O Mestrado em Ciências da Religião me deu uma visão crítica e mais profunda do fato religioso, mas acabou ensejando uma retomada da minha vivência espiritual. Pesquisei sobre os conflitos entre as tradições do judaísmo entre nós, mas acabei percebendo melhor a experiência comum e fundamental em toda religião. Nasci num lar evangélico presbiteriano e mineiro, que migrou para o Nordeste ainda na minha infância. Aqui no Recife, mais precisamente em Peixinhos (Olinda), fomos levados em nosso primeiro domingo numa cidade litorânea a uma igreja presbiteriana. A praia ficou para outro dia, de preferência um sábado ou feriado, pois o domingo é do Senhor! Assim fui criada, nessa perspectiva cristã. Tive o meu encontro com o transcendente, ou fui tocada mais fortemente pelo sagrado, aos 18 anos de idade.
Sempre fui grata ao meu Deus pelas benções que ele proporcionava em minha família e em minha vida e compartilhava com Ele que um dia iria tentar retribuir um pouco do muito recebido. No final da década dos anos oitenta conheci o braço social da Igreja Evangélica Menonita (Internacional) e, para meu espanto na época, eles estavam junto dos necessitados simplesmente amando e ajudando. Fiquei encantada, pois no contexto em que os conheci eu alfabetizava meninos e meninas de rua (na Comunidade dos Pequenos Profetas) com um rapaz católico e uma ex-freira e havia sido advertida pelo meu pastor (ou melhor, ele já havia dito que "ali não era lugar para uma crente"). O meu conflito espiritual foi amenizado pelo aval dos meus pais e depois pela acolhida dos missionários menonitas da comunidade da Lagoa Encantada. Lá redimensionei o meu viver cristão, lá tive outro encontro com Jesus e a cristandade.
Em 2010, morando em Candeias, foi tocada por um desejo quase incontrolável de voltar a fazer parte dessa comunidade novamente. Apesar da distância e da evolução socioeconômica, a minha família aceitou com o mesmo entusiasmo do meu desejo uma volta à comunidade. E qual não foi a nossa surpresa, saber que a comunidade estava justamente precisando de ajuda e que “eu” e minha família éramos a ajuda que eles precisavam - fora Deus que nos havia inquietado! Hoje, a menina pobre, negra, e que trocou o mar pela igreja quando tinha 6 anos de idade, está mostrando o Amor de Deus aos seus pares: em uma comunidade de risco, com mulheres que são agredidas e jovens envolvidos em drogas e consequentemente na criminalidade. Obrigada, Deus, por me amar tanto.
Mestre em Ciências da Religião pela UNICAP,
Professora Universitária e Pastora da Igreja Evangélica Menonita em Lagoa Encantada.
Valeu, Valéria!
ResponderExcluirCom certeza, a sua presença meiga e pedagógica vai deixar a Lagoa ainda mais Encantada! Preservar a testemunhar a presença democrática e libertária dos Menonitas entre nós é um presente pra diversidade que precisamos em nossos ensaios ecumênicos. Ficamos todos orgulhosos, viu?! Cheiro.
Gilbraz.