26º Congresso Internacional da Soter
PUC Minas, 08 a 11 de julho de 2013
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
PUC Minas, 08 a 11 de julho de 2013
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Deus na Sociedade Plural
Após ter se empenhado em discutir o papel da religião em nossa sociedade em seus últimos congressos – Religiões e Paz (congresso 2010), Religião, Educação e Cidadania (congresso 2011), Mobilidade Social e Religiosa (congresso 2012), a SOTER volta-se no 26º Congresso Internacional para a fonte mesma da experiência religiosa e de sua interpretação pela Teologia, Ciências da Religião e Áreas Afins: Deus. Por que este retorno a Deus ou de Deus no próximo congresso anual organizado pela SOTER? O que, na atual situação das religiões em geral e das diferentes confissões cristãs em particular, justifica esse interesse e essa atenção pela questão de Deus em nosso país?
Uma primeira aproximação ao mapa religioso do Brasil, como a do último Censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –, mostra que Deus – a fé, os símbolos e as narrativas que engendra –, os deuses, o sagrado e/ou o divino – as crenças, ritos e relatos de que são objeto –, são onipresentes no imaginário nacional. O aumento dos sem religião, por exemplo, não necessariamente é sinônimo de ateísmo ou agnosticismo, mas colocam uma clara fronteira entre experiência religiosa e experiência institucional. A pluralização do campo religioso e a explosão de novas espiritualidades e religiosidades apontam para outras formas de experiências do divino, algumas ressemantizando a compreensão do Deus do cristianismo, outras resgatando as divindades dos povos originários e afrodescendentes, outras enfim valorizando o Deus do judaísmo, do islã e das religiões orientais. Esta constatação parece confirmar a opinião segundo a qual o processo de secularização, que em muitos países ocidentais levou ao indiferentismo e à negação de Deus, não teve o mesmo impacto entre nós.
Uma análise mais aprofundada do atual pluralismo religioso, das imagens, símbolos e narrativas do divino que veicula ou revisita, levanta, porém, uma série de questões. Quem é o Deus desta nossa sociedade plural? É a fonte e o horizonte do sentido ou um dos muitos “ídolos” fabricados pelo indivíduo pós ou hipermoderno? Ele oferece razões para crer, esperar e amar ou é um simples “consolo” face ao absurdo de uma existência feita de violência, solidão e injustiças, na qual o indivíduo é apenas “número” ou mero consumidor? Até quando o imaginário pré-moderno do divino, tão presente nas inúmeras recomposições do religioso em nosso país, poderá competir com o imaginário tecnológico-instrumental, para o qual Deus não é necessário para explicar o mundo? Até que ponto a variedade de imagens, símbolos e narrativas do divino não são mera projeção do processo de diversificação das individualidades nas sociedades complexas?
Os “filósofos da suspeita” – Feuerbach, Nietzsche, Marx e Freud – produziram no séc. XIX e XX críticas contundentes à religião, que foram também críticas ao estatuto ocupado por Deus no seio da razão ocidental. Assim, para Feuerbach, Deus deveria ceder o lugar ao humano e a teologia transformar-se em antropologia. Nietzsche anuncia a morte de Deus e suas consequências para a cultura, enquanto Marx e Freud afirmam respectivamente que Ele é fonte de alienação e enfermidade, e a religião ópio do povo e neurose universal. Heidegger, num outro tipo de leitura, verá no recurso da filosofia a Deus enquanto causa e fundamento do Ser, a origem do esquecimento da diferença que existe entre ser e ente, acusando o pensamento filosófico do Ocidente de ontoteológico.
As críticas dos “filósofos da suspeita” e a crítica à ontoteologia determinam grande parte da reflexão sobre a religião e Deus feitas no último século. De fato, as Ciências da Religião (sociologia, psicologia, fenomenologia, história, antropologia e filosofia religiosas) surgiram e se firmaram a partir do séc. XIX num esforço de compreender e fundamentar os diferentes aspectos do fenômeno religioso e do lugar que nele ocupa a divindade. A Teologia, por sua vez, apesar de ter-se firmado como ciência já nos primeiros séculos do cristianismo e ter adquirido o estatuto de ciência nas universidades medievais, viu-se obrigada a responder às questões levantadas por essas críticas. Além disso, após as duas grandes guerras mundiais, ela foi questionada sobre as fontes de tanto horror e vio lência, interrogando-se sobre como falar de Deus após o holocausto.
A reflexão sobre Deus feita na América Latina e no Brasil nas últimas décadas foi profundamente marcada pela pergunta: como falar de Deus a partir do sofrimento do inocente? Para responder a tal pergunta, nossos/as teólogos/as inspiraram-se sobretudo no Deus de Jesus Cristo e sua capacidade de “kenosis” – humildade e solidariedade –, propondo uma releitura original do dogma trinitário, que alimentou a espiritualidade e a práxis dos/as que se comprometeram em “tirar da cruz os povos crucificados”. Nos últimos anos, porém, a essa leitura somam-se as das novas tendências que emergiram no seio da teologia da libertação: as das críticas ao patriarcalismo (teologias de gênero), à destruição do meio ambiente (ecoteologia), à idolatria do mercado (teologia e economia), à supremacia do Deus cristão (interculturalidade e diálogo inter-religioso); e a da proposta de uma teologia pública, que discute sobre temáticas que afetam os processos democráticos das nações e sua relação com o pensar teológico na sociedade.
Por outro lado, à reflexão latino-americana e brasileira sobre Deus feita pela Teologia nas últimas décadas deve-se também acrescentar a das Ciências da Religião. De fato, boa parte da produção filosófica elaborada entre nós retomou as críticas dos filósofos da suspeita e de Heidegger, num esforço de pensar o niilismo, o agnosticismo e o ateísmo em nosso meio. A sociologia, a psicologia, a história, a fenomenologia e a antropologia da religião ofereceram por sua vez chaves de interpretação importantes para entender a especificidade das religiosidades autóctones e das religiões afrodescendentes, além de ajudarem a compreender o fenômeno pentecostal, tão importante atualmente no país.
Ao propor para 2013 o tema Deus na Sociedade Plural. Fé – Símbolos - Narrativas, o 26ºCongresso da SOTER aborda um tema relevante de nossa contemporaneidade, que necessita ser interpretado por cientistas sociais, teólogos/as, filósofos/as e cientistas da religião, oferecendo assim novas chaves de leitura para pensar Deus no momento atual.
Após ter se empenhado em discutir o papel da religião em nossa sociedade em seus últimos congressos – Religiões e Paz (congresso 2010), Religião, Educação e Cidadania (congresso 2011), Mobilidade Social e Religiosa (congresso 2012), a SOTER volta-se no 26º Congresso Internacional para a fonte mesma da experiência religiosa e de sua interpretação pela Teologia, Ciências da Religião e Áreas Afins: Deus. Por que este retorno a Deus ou de Deus no próximo congresso anual organizado pela SOTER? O que, na atual situação das religiões em geral e das diferentes confissões cristãs em particular, justifica esse interesse e essa atenção pela questão de Deus em nosso país?
Uma primeira aproximação ao mapa religioso do Brasil, como a do último Censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –, mostra que Deus – a fé, os símbolos e as narrativas que engendra –, os deuses, o sagrado e/ou o divino – as crenças, ritos e relatos de que são objeto –, são onipresentes no imaginário nacional. O aumento dos sem religião, por exemplo, não necessariamente é sinônimo de ateísmo ou agnosticismo, mas colocam uma clara fronteira entre experiência religiosa e experiência institucional. A pluralização do campo religioso e a explosão de novas espiritualidades e religiosidades apontam para outras formas de experiências do divino, algumas ressemantizando a compreensão do Deus do cristianismo, outras resgatando as divindades dos povos originários e afrodescendentes, outras enfim valorizando o Deus do judaísmo, do islã e das religiões orientais. Esta constatação parece confirmar a opinião segundo a qual o processo de secularização, que em muitos países ocidentais levou ao indiferentismo e à negação de Deus, não teve o mesmo impacto entre nós.
Uma análise mais aprofundada do atual pluralismo religioso, das imagens, símbolos e narrativas do divino que veicula ou revisita, levanta, porém, uma série de questões. Quem é o Deus desta nossa sociedade plural? É a fonte e o horizonte do sentido ou um dos muitos “ídolos” fabricados pelo indivíduo pós ou hipermoderno? Ele oferece razões para crer, esperar e amar ou é um simples “consolo” face ao absurdo de uma existência feita de violência, solidão e injustiças, na qual o indivíduo é apenas “número” ou mero consumidor? Até quando o imaginário pré-moderno do divino, tão presente nas inúmeras recomposições do religioso em nosso país, poderá competir com o imaginário tecnológico-instrumental, para o qual Deus não é necessário para explicar o mundo? Até que ponto a variedade de imagens, símbolos e narrativas do divino não são mera projeção do processo de diversificação das individualidades nas sociedades complexas?
Os “filósofos da suspeita” – Feuerbach, Nietzsche, Marx e Freud – produziram no séc. XIX e XX críticas contundentes à religião, que foram também críticas ao estatuto ocupado por Deus no seio da razão ocidental. Assim, para Feuerbach, Deus deveria ceder o lugar ao humano e a teologia transformar-se em antropologia. Nietzsche anuncia a morte de Deus e suas consequências para a cultura, enquanto Marx e Freud afirmam respectivamente que Ele é fonte de alienação e enfermidade, e a religião ópio do povo e neurose universal. Heidegger, num outro tipo de leitura, verá no recurso da filosofia a Deus enquanto causa e fundamento do Ser, a origem do esquecimento da diferença que existe entre ser e ente, acusando o pensamento filosófico do Ocidente de ontoteológico.
As críticas dos “filósofos da suspeita” e a crítica à ontoteologia determinam grande parte da reflexão sobre a religião e Deus feitas no último século. De fato, as Ciências da Religião (sociologia, psicologia, fenomenologia, história, antropologia e filosofia religiosas) surgiram e se firmaram a partir do séc. XIX num esforço de compreender e fundamentar os diferentes aspectos do fenômeno religioso e do lugar que nele ocupa a divindade. A Teologia, por sua vez, apesar de ter-se firmado como ciência já nos primeiros séculos do cristianismo e ter adquirido o estatuto de ciência nas universidades medievais, viu-se obrigada a responder às questões levantadas por essas críticas. Além disso, após as duas grandes guerras mundiais, ela foi questionada sobre as fontes de tanto horror e vio lência, interrogando-se sobre como falar de Deus após o holocausto.
A reflexão sobre Deus feita na América Latina e no Brasil nas últimas décadas foi profundamente marcada pela pergunta: como falar de Deus a partir do sofrimento do inocente? Para responder a tal pergunta, nossos/as teólogos/as inspiraram-se sobretudo no Deus de Jesus Cristo e sua capacidade de “kenosis” – humildade e solidariedade –, propondo uma releitura original do dogma trinitário, que alimentou a espiritualidade e a práxis dos/as que se comprometeram em “tirar da cruz os povos crucificados”. Nos últimos anos, porém, a essa leitura somam-se as das novas tendências que emergiram no seio da teologia da libertação: as das críticas ao patriarcalismo (teologias de gênero), à destruição do meio ambiente (ecoteologia), à idolatria do mercado (teologia e economia), à supremacia do Deus cristão (interculturalidade e diálogo inter-religioso); e a da proposta de uma teologia pública, que discute sobre temáticas que afetam os processos democráticos das nações e sua relação com o pensar teológico na sociedade.
Por outro lado, à reflexão latino-americana e brasileira sobre Deus feita pela Teologia nas últimas décadas deve-se também acrescentar a das Ciências da Religião. De fato, boa parte da produção filosófica elaborada entre nós retomou as críticas dos filósofos da suspeita e de Heidegger, num esforço de pensar o niilismo, o agnosticismo e o ateísmo em nosso meio. A sociologia, a psicologia, a história, a fenomenologia e a antropologia da religião ofereceram por sua vez chaves de interpretação importantes para entender a especificidade das religiosidades autóctones e das religiões afrodescendentes, além de ajudarem a compreender o fenômeno pentecostal, tão importante atualmente no país.
Ao propor para 2013 o tema Deus na Sociedade Plural. Fé – Símbolos - Narrativas, o 26ºCongresso da SOTER aborda um tema relevante de nossa contemporaneidade, que necessita ser interpretado por cientistas sociais, teólogos/as, filósofos/as e cientistas da religião, oferecendo assim novas chaves de leitura para pensar Deus no momento atual.
01 de dezembro de 2012 a 15 de janeiro de 2013: chamada para formação de Grupos de Trabalho(GTs) e de Fóruns Temáticos (FTs). Tais grupos devem sem compostos por dois doutores/as de 2 IES distintas, descrevendo numa ementa não maior de 250 palavras sua proposta para realizar o callpaper/chamada de apresentação de Comunicações.
15 de janeiro a 10 de fevereiro de 2013: análise das propostas de GTs e de FTs pelo Comitê Científico do 26º Congresso da SOTER.
11 de fevereiro de 2013: Comunicação dos GTs e dos FTs aprovados.
01 março a 10 de maio de 2013: inscrições para comunicações nos GTs e nos FTs Temáticos, a serem feitas através da página de eventos do site da SOTER. Cada comunicação deverá conter o título proposto pelo/a autor/a e uma ementa de no máximo 250 palavras que suscintamente explicite o teor acadêmico da mesma, indicando a metodologia e as questões a serem abordadas na apresentação da comunicação.
15 de abril de 2013: início das inscrições on-line na página de eventos do site da SOTER como participante.
10-20 de maio de 2013: estudo e aprovação das propostas de comunicações pelos/as Coordenadores/as de GTs e de FTs.
24 de maio de 2013: divulgação na página do evento das Comunicações aprovadas.
07 de junho de 2013: último prazo para pagamento dos proponentes que tiveram comunicações aprovadas. O não pagamento implicará na não apresentação da comunicação.
30 de junho de 2013: encerramento das inscrições on-line como participante (mediante disponibilidade de vagas).
08 a 11 de julho de 2013: realização do 26º Congresso.
31 de agosto de 2013: data final de envio de textos integrais dos trabalhos aprovados para publicação em forma digital dos Anais dos textos completos.
Veja aqui nossa participação no Congresso 2012.
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