Neste 16 de novembro, em Paris, a Benetton, transnacional italiana de moda, famosa pela sua publicidade provocativa dos costumes sociais, anunciou uma Fundação chamada UNHATE ("não ao ódio"), que vai organizar ações simbólico-publicitárias com o objetivo de se opor à cultura do ódio, promovendo a proximidade entre os povos, crenças, culturas e a compreensão pacífica das razões dos outros. A primeira campanha mundial da Fundação foi lançada, trazendo foto-montagens de beijo, o símbolo mais reconhecido do amor, entre líderes políticos e religiosos do mundo. Por exemplo: o presidente francês Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel; Barack Obama e o líder chinês Hu Jintao; o Papa Bento XVI e Ahmed Mohamed el-Tayeb, Imã da mesquita de AL-Azhar no Cairo (o mais importante e moderado centro de estudos islâmico-sunita do mundo); o presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas e o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, e por aí vai... .
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São imagens iconoclastas, mas aparentemente sugestivas de reconciliação, com um toque de esperança irônica, pedindo reflexão sobre como a política, a religião e as ideias, mesmo que diferentes e contrapostas, devem, todavia, levar ao diálogo. Beijar os lábios de alguém é um ato privado ou público e simboliza amizade ou desejo, dependendo do tempo e do lugar. No renascimento inglês, ao chegar em uma casa o visitante beijava os lábios do anfitrião, sua mulher, seus filhos e até o gato e o cachorro; mas hoje, por conta do puritanismo, os britânicos nunca se beijam em público! Os russos continuam se cumprimentando com beijos e vale homem com homem, mulher com mulher... E na boca! Atualmente, em países mediterrâneos ou mesmo na Argentina e Uruguai, os homens se beijam quando encontram amigos. Já na Malásia ou até na Venezuela, mesmo um casal pode ser preso por um beijo ainda que pudico, mas ndemorado. Vale lembrar que o "beijo sagrado" no irmão/irmã era parte da missa e somente no século XIII a Igreja Católica o substituiu por um cumprimento de paz (embora os Coptas osculem os lábios no seu rito) e os Protestantes abandonaram de vez o costume no século XVI. Como o sentido das coisas está em relação com o contexto psicológico e cultural de quem as fez, mas também de quem as vê, então, as imagens da UNHATE vão causar muito "unheiro" por aí...
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Afinal de contas, as cenas desses beijos inusitados querem relativizar e questionar símbolos do poder político e religioso do mundo, em nome de uma salutar causa civil de paz e harmonia entre as pessoas? Ou, levando em conta a empresa de moda por trás da Fundação da campanha, o que se quer é difamar lideranças e aniquilar possíveis instâncias de limitação moral do consumismo em um mercado mundializado de supérfluos e marcas? Ou ainda, como citou-se um texto budista no lançamento da série de fotos que vão ser espalhadas por grupos de jovens nas grandes capitais do planeta, tratar-se-ia, ao menos inconscientemente, de um confronto simbólico entre os valores orientais mais interiores e os representantes das leis ocidentais que apregoam paz e justiça social - mas não as alcançam?! Os fanáticos, claro, políticos e/ou religiosos, sempre tímidos e medrosos, verão cenas de injúria e conspiração contra os poderes "sagrados" deste mundo e do outro - e vão apertar os silícios e se preparar pro apedrejamento... Mas você é quem decide como interpretar e se posicionar perante (ou para!) o beijaço que vai aparecer aí por todo canto.
Aqui é o site da Campanha/Fundação.
Para mim é apenas provocar mesmo, igual aqueles cartazes da ATEA. Ideia original é só uma desculpa furada para fazer isso.
ResponderExcluirO tempora! O mores!
ResponderExcluirVige Maria, professor: chega fiquei enjoada! Se essa tal campanha é pra pregar tolerância... Ela não devia ser mais tolerante com os costumes dos outros?! Sei não...
ResponderExcluirVirgínia.
Acredito que a publicidade tentou chocar o público. E conseguiu. No entanto, não levou em consideração os contras, somente os prós. O fato é que uns vão amar a divulgação e outros vão odiar. Penso que isso seja bastante arriscado para a publicidade, que deve sempre buscar a demonstração de aspectos positivos em suas produções, para que haja uma boa percepção da empresa pelo público. Õbservando desse modo, o anunciante colocou em jogo a imagem de sua marca que pode ser bem e mal vista pelos diferentes receptores da mensagem e suas respectivas culturas.
ResponderExcluirGilbraz, eu acho que todas aquelas possibilidades interpretativas que voce apontou ali tão valendo... e mais algumas. Uma ação simbólica desse porte certamente conjuga ações de mercado, pra firma anunciante se ver associada aos jovens contestadores que ela quer vestir... mas também faz eco a uma religiosidade contra-institucional, "ecológica" e civil que se espraia. sobretudo nos países ricos... de modo que resulta em um movimento complexo e multifacetado: ninguém sabe direito no que vai dar em cada lugar onde chega! mas eu sou a favor: dê um beijo, não dê um grito!
ResponderExcluirFernando Trigueiro.
Tá todo mundo osculando no Recife. Só que anonimamente! Há quem prefira assim. Outros preferem o ósculo público, como o paulino!
ResponderExcluirkkk a do papa já foi proibida na vaticano e a de hu jintao na china: grandes diferenças, imensas semelhanças!!!
ResponderExcluirrapaz, nunca pensei que entre os católicos tivesse espaço pra contra-cultura! tou feliz! viva o anarquismo!
ResponderExcluirMané.
Vigi, credoooo! Posssa ser que nasOropa o povo liberal ache bonito! Mas por aqui uma marmota dessa, homem beijando homem, se resolve com uma pisa de macambira! Oxe?!
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