Embarquei no ultimo sábado (02/10) para São Paulo, mais especificamente para a cidade de São Bernardo do Campo, com o objetivo de avançar no processo de escrita da minha dissertação de Mestrado em Ciências da Religião, através de um convênio entre a Universidade Católica de Pernambuco e a Universidade Metodista de São Paulo. O curioso é que a minha pesquisa começou durante vôo, que por sinal foi longo o bastante para não se perder tempo. Durante a viagem, comecei a ler uma revista que estampava como matéria de capa uma entrevista com o ator Pernambucano Irandhir Santos, até então desconhecido para mim. Ao avançar na leitura da entrevista eu tive a grata surpresa de saber que Irandhir foi o protagonista do filme “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, um dos melhores filmes que já vi.
Um filme apaixonante, poético, que deixa qualquer um em êxtase. Durante o longa, Irandhir vive o papel do geólogo José Renato, apaixonado pela esposa, que precisa fazer sozinho uma longa viagem pelo sertão nordestino. Longe dela, ele terá que realizar uma pesquisa de campo para definir o possível percurso de um canal, que irá amenizar o problema da seca na região. Apesar de a construção ser um alívio para muitas populações, pode ser um grande problema para aqueles com quem Renato cruza, já que provavelmente a região será alagada. José Renato não aparece em cena, o espectador apenas ouve a sua voz. Avaliando o terreno, ele percebe na seca e na pobreza daquelas pessoas uma sensação parecida com a que está tendo. Apesar de não ter dificuldades com a falta de recursos, José Renato sente um grande vazio, pela distância da mulher que ama.
À medida em que a viagem avança, as saudades ficam cada vez maiores, e a distância física dela parece ser o menor dos problemas entre os dois... Selecionado para o Festival de Veneza, onde fez sua premiére mundial, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo é uma obra experimental realizada pelos cineastas Marcelo Gomes, de Cinema, Aspirinas e Urubus, e Karim Aïnouz, de Madame Satã e O Céu de Suely. Para o longa, os diretores usaram imagens não utilizadas em seus filmes anteriores, incluindo o documentário Sertão Acrílico Azul Piscina, que também filmaram em conjunto. Vale a pena ver o filme, onde Irandhir tem uma presença marcante, apesar de não aparecer...
Agora Irandhir estará mais uma vez em cartaz, com o filme Tropa de Elite 2, de José Padilha, fazendo o papel de Diogo Fraga, um defensor dos direitos humanos que, segundo o ator, “diz não à política de segurança pública, uma política de repressão contra os pobres, os moradores dos morros”. Em outras palavras, ele bate de frente com o ex-capitão, agora coronel Nascimento (novamente interpretado por Wagner Moura). De volta para sua casa, em Recife, Irandhir falou sobre o novo filme: “Isso nunca tinha me acontecido antes. Todo mundo está curioso para saber como será. O que eu posso adiantar é que, com certeza, o filme vai levantar muita discussão, pois esse é o ponto forte do cinema do Padilha, trazer à tona questões importantes que precisam ser discutidas”.
Lições que a gente veio tirando, já no avião, antes de pisar em São Paulo: os nordestinos e as suas coisas e temas são mais importantes do que a gente imagina (é preciso viajar pra descobrir!). E mais: quando a gente tem o que dizer, não precisa nem aparecer muito... acaba sendo reconhecido. É assim também com as coisas sagradas, que se impõem sempre de novo, em todo canto. Como “o coração tem suas razões, que a própria razão desconhece” (Blaise Pascal), vim pesquisar sobre o lugar da religião num mundo pós-moderno e já percebi que “o essencial é invisível aos olhos” (Saint Exupéry). Vim para São Paulo porque preciso e voltarei para Recife porque a amo...
.
.
Carlos Vieira
Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco. Mestrando em Ciências da Religião na Unicap. Coordenador do corpo editorial da revista eletrônica Paralellus. Veja aqui o seu blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela sua participação!