23 de set. de 2009

MESA-REDONDA SOBRE DIVERSIDADE

Por Tiago Cisneiros, para o Boletim UNICAP.
A Católica promove, no dia 29 de setembro, a mesa-redonda “Sociodiversidade: multiculturalismo, tolerância, inclusão”, que integra a série de encontros destinados aos alunos selecionados para a prova do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) 2009. O evento, que é aberto ao público em geral, tem duas sessões (às 9h30 e às 20h), no auditório G1 da Universidade, localizado no primeiro andar do bloco G.
Os palestrantes da mesa-redonda “Sociodiversidade: multiculturalismo, tolerância, inclusão” são o coordenador do Mestrado em Ciências da Religião, Gilbraz Aragão, e o professor do curso de Jornalismo da Católica, Nadilson Manoel.

Por Rebeca Kramer, para o Boletim UNICAP.
A segunda etapa da versão 2009 do Construindo o Pensar foi realizada na noite desta terça-feira (29), no auditório G1 da Universidade. Idealizada com o objetivo de fazer com que os temas contemporâneos, como inclusão social, biodiversidade, multiculturalismo e violência sejam debatidos, o projeto promoveu a mesa-redonda intitulada: Sociodiversidade: multiculturalismo, tolerância, inclusão. Especificamente voltada para os alunos que serão submetidos ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o evento contou com a participação da coordenadora Geral de Graduação da Universidade Católica, professora Aline Grego, do coordenador do Mestrado em Ciências da Religião, Gilbraz Aragão, e do sociólogo e professor da Unicap, Nadilson Silva.
(...) Nadilson exibiu um vídeo cujo personagem principal era o antropólogo Darcy Ribeiro afim de introduzir a temática da diversidade cultural. O objetivo foi o de relatar novos dados na historiografia oficial sobre a formação do povo brasileiro. Segundo o sociólogo, o Brasil era tido como uma fantasia no imaginário europeu... “O Brasil, assim denominado em 1500, foi, muito mais do que colonizado, invadido”. Com a chegada do europeu, começou a acontecer o que Nadilson definiu como extinção biológica do povo nativo: “Os portugueses vinham em navios sujos, cheios de doença. Os índios foram, então, dizimados também dessa forma. A guerra também não fazia parte de sua cultura”.
Quando houve a incorporação da violência ao processo migratório brasileiro, Nadilson explicou que esse processo não se deu como na "novela das oito", com momentos de amor. Os europeus pegavam as jovens africanas de 13 e 14 anos para ter relações: “A miscigenação deve ser vista como um caso de estupros e de violência e a obra O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, retrata isso perfeitamente. Lá, são apontadas as reais matrizes fundantes do povo brasileiro. A miscigenação forçada teve consequências muito grandes para a construção da identidade nacional”. Para o palestrante, o brasileiro quer vender a imagem de um povo pacífico, apesar da contradição de ser um dos povos que mais mata no mundo. O povo europeu, finalmente, só passou a se misturar com pessoas de etnias diferentes de forma pacífica a partir da 2ª Guerra Mundial. “Mas, o que há de errado com a miscigenação?”, questionou Nadilson.
Sobre o brasileiro não ter conflitos religiosos, Nadilson encara esse fato como um mito. “Até a pouco tempo eram proibidos os cultos afro no Brasil. As religiões precisavam se adequar às cristãs. A própria cultura indígena era subjugada dentro de uma ideia de bem e de mal e essa forma maniqueísta, bastante utilizada pela Igreja Católica, é repetida hoje por outras instituições”. No mundo contemporâneo, houve um imaginário de embranquecimento do povo brasileiro, um ideário de um Brasil cada vez mais branco. “Com o genocídio do jovem negro e do mestiço, talvez a poligamia seja até mais tolerável entre os pobres por conta da morte desenfreada de tantos negros”.
Muitas pessoas afirmam que o povo brasileiro fala somente o português e que o Brasil é um país peculiar pelo seu território continental. E esse é o orgulho do povo brasileiro, segundo Nadilson. “Isso é pura mentira. E os dialetos indígenas? Eles não podem ser vistos como um povo à parte. O que acontece é um processo de exclusão dessas línguas”, expôs.
A exclusão dos negros acontece também em sala de aula, o que reflete o processo de um sistema capitalista de democracia representativa extremamente confusa e sem embasamento. “Nunca tive em sala de aula mais de três negros para ensinar. Muito menos índio. Daí a gente questiona: onde fica a diversidade?”, indagou.
Na ocasião, o professor ainda chamou a atenção para o manguebeat, movimento cujo maior representante foi Chico Science, que traz reflexões acerca da questão da etnia e das diversidades. Nadilson trouxe o segundo CD do músico e tocou a terceira faixa, Etnia:
"Somos todos juntos uma miscigenação. E não podemos fugir da nossa etnia. Índios, brancos, negros e mestiços. Nada de errado em seus princípios. O seu e o meu são iguais. Corre nas veias sem parar. Costumes, é folclore é tradição. Capoeira que rasga o chão. Samba que sai da favela acabada. É hip hop na minha embolada.
É o povo na arte. É arte no povo. E não o povo na arte. De quem faz arte com o povo.
Por de trás de algo que se esconde. Há sempre uma grande mina de conhecimentos e sentimentos. Não há mistérios em descobrir. O que você tem e o que gosta. Não há mistérios em descobrir. O que você é e o que você faz.
Maracatu psicodélico. Capoeira da Pesada. Bumba meu rádio. Berimbau elétrico. Frevo, Samba e Cores. Cores unidas e alegria. Nada de errado em nossa etnia".
Para finalizar a mesa-redonda, o professor Gilbraz Aragão abordou a temática Diversidade Religiosa e Direitos Humanos. Na ocasião, trouxe alguns artigos da Constituição onde constam aspectos de interesse no assunto. Segundo o professor, toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Nisso, estaria incluído a possibilidade de mudar de religião ou de convicção. “No mundo, são sete bilhões de pessoas com diferentes histórias de vida, sonhos, crenças e religiosidades. Todos temos o direito de buscar o melhor para nós. Ninguém é melhor do que ninguém, embora algumas pessoas pensem que são”.
Para Gilbraz, as diferenças de religião contribuem para semear o ódio e a intolerância, quando deveria servir de elo entre as pessoas. Segundo o artigo 5° da Constituição, é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
Segundo a Proposta 113 do Programa Nacional dos Direitos Humanos, deve-se incentivar o diálogo entre movimentos religiosos sob o prisma da construção de uma sociedade pluralista com base no reconhecimento e no respeito às diferenças de crença e culto. “Colonizadores europeus trouxeram outras divindades, crenças e cultos. Vivenciamos uma enorme mistura de cores que compõe a diversidade humana do povo brasileiro”, argumentou Gilbraz.
“A intolerância também faz parte da nossa geografia, embora houvesse a necessidade do respeito e do se colocar no lugar do outro. O ser humano agredido e humilhado poderia ser a própria pessoa”. Gilbraz colocou, ainda, o fato de que ninguém nasce odiando a outra pessoa pela cor ou pela religião. “As pessoas aprendem a não gostar das outras. Por que não ensiná-las a amar o diferente?”, perguntou. “Toda cultura cultiva as dimensões da produção, parentesco e palavra, segundo um certo costume ou ethos. E no centro desse ethos há um núcleo ético-mítico, de religiosidade, que pode favorecer o encontro com o outro, ou dificultá-lo”. Por onde vai o nosso engajamento pedagógico e cidadão?!

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