Dona Roseli rezando criança, pesquisa de Sandro Gomes. |
Pois bem, com base em reflexões assim, onde as Ciências da Religião ajudam a criticar a mistificação do sagrado, mas também a valorizar a autêntica religação reverente com o mistério da realidade, a mística verdadeira que está entre e além das religiões, inclusive nas suas tradições populares, é que a nossa sociedade começa a reconhecer, até oficialmente, o trabalho de curar com orações e plantas medicinais. A revista Istoé desta semana noticia que as prefeituras de Rebouças e de São João do Triunfo, no Paraná, sancionaram leis que reconhecem o trabalho das praticantes da chamada saúde popular. Casos pioneiros, deflagrados pelo Movimento de Aprendizes da Sabedoria, organização que até recebeu um prêmio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - órgão federal que já classificou a cura por meios não tradicionais como um patrimônio imaterial da cultura brasileira. Outros lugares também estudam integrar as rezadeiras (no feminino, porque a maioria é de mulheres - por que será?!) aos médicos do Programa Saúde da Família. Isso atesta uma mudança interessante nos costumes nacionais, onde, ao que parece, está fermentando uma equação mais complexa entre fé e ciência...
As rezadeiras também são notícia no Diário de Pernambuco, edição deste domingo, que traz ínclusive uma belíssima galeria de fotos com Albertina Maria da Conceição, 74 anos, que é benzedeira desde os sete anos de idade lá em Salgueiro. Ela aprendeu o ofício com a mãe, uma índia, e o exerce como último recurso contra os males da seca que assola os sertões. A matéria, assinada por Ana Cláudia Dolores, afirma que "... No Sertão de Pernambuco, as rezadeiras são tidas como enfermeiras e até como anjos, cumprindo o papel social de socorrer de pessoas a animais vitimados pela fome ou pela sede em plena caatinga". Essas cuidadoras da saúde popular, porém, bem que merecem mais respeito e cuidado: a própria Albertina, enfraquecida igualmente pela seca, no momento apenas receita chás, porque "... Sente-se fraca para fazer as orações"!
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Viva quem tem juízo (até pra perceber as razões que ultrapassam a pequena razão do juízo somente!). Universidade é o lugar onde se deve pensar as questões que estarão circulando pela mídia daqui a uma década! Então, viva Sandro e o Mestrado, que o acompanhou nessa exploração de um tema que hoje tá virando sabedoria reconhecida. Edileuza Santos.
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