MELLO, Frederico Pernambucano de
Estrelas de couro: a estética do cangaço.
São Paulo: Escrituras, 2010.
São Paulo: Escrituras, 2010.
Autoridade no tema Cangaço - expressão do irredentismo popular brasileiro -, o historiador Frederico Pernambucano de Mello nos apresenta o livro Estrelas de couro: a estética do cangaço (Escrituras Editora), com prefácio de Ariano Suassuna. Pernambucano mergulha no universo desconhecido de sua cultura material, promovendo a leitura profunda do requinte e dos significados presentes nas peças autênticas de uso dos cangaceiros, a exemplo do signo-de-salomão, da cruz-de-malta, da flor-de-lis, do oito contínuo deitado, das gregas, de variações sublimadas da flora local, e das tantas combinações possíveis de que se valia o cangaceiro na construção de um traje que atendia à vaidade ornamental de seu brado guerreiro e a anseios bem compreensíveis de proteção mística. O livro é a primeira produção de história íntima sobre o fenômeno de insurgência social de maior apelo popular do Brasil. Sem perda do caráter epidérmico de banditismo, Pernambucano nos mostra uma tradição brasileira de insurgência recorrente, irmã do levante indígena, do quilombo e da revolta social. E conclui que nos veio do fenômeno a própria marca visual da região Nordeste: não mais que uma estilização da meia-lua com estrela do arrebitado da aba do chapéu de couro dos velhos capitães de cangaço. “Habitando um meio cinzento e pobre”, conclui Pernambucano, “o cangaceiro vestiu-se de cor e riqueza. Satisfez seu anseio de arte, dando vazão aos motivos profundos do arcaico brasileiro. E viveu sem lei nem rei quase em nossos dias, deitando uma ponte sobre cinco séculos de história. Foi o último a fazê-lo com tanto orgulho. Com tanta cor. Com tanta festa”. Saiba mais sobre o livro aqui.
Entre a cruz e o punhal: a dialética histórica do rei do cangaço.
Serra Talhada: Esdras Graphic, 2009.
Muito já se escreveu sobre o Cangaço e Lampião. A novidade deste trabalho se encontra no paradoxal enlace histórico, filosófico e teológico sobre a temática. Trata-se não apenas de um resgate histórico, mas também de uma abordagem dialética e religiosa sobre o fenômeno social do Cangaço e de seu principal expoente. Nesta perspectiva soa colidente dizer que um bandido foi um herói, ou mostrar que um cangaceiro tinha fé. Porém, venhamos e convenhamos, "O ser humano é protótipo de dialética. Vive a contradição entre o bem e o mal no cerne de sua existência" (ARDUINI, 2004). Não existe homem puro, não existe história pura; mas toda realidade e toda história são dialéticos em sua essência. De modo que, Lampião foi dialético em sua vida e em sua história, como todo homem, toda história. Fé e cangaceirismo são realidades conflitantes, incongruentes. Mas não se faz aqui juízo moral, nem de Lampião nem do Cangaço. Não cabe ao historiador esse papel. Decerto, nenhum homem é totalmente digno de julgar outro homem, só Deus. E por fim, se Lampião não foi um "santo", também não deixou de ser "um homem de fé". Foi dialético. Paradoxal. Rei do Cangaço, entre a cruz e o punhal! Essa é a argumentação filosófico-teológica desenvolvida por Cícero Lopes, mestrando em Ciências da Religião pela UNICAP, que partiu de um levantamento histórico da fé no sertão nordestino, para mostrar as vivências religiosas do grupo de Lampião e a dialética cultural do Rei do Cangaço. Uma aproximação rica ao tema, feita por quem vem dos sertões mas tem o olhar no outro lado do mar!
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Sabia que o Cangaço também já foi tema de grandes filmes?
Deus e o diabo na Terra do Sol (1964). Em um dos grandes marcos do Cinema Novo, o longa-metragem se apodera da linguagem do cordel para mergulhar no nordeste do cangaço, do fanatismo religioso, da miséria e do poder cruel dos coronéis. O resultado é uma obra-prima barroca, atravessada por lirismo cortante e grandeza épica que explora a árida paisagem da região com rara força dramática e simbólica. Um clássico brasileiro. Assista o trailer aqui.
O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969). Antonio das Mortes vai à cidade de Jardim das Piranhas, contratado para matar um bando de jagunços chefiados por Coirana, que se diz herdeiro de Lampião. Utilizando tons alegóricos, o diretor Glauber Rocha, em seu primeiro longa metragem colorido, mistura influências que vão da literatura de cordel à ópera, passando por elementos do western norte-americano, para construir o que é considerado por muitos como sua obra-prima, ganhadora do prêmio de crítica internacional no festival de Cannes. A direção é de Glauber Rocha. Assista o trailer aqui.
A musa do cangaço (1981). Em cenas documentais, entremeadas também com material de arquivo, Dadá,
já bem idosa, relata no curta-metragem os fatos de sua vida nos acampamentos de Lampião, do medo à pacificação, das alegrias e tensões da guerra desigual que, depois de 20 anos, dizimaria o movimento dos cangaceiros. Assista o trailer aqui.
Corisco e Dadá (1996). A narrativa do filme é construída pela sucessão de episódios da vida dos protagonistas, com mitos infiltrados nos fatos históricos. O mascate Benjamin Abraão, autor das filmagens reais que aparecem no filme e se misturam com os artistas que representam os protagonistas, acrescenta uma visão ainda mais profunda do herói – ou bandido – Corisco. Trailer não disponível.
E então, o que você pensa: os cangaceiros tinham mística de verdade?
O que é mesmo mística e religiosidade?!
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