglio foi discreto no enfrentamento da ditadura em seu país e é austero em questões morais, mas tem senso pastoral e sensibilidade espiritual, é um homem de oração e é dedicado aos empobrecidos e favelados. Andava de metrô e preparava a própria comida no apartamento onde vivia. Prega um cristianismo de misericórdia e de alegria. E a escolha do nome prenuncia um papa reformador, como Francisco de Assis.

Depois do teólogo, então, parece que agora vamos ter um papa simples e missionário, aos seus 76 anos. Não se proclamou Bento XVII, Paulo VII ou João XXIV, mas Francisco "Zero". Trouxe para o centro do poder eclesial o carisma reformador e missionário do santo dos pobres, que via as chagas de Jesus na humanidade. Francisco, o papa, deseja uma igreja de portas abertas, com cristãos que testemunhem uma vida simples e que tenham cuidado pelos mais frágeis, cuidado pela paz e pela natureza - um programa bem franciscano, com intuições humildes mas exigentes, para renovar a instituição que se complicou pela história afora e se conspurcou em abusos sexuais e financeiros. Francisco quer uma igreja descentrada, que busque a Luz de Cristo em meio às periferias geográficas e existenciais. E a radiação missionária dessa igreja peregrina, inculturadora e contracultural, vai exigir uma reforma da Cúria Romana, a restauração da colegialidade esgarçada pela centralização, a revisão da monoculturalidade litúrgica e administrativa do catolicismo.

Prevejo um homem disposto a ultrapassar o carnaval de modas e meneios barroco-kitsch que tem invadido as igrejas, um papado que vai enfatizar a missão cristã da caridade, sobre a qual há grande consenso nas comunidades católicas, e também poderá convocar uma discussão na igreja sobre o entendimento da sexualidade humana e do pluralismo cultural. O novo papa tem dado mostras de ser muito humano, o que vai ser decisivo para poder ajudar a religião cristã a assumir esses desafios dos tempos modernos, como também o diálogo simétrico com os outros caminhos espirituais, que tocam sons diferentes para sonhos iguais, ou a incorporação dos valores democráticos na dinâmica das comunidades cristãs, o que implica principalmente no empoderamento das mulheres e das suas causas.

Minha esposa acabou de dar à luz novamente e eu fico vendo como a mulher é que entende de espiritualidade, pois a grávida vive do futuro e se alimenta de sacramentos de um dia que ainda não nasceu: ela prepara o lugar, arruma o berço vazio, tece sonhos, e o "invisível" filho amado transfigura o seu corpo. A igreja deve ser mais assim: lugar pedagógico em que nos livramos das “gorduras” deste tempo e criamos espaço para a “eterna criança” nascer em nós. O feminino é que ensina você a se desentranhar e transformar um corpo em pão pra quem necessita. Então, a mulher precisa ser ouvida e valorizada pelos cristãos, também nas suas eucaristias e não somente na catequese e no cuidado das crianças. O futuro da igreja dependerá mais dos vislumbres místicos dessa evolução inclusiva da humanidade (afinal, "concretamente, não existe matéria nem espírito, mas somente matéria tornando-se espírito", Teilhard de Chardin, jesuíta)... E um papa santo e esclarecido pode ajudar a criar pontes pro mistério do "reviver" ou "mais viver" que se esconde aí, nas comunidades humanas de base, e na sua busca por sobreviver e conviver que nem gente!

Gilbraz Aragão.

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23 comentários:

  1. O momento é muito especial, acredito que a eleição de Jorge Bergoglio, como bispo de Roma, é UM SINAL DO ESPÍRITO SANTO, para a Igreja católica ! O mundo, as Sociedade, as pessoas, em especial os jovens, esperam desta Instituição, uma resposta, uma resposta de sinceridade, responsabilidade e santidade.
    O momento do barroco-kitsch já passou a muito tempo, pena que alguns ainda não entenderam isso
    Abraços prof.

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  2. Rapaz, você deve ser uma pessoa linda, mas é muito ingênuo: acha mesmo que uma casta de homens de sexualidade muito problemática (para não falar umas coisas mais sérias) vai dividir agora o poder com as mulheres (que a maior parte deles inconscientemente odeia)? Só por milagre mesmo!

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    1. há, há! brigado pelo "lindo" aí... "a beleza salvará o mundo"! quanto ao mais, como eu "boto fé" que toda a vida é um grande milagre, essas outras possibilidades daí são fichinhas, né não?! abraço!

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  3. “Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta ora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês.”
    Já vi papa com dedo em riste, na Nicarágua. Já vi papa contra os descontentos, no Chile. Já vi papa dando lições no primeiro dia de sua chegada num país que ele não conhecia. Nunca vi um papa "pedindo licença". Nunca vi um papa "batendo delicadamente" na porta de uma nação. "Deus seja louvado", diria nosso saudoso dom Luciano.

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  4. Tá quase todo mundo animado demais com esse papa. Verdade que ele tem dado sinais simpáticos de que quer colocar a igreja em dia com os tempos. Mas ainda precisa mostrar a substância mesmo disso, porque dizer que a igreja está do lado dos pobres, por exemplo, já se diz desde Leão XIII, mas na prática às vezes a teoria é outra... Continuo vendo "muito religião e pouca libertação", como dizia Libânio!
    Manoel.

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  5. O Papa Francisco falando de improviso aos jovens argentinos conclamando-os a irem às ruas. Condenou o clericalismo. Pediu desculpas aos padres e bispos pela confusão que isso poderia causar. Igreja não é ONG. As bem-aventuranças e Mateus, 25, não precisam de outra coisa. Façam confusão! Diz também que o que ele espera desta JMJ, é que os jovens e também os velhos incomodem as Dioceses e as abalem. Acho que ele quer mudanças. Eu preciso muito da oração de todos vocês. Não diminuam a nossa fé. Que a Mãe nos ensine a ir as ruas e a sairmos de nós mesmos. Senhor vós sois um escândalo. O escândalo da cruz e da humildade. Rezem por mim, não se esqueçam. De repente me surpreendi rezando junto ao aparelho de televisão. Deus queira que seja um início de um novo tempo...
    Adalberto.

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  6. O Papa Francisco acrescentou à anterior programação de Bento XVI para a JMJ, uma peregrinação pessoal ao santuário de Aparecida. Ali, em maio de 2007, participou da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e coordenou a redação do Documento de Aparecida.
    Irá como peregrino ao encontro de expressão antiga, mas muito viva do catolicismo brasileiro, pois Aparecida atrai mais de 10 milhões de romeiros por ano. É um catolicismo que deita raízes no passado, com seus santuários plantados à beira dos rios – os antigos caminhos coloniais – ou ao longo do mar, por onde se escoava o açúcar dos engenhos. (...)
    Esse catolicismo tradicional ganha rosto militante e libertador com as muitas Romarias da Terra e das Águas promovidas pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) ou com o XIII Intereclesial das CEBs que acontecerá em janeiro próximo no Juazeiro do Pe. Cícero, com o tema “Justiça e Profecia a serviço da Vida” e o lema “CEBs, romeiras do Reino no campo e na cidade”.
    No Rio, o Papa tocará o contraste de um catolicismo, que respaldado, na década de 30, por mais de 98% dos brasileiros que se declaravam católicos, sonhou com uma nova cristandade e erigiu no alto do Corcovado a estátua do Cristo Redentor, que devia reinar sobre a cidade e o país. Hoje o Rio é a capital estadual com o menor percentual de católicos e a maior porcentagem dos que declaram “sem religião”. Na sua periferia, os católicos viraram minoria frente aos fieis das Igrejas batistas e das muitas igrejas pentecostais. Passeando o olhar pelas favelas dos morros do Rio e na sua visita à Comunidade de Varginha, no complexo de Manguinhos, o Papa entrará em contato com uma franja do Brasil de mais de 100 milhões de afrodescendentes, mas terá ao seu lado nas missas, uma maioria de bispos e padres de origem branca e europeia, com escassa presença negra!
    Durante a JMJ, os 2 milhões de jovens que estarão com o Papa serão acompanhados ao vivo por vasta audiência no Brasil e mundo afora. Aqui reside outro rosto da Igreja, o de um catolicismo mediático, cuja face mais visível são os padres cantores e as redes católicas de TV: Rede Vida, Canção Nova, TV Aparecida, TV Século XXI, com fortes laços com a renovação carismática católica. Essas redes são, entretanto, pálida presença frente ao poder mediático de uma IURD, com a Rede Record de Televisão ou as intermináveis horas alocadas nos outros canais de TV a diferentes igrejas pentecostais.
    Para a Igreja católica, são muitos os desafios de hoje: Como passar de um catolicismo tradicional e apenas nominal a um catolicismo de opção e a uma fé atuante? Como transitar de um catolicismo rural para sua vivência no contexto da cultura urbana, técnica, científica e mediática? Como implantar uma Igreja-comunidade, numa sociedade de extremado individualismo e competição? Como viver modesta e frugalmente, atentos à crise ambiental, na contramão de um consumismo sem freio nem medida? Como atuar em solidariedade com os pobres, empenho nas lutas por justiça e superação das desigualdades, discriminação racial e violência, de forma corajosa e cidadã no campo social e político, no momento em que cresce a tendências de espiritualismos desencarnados?
    Como falar à juventude, depois que se rompeu o vínculo da transmissão da fé no seio das famílias, mas surgiu também renovado anseio por justiça, paz e cuidado com a criação? Como aprofundar a reflexão sobre sentido da sexualidade humana, do amor, do prazer, exercitando escuta e misericórdia frente a sofrimentos e perplexidades neste campo? Como responder ao grito das mulheres, cuja emancipação e aspiração a igual dignidade em todas as esferas da vida, não é suficientemente acolhido nas estruturas da Igreja? Como mover-se, enfim, nos espaços do crescente pluralismo religioso da sociedade brasileira, aprendendo a dialogar e a cooperar ecumenicamente para o bem comum, com todas as pessoas, nas diferentes igrejas, religiões e filosofias de vida?
    Oscar Beozzo.

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  7. O recado tá dado: "Eu quero agito nas dioceses, que vocês saíam às ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sair às ruas, se converte em uma ONG. A Igreja não pode ser uma ONG" (Francisco aos jovens argentinos).

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  8. Em mais um protesto contra o governador do Rio, Sérgio Cabral, manifestantes caminharam cerca de 7 quilômetros do Leblon a Copacabana, na zona sul, e se encontraram com peregrinos da Jornada Mundial da Juventude que voltavam para casa.

    Segundo estimativa da Polícia Militar, cerca de 1.500 pessoas participaram do ato. Entre os manifestantes havia um clima antirreligioso. Gritavam "não é procissão, é manifestação" e faziam provocações como "Inha inha inha, viva a camisinha". Além disso, vaiaram os peregrinos.

    Já entre os fiéis que foram ver o papa Francisco havia um misto de curiosidade e medo com relação aos manifestantes estridentes e mascarados. Alguns peregrinos se esconderam dentro de lanchonetes à medida que o protesto avançava.

    Em uma delas aconteceu uma pequena disputa. De um lado, os peregrinos cantaram: "Esa és la juventud del papa". A resposta dos manifestantes era: "Vem pra rua"...

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/120824-grupo-que-protesta-contra-o-governador-hostiliza-peregrinos.shtml

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  9. A pesquisa Datafolha feita às vésperas da chegada do papa ao Brasil mostra que os católicos estão se tornando menos numerosos, menos fiéis (vão pouco a missas) e menos obedientes (são tolerantes para com temas que o Vaticano considera tabu). Este é, se quisermos, um retrato quase perfeito do secularismo, o processo de transformação religiosa que é a marca do Ocidente nos últimos 500 anos.

    Um dos bons livros que peguei nestas férias é "A Secular Age" (uma era secular), do filósofo Charles Taylor. Ainda não terminei as quase 900 páginas da obra, escrita num estilo acadêmico que não é exatamente cativante, mas já li o bastante para perceber que se trata de um texto capital. Um de seus principais méritos é mostrar que a narrativa-padrão, segundo a qual o avanço das ciências foi empurrando a religião para as margens da sociedade, tem mais buracos do que um queijo suíço.

    Em seu lugar, o autor apresenta uma história bem mais rica e complexa, na qual o Iluminismo teve um papel, mas menos determinante do que se apregoa. Tão ou mais importantes foram a Reforma, o desencantamento do mundo (a magia perdeu credibilidade) e o advento do deísmo, no qual a religião das Escrituras cedeu espaço para um Deus impessoal deduzido da natureza pela razão...
    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2013/07/1316808-uma-era-secular.shtml

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  10. País curioso esse Brasil.
    Nem os Ateus conseguem deixar de ser "religiosos" quando criticam a religião. Afinal, quando a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos promove sessões de "desbatismo", usando secador de cabelos para secar a água benta usada no ritual de batismo católico, está, na realidade, promovendo um ritual cujo suposto poder é anular o rito batismal anterior. Ou seja, está sendo fundada a religião dos que descreem de religiões.
    A religião morreu; viva a religião.
    Sejam bem-vindos ao time!

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  11. Em sua caminhada pela comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, na zona norte da capital fluminense, o papa Francisco parou em uma igreja evangélica da Assembleia de Deus e fez uma oração com o pastor e os cristãos protestantes, informou o padre Márcio Queiroz, que acompanhou o pontífice na visita à favela.
    "Caminhando pela comunidade, chegamos até a igreja evangélica. Eu mostrei a ele que eles estavam no templo, e ele pediu para ir até lá para cumprimentá-los. O papa falou com o pastor e com as pessoas que estavam lá, e os convidou a rezarem um Pai Nosso", disse.

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    1. No Rio de Janeiro os jovens da Igreja Central deram aula de boa convivência e hospitalidade cristã. Sem ter onde ficar para acompanhar a Jornada Mundial da Juventude, 170 católicos italianos se hospedaram na Igreja Adventista. Eles foram chegando aos poucos, gratos e surpresos pela cordialidade. Recepção no aeroporto, com direito a translado, alimentação e barracas organizadas para a semana de peregrinação. Só pediram um teto, mas receberam muito mais. “Temos nossas diferenças doutrinárias, mas servimos a um Deus que é soberano e deu exemplo de amor ao próximo. Estamos ajudando estes jovens não por causa da sua fé, mas porque são pessoas que precisam e faríamos isto com qualquer outra denominação”, explicou Rômulo Silva, um dos líderes da igreja...

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  12. Jovens que estão no Rio para a Jornada divergem de Francisco, mas entendem que pontífice deve manter discurso.

    Os católicos que foram anteontem à Jornada Mundial da Juventude, na praia de Copacabana, dizem adotar posturas mais liberais do que aquelas que eles acreditam que o papa Francisco deveria ter, segundo o Datafolha.

    O deslocamento entre o pensamento dos fiéis e o que eles defendem para o pontífice fica evidente em questões como o uso de camisinha e pílula anticoncepcional, métodos condenados pela igreja para evitar a gravidez.

    Enquanto 65% defendem o uso de camisinha, 55% dizem que o papa deveria assumir essa posição.

    Fenômeno similar ocorre com a pílula: 53% afirmam aprovar o seu uso, mas o índice cai nove pontos percentuais (44%) quando se questiona se essa deveria ser a postura do papa...

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    1. Mas se ouvir não só os jovens católicos (carismáticos em grande parte) que foram pra essa Jornada, a distãncia é maior ainda:

      "... Ao se reunir com os participantes da Jornada Mundial da Juventude no Rio, onde chega nesta segunda-feira, 22, o papa Francisco verá que os jovens fiéis têm opiniões cada vez mais diferentes das defendidas pela Igreja. É o que sugere pesquisa Ibope encomendada pelo grupo Católicas pelo Direito de Decidir divulgada nesta segunda.
      O levantamento, que ouviu a opinião de 4.004 brasileiros, sendo 62% deles católicos, observou concordância com temas como uso da pílula do dia seguinte (82% dos jovens católicos apoiariam total ou parcialmente a Igreja se ela resolvesse permitir seu uso) e união entre pessoas do mesmo sexo (apoio de 56% dos jovens).
      A maioria de jovens católicos (62%) discorda totalmente ou em parte também da prisão de uma mulher que precisou recorrer ao aborto, independente de renda, escolaridade e região do País.
      Jovens católicos também revelam apoio (total ou parcial) a mudanças na política interna da Igreja: 90% defendem a punição de religiosos envolvidos em crimes de pedofilia e corrupção, 72% aprovam o fim do celibato para os padres e 62%, a ordenação de mulheres..."
      http://www.territorioeldorado.limao.com.br/noticias/not281961.shtm

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  13. O papa pediu ainda que dentro do seu papel laico, o Estado respeite e valorize a contribuição das tradições religiosas de um país. "Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade", afirmou. O papa Francisco disse também que é preciso que todos se respeitem. "A cultura do encontro é a única que pode fazer uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer", disse, apostando em apenas uma palavra: "Diálogo, diálogo e diálogo".

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  14. Em forte mensagem a cerca de 300 bispos brasileiros, o papa Francisco recomendou uma "revisão profunda" da formação dos clérigos e os exortou a se questionar em vários aspectos, entre os quais se "ainda somos capazes de aquecer o coração".
    No discurso mais longo de seu pontificado até agora, o papa ofereceu "linhas de ação" para a igreja no Brasil: mais simples e com maior participação feminina; ativa em debates como educação, saúde e paz social; e um contraponto ao mundo "cada vez mais rápido" (...)
    O papa lembrou a perda contínua de fiéis da igreja no Brasil para "novos e difusos grupos religiosos, mas também para aqueles que parecem já viver sem Deus".
    A porcentagem de católicos no Brasil desceu a 57%, segundo o Datafolha, seu nível mais baixo. Duas décadas atrás, era de 75%.
    Feito o diagnóstico, Francisco disse que a prioridade é uma "revisão profunda das estruturas de formação e preparação do clero e do laicato da igreja que está no Brasil".

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    1. No encontro com o CELAM o papa Francisco cobrou pobreza dos bispos e envolvimento participativo com as periferias:
      http://www.vatican.va/holy_father/francesco/speeches/2013/july/documents/papa-francesco_20130728_gmg-celam-rio_sp.html

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  15. Muita gente ficou se perguntando o que significaria, afinal, "uma igreja pobre e para os pobres" quando o papa Francisco usou essa frase como uma espécie de programa de governo para o seu pontificado. Os dias do sumo pontífice no Rio ajudaram a esclarecer essa dúvida: para o papa, o pobre "é" Cristo.
    É lógico que, a rigor, não há nada de novo nessa visão. Em uma de suas falas no Brasil, Francisco usou um trecho do Evangelho de Mateus (escrito no século 1º da nossa era) que mostra como a identificação dos marginalizados com o divino está na raiz da fé cristã. No Juízo Final, ao separar quem se salva de quem será condenado, Cristo diz que só quem alimentou os famintos, vestiu os que não tinham roupa e visitou doentes e presos vai se salvar.
    "Toda vez que fizestes isso ao mais humilde desses meus irmãos, foi a mim que o fizestes", citou o papa.
    (...) "Pobres", no sentido evangélico, são todos os marginalizados, e Francisco fez uma lista deles em seu discurso após a Via Sacra de sexta-feira: vítimas de violência, famílias cujos filhos sofrem com as drogas, os que passam fome num mundo de abundância, quem é perseguido "pela religião, pelas ideias ou simplesmente pela cor da pele". Essas pessoas, insistiu o papa durante sua visita, são "a carne de Cristo".
    Nesse ponto, a aproximação do papa com os temas da Teologia da Libertação é clara, mas Francisco também enfatizou, como antídoto para as injustiças, a conversão pessoal de cada ser humano, a disposição para "botar água no feijão" e dividi-lo com os outros, olhando menos para estruturas sociais injustas --o que se pode interpretar como uma análise essencialmente conservadora do problema...

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  16. professor, parece que o papa leu a sua conclamação para incluir as mulheres como agentes (e não pacientes) da igreja! olhe aí o que ele falou na coletiva no avião de volta pra casa (acho que não sabe direito ainda o que fazer, mas tem consciência do problema, ou da solução pra vários problemas do catolicismo):
    "... Uma Igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria. O papal da mulher na igreja não é só maternidade, a mãe da família. É muito mais forte. A mulher ajuda a Igreja a crescer. E pensar que a Nossa Senhora é mais importante do que os apóstolos! A Igreja é feminina, esposa, mãe. O papel da mulher na Igreja não deve ser só o de mãe e com um trabalho limitado. Não, tem outra coisa. O papa Paulo VI escreveu uma coisa belíssima sobre as mulheres. Creio que se deva ir adiante esse papel. Não se pode entender uma Igreja sem uma mulher ativa. Um exemplo histórico: para mim, as mulheres paraguaias são as mais gloriosas da América Latina. Sobraram, depois da guerra (1864-1870), oito mulheres para cada homem. E essas mulheres fizeram uma escolha um pouco difícil. A escolha de ter filhos para salvar a pátria, a cultura, a fé, a língua. Na Igreja, se deve pensar nas mulheres sob essa perspectiva. Escolhas de risco, mas como mulher. Acredito que, até agora, não fizemos uma profunda teologia sobre a mulher. Somente um pouco aqui, um pouco lá. Tem a que faz a leitura, a presidente da Cáritas, mas há mais o que fazer. É necessário fazer uma profunda teologia da mulher. Isso é o que eu penso. (...) Sobre a ordenação das mulheres, a Igreja já falou e disse que não. João Paulo II disse com uma formulação definitiva. Essa porta está fechada. Nossa senhora, Maria, é mais importante que os apóstolos. A mulher na Igreja é mais importante que os bispos e os padres. Acredito que falte uma especificação teológica..."

    (http://blogs.estadao.com.br/jamil-chade/2013/07/29/entrevista-com-o-papa-francisco-quem-sou-eu-para-julgar-os-gays/)

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    1. Peraí, nessa mesma entrevista, o papa falou que um tal de lobby gay é problema pra igreja, mas os gays (desde que se comportem castamente) não são: "... Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, pra julga-la? O catecismo da Igreja católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas devem ser integrados na sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não ! Devemos ser como irmãos."
      Muito bem: então os gays podem continuar sendo padres, nessa condição... Mas as mulheres não podem se ordenar na igreja, porque João Paulo II falou definitivamente que não, porque Jesus não ordenou mulheres... Mas Jesus ordenou gays?! Se a tradição evoluiu pra tratá-los como irmãos e aceitar que exerçam poder na igreja, porque não evolui também pras mulheres? Não se trata de um preconceito cultural a mais, numa civilização patriarcal?
      Manoel.

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  17. Encerradas a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a visita do Papa Francisco ao Brasil, ficam os desafios para a reflexão em torno dos desdobramentos que estes eventos religiosos trazem para a relação mídia-religião-política, à qual temos nos dedicado. Recebemos pelas lentes e páginas das mídias relatos que mostraram o mesmo clima de jornadas anteriores, reunindo centenas de milhares de jovens motivados pela fé de orientação católica a renovarem seu compromisso com a Igreja e sua missão, muito em torno da presença carismática do seu líder maior, o Papa. A singularidade do encontro do Brasil estava na presença do Papa Francisco, recém-empossado, em sua primeira visita oficial. É possível afirmar de imediato que a realização da JMJ com a presença do Papa Francisco alcançou um feito de peso: reforçou a instituição católica como a “grande religião” do Brasil. Pode-se também identificar elementos na visita do Papa vistos como positivos, que estimulam um reposicionamento da Igreja Católica no País e sua pastoral a uma postura menos fechada em si mesma e mais alinhada com as demandas populares cotidianas, e também pontos polêmicos que mostram que Francisco ainda tem muito a percorrer se suas palavras pavimentam de fato o caminho que deseja trilhar...
    Continue lendo em
    http://midiareligiaopolitica.blogspot.com.br/2013/07/a-jornada-mundial-da-juventude-e-visita.html

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  18. professor,em meio às considerações também elogiosas sobre o novo papa, a teóloga Ivone Gebara fez dois questionamentos sobre a sua passagem pelo país:

    "... A teologia feminista tem uma longa história em muitos países do mundo e uma longa e marginalizada história nas instituições católicas, sobretudo, latino-americanas. Publicações em Bíblia, Teologia, Liturgia, Ética, História da Igreja têm povoado as bibliotecas de muitas escolas de Teologia em diferentes países. Têm circulado igualmente em muitos ambientes leigos interessados pela novidade tão cheia de novos sentidos. E estes textos não são estudados nas principais faculdades de teologia, sobretudo, pelo futuro clero em formação e nos institutos de vida consagrada. A oficialidade da Igreja não lhes deu direito de cidadania porque a produção intelectual das mulheres continua sendo considerada inadequada para a racionalidade teológica masculina. E, além disso, se constitui em uma ameaça ao poder masculino vigente nas igrejas. A maioria não sabe o que existe como publicação e como formação alternativa organizada, assim como desconhece os paradigmas novos propostos por essas teologias plurais e contextuais. Desconhece sua força inclusiva e o apelo à responsabilidade histórica por nossos atos. A maioria dos homens de Igreja e dos fiéis continua vivendo como se a teologia fosse uma ciência eterna baseada em verdades eternas e ensinada prioritariamente por homens e, secundariamente, por mulheres segundo a ciência masculina estabelecida. Negam a historicidade dos textos, a contextualidade de posições e de razões. Desconhecem as novas filosofias que informam o pensamento teológico feminista, as hermenêuticas bíblicas e as novas aproximações éticas.
    (...) Quanto a dizer, talvez em forma de consolo, que a Virgem Maria é maior do que os apóstolos é, mais uma vez, uma expressão da teologia masculina do consolo abstrato. Ama-se a Virgem distante e próxima da intimidade pessoal, mas não se escutam os clamores de mulheres de carne e osso. É mais fácil fazer poemas à Virgem e ajoelhar-se diante de sua imagem do que estar atentos ao que se passa com as mulheres nos muitos rincões de nosso mundo. Entretanto, se os homens querem afirmar a excelência da Virgem Maria terão que lutar para que os direitos das mulheres sejam respeitados através da extirpação das muitas formas de violência contra elas. Terão, inclusive, que estar atentos às instituições religiosas e aos conteúdos teológicos e morais veiculados que podem não apenas reforçar, mas gerar outras formas de violência contra as mulheres..."

    o artigo completo está em http://www.brasildefato.com.br/node/15381

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