28 de nov. de 2012

PARA LER NAS FÉRIAS

Que leituras complementares deveriam ser feitas por aqueles que necessitam adensar suas profissionalidades após as cerimônias de colação de grau 2012, quando algumas insuficiências começam a se agigantar nos horizontes oferecidos pelo mundo do trabalho?

A recomendação do arquiteto Oscar Niemeyer, um talento da Arquitetura Brasileira, nos impulsiona para uma continuada luta em prol de uma Educação Libertadora Evolucionária: “Toda escola superior deveria oferecer aulas de filosofia e história. Assim fugiríamos da figura do especialista e ganharíamos profissionais capacitados a conversar sobre a vida”. Embasado, assim, na reflexão do mais famoso arquiteto brasileiro, ouso oferecer aos alunos graduandos do corrente ano, de todas os cursos, inclusive os amplamente desacreditados, algumas leituras que seguramente multiplicariam suas perspectivas crítico-históricas, favorecendo uma maior densidade analítica sobre os passos já alcançados e os de uma contemporaneidade velozmente mutacional. Leituras desacademicistas, nunca ortodoxas, contaminadas de conteúdos que binoculizam solidamente para caminhares mais compatíveis com os desafios futuros que rapidamente entre nós se instalam.

A primeira leitura, básica por derradeira, é Como Ler Livros – O Guia Clássico para a Leitura Inteligente, de Mortimer J. Adler; Charles Van Doren, SP, É Realizações, 2010. Nele se pode apreender sobre as dimensões da leitura e os seus níveis, a leitura inspecional, a classificação de um livro, como decodificar a mensagem do autor, como estabelecer uma crítica, como ler livros práticos, o que se entende por literatura imaginativa, como ler livros de ciências e matemática, como aprender as lições fundamentais de um livro de filosofia, como apreender uma realidade social e como proporcionar um crescimento intelectual nunca estático, sempre evolutivo, sabendo usar a leitura sintópica, que significa “leitura sobre o mesmo assunto” lendo dois ou mais livros sobre um determinado acontecimento.

A segunda leitura é uma tarefa dupla e um tanto taluda, muito embora seja um dos alicerces principais da caminhada profissional de todos aqueles que se desejam ver politizados, jamais idiotizados por sectarismos ideológicos. Trata-se de Alexis de Tocqueville – o profeta da democracia, Hugh Brogan, RJ, Editora Record, 2012. Um dos mais importantes autores políticos modernos. Uma leitura que embasa uma outra, esta de autoria do próprio Alexis de Tocqueville, A Democracia na América, Folha de São Paulo, 2010, coleção Livros que Mudaram o Mundo. Existe até uma Sociedade Tocqueville, com sedes na França e nos Estados Unidos, com ramificações pelos quatro cantos do planeta. Explicitado no prefácio do último texto, “o grande feito de Tocqueville consiste em haver recuperado o prestígio da democracia, responsabilizada no início do século 19 pelos desmandos da Revolução Francesa”, possibilitando a distinção entre democracia e democratismo, este último modelo a engendrar variados totalitarismos nos últimos tempos.

Um terceiro texto foi editado pela Universidade de Brasília em 2011: Um Século de Conhecimento – Arte, Filosofia, Ciência e Tecnologia no século XX, trabalho organizado pelo prof. Samuel Simon, do Departamento de Filosofia da UnB, também PhD pela Universidade de Paris, França. O objetivo dos textos de autores diversos é efetivar uma análise das teorias científicas em várias áreas do conhecimento do século passado, numa perspectica duplamente tendencial: a crescente especialização do conhecimento humano e o estabelecimento de múltiplas interconexões entre áreas científicas até então distintas e distanciadas. A leitura dos 31 capítulos do livro em muito favocerá a compreensão sobre sinergia (administração), estruturalismo antropológico (antropologia), axialidades (arquitetura), totipotência (botânica), sistemas especialistas (ciência da informação), espiral do silêncio (comunicação), aptidão inclusiva (ecologia comportamental), associonismo (educação física), concentração gravítica (engenharia de minas), processos estocásticos (estatística), frases protocolares (filosofia), contração espacial e dilatações temporais (física), possibilismo (geografia), serialismo (música), grupos de homotopia (matemática), balanço metabólico (nutrição), cadeia trófica (paleontologia), e semiosfera (teoria literária), entre tantas outras novas concepções. Criações emergidas num ponto de um Universo que nasceu há aproximadamente 14 bilhões de anos, comportando uma cifra em torno de 100 bilhões de galáxias. O texto possibilitará uma compreensão maior das limitações do conhecimento científico: às relacionadas com questões ainda não resolvidas, às implicações éticas da ciência aplicada, e às relacionadas com as débeis influências exercidas sobre os governantes, favorecendo uma vida mais digna para todos. A leitura do livro proporcionará um panorama sobre os últimos 2,5 mil anos do pensamento humano, favorecendo enxergamentos táticos múltiplos sobre as próximas evoluções cognitivas.

Por fim, um livro que rompe com as teorias pessimistas sobre o esvaziamento de valores do século XXI, prondo um outro olhar sobre a humanidade. Segundo o autor, “hoje, no Ocidente, ninguém arrisca a própria vida para defender um deus, uma pátria ou um ideal de revolução. Mas vale a pena se arriscar para defender aqueles que amamos. Vivemos a revolução do amor, e essa é a melhor notícia do milênio”. Seu autor, Luc Ferrey, nascido em Paris, 1951, é um dos principais defensores do humanismo secular. Foi ministro da Educação, França, de 2002 a 2004, e o livro dele que recomendo é A Revolução do Amor – por uma Espiritualidade Laica, Objetiva, 2012. Lendo o livro, o graduando 2012 perceberá de imediato que uma nova espiritualidade emerge no mundo de hoje, uma espiritualidade laica, fruto da sacralização do ser humano por meio do amor. Nele, o leitor tomará conhecimento da história da ética, apossando-se das integrações estratégias necessárias entre a sabedoria dos modernos e a espiritualidade laica, tudo se alicerçando numa sempre solidária preocupação amorosa de uns para com os outros.

É professor, graduado em Economia pela Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduado em Educação pela PUC-Rio. Coordenou a Comissão de Justiça e Paz de Dom Helder Câmara. É clérigo anglicano e preside o Conselho de Educação de Pernambuco.

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