A abertura em BH:
Por PUC-MINAS
A noite de abertura do 2º Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (Anptecre), na última segunda-feira, dia 24, foi de consolidação dos resultados alcançados por pesquisadores, professores e diretores de institutos de todo o País para a criação de um grupo forte de estudos e pesquisas na área. Tanto que a Anptecre foi comparada a uma jovem adulta, apesar de sua precocidade de apenas dois anos de existência. Isto porque foram anos de trabalho para que o grupo conseguisse se organizar e formar uma associação, que durante a abertura do congresso teve a representatividade de 15 instituições de ensino de Ciências da Religião e Teologia do Brasil.
Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Capes, o 2º Congresso da Anptecre foi aberto pelo diretor do Instituto de Filosofia e Teologia Dom João Resende Costa, professor padre Antônio Francisco da Silva, que, representando o reitor da PUC Minas, professor Dom Joaquim Mol Guimarães, destacou a importância da presença das instituições e da variada pauta de debates que os grupos temáticos irão discutir, inserindo o discurso dentro da realidade brasileira.
Para o reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, professor Padre Jaldemir Vitório, o Congresso é "uma vitória dos nossos professores neste momento importante de reflexão. É um marco no eixo do trilho dos programas de pós-graduação do Brasil. A consolidação da nossa área na produção científica", completa.
O presidente da Anptecre, professor João Edenio Reis Valle, lembrou que a área é nova na Academia, se constituindo apenas há 30 anos com o nome de Ciência da Religião. "O Estudo da Religião vem desde os jesuítas e dos protestantes há séculos. Mas na Academia, somos jovens. A Anptecre estava no berço e agora entramos no século 21 como adultos, socializando o nosso conhecimento, sendo uma das áreas mais produtivas da Capes. O Congresso é fundamental para conhecermos os trabalhos, trocar idéias, formarmos novos grupos. Temos uma temática rica. É um momento de alegria para todos".
Em seus 25 anos de existência a Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter), segundo seu presidente, o professor, Afonso Maria Ligório Soares, são muitos os debates que envolvem a teologia no Brasil, a começar pela regulamentação da profissão, as normas curriculares para o ensino de religião nas escolas, bem como qual profissional está habilitado a ministrar a disciplina. "É um momento de grandes desafios".
Depoimento do organizador:
Por Portal UAI
"Fé e religião sempre despertaram o interesse dos que pensam que o sentido se diz de muitas maneiras, não se esgotando em nenhum tipo de explicação elaborada pela razão conceitual. No Brasil, apesar da riqueza de suas manifestações religiosas e da resistência à secularização, as diferentes expressões do crer e da religiosidade foram, por muito tempo, marginalizadas nos ambientes acadêmicos, onde imperavam as críticas a Deus e à religião feitas pelos deísmos e ateísmos modernos. Isso explica a pouca importância e a quase ausência dos estudos do fenômeno religioso nas universidades públicas do país e sua relativa concentração em instituições de tipo confessional: institutos e universidades católicas e protestantes.
O reconhecimento civil de cursos de teologia pelo Ministério da Educação e os mestrados e doutorados em teologia e ciências da religião têm modificado a situação à qual estavam relegadas a fé e a religião no debate universitário brasileiro. A criação, em 1985, da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter) e a fundação, em 2008, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (Anptecre), que reagrupa 14 programas de pós-graduação (seis em teologia e oito em ciências da religião), são indícios da nova situação que as questões do crer e da religiosidade adquiriram no mundo acadêmico nacional nas últimas décadas. Apesar de estarem juntas nos organismos que congregam pesquisadores e instituições que estudam os temas ligados ao crer e à religiosidade, a teologia e as ciências da religião têm olhares distintos, embora complementares, sobre os fenômenos que investigam.
A teologia, palavra de origem grega para designar o "discurso sobre as coisas divinas", foi usada por alguns filósofos gregos para dizer o mais alto dos conhecimentos teóricos, mas, no cristianismo, tornou-se o vocábulo para expressar a inteligência crente da fé. Os termos dessa definição dizem bem o específico dessa área do saber nas distintas confissões cristãs. Trata-se de recorrer à razão para entender aquilo em que se crê. No cristianismo, o objeto da fé é o Deus revelado em Jesus Cristo, experimentado na comunidade dos crentes como fundamento e sentido radical da existência. Uma das fontes do saber teológico são os textos que os fiéis acolhem como sagrados ou revelados e que testemunham a ação divina numa história que tem como ápice a vida de Jesus de Nazaré. O que esta vida suscitou como sentido na existência dos fiéis e das comunidades cristãs ao longo dos séculos foi dando origem a uma visão de Deus, do Cristo, do ser humano, de sua salvação, da vida eclesial, dos valores e normas do agir cristão, dos ritos e símbolos que atualizam liturgicamente o vivido por Cristo na existência crente. Esses elementos se formularam ao longo dos séculos e no encontro com outros saberes, constituindo o conteúdo das distintas disciplinas teológicas: as de teor bíblico (diversas teologias dos livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento), as de teor dogmático ou sistemático (teologia fundamental, estuda temas da fé e da revelação; trindade, estuda a questão do Deus cristão; cristologia; eclesiologia, estuda a questão da Igreja; antropologia teológica; sacramentos; escatologia, estuda a questão do destino final do ser humano e do mundo; e história do cristianismo), as de teor ético (moral fundamental, bioética, ética sexual e social) e as de teor pastoral (catequese, organização eclesial e pastoral).
As outras religiões do mundo possuem também sua própria reflexão sobre aquilo que creem, tendo ou não elaborado-a teoricamente. Já as ciências da religião se constituíram a partir do século 19 e a partir de uma reivindicação de independência com relação à confissão eclesial, à teologia e à filosofia da religião. No início elas tiveram forte influência dos métodos das ciências empíricas, adquirindo, no entanto, uma visão mais reflexiva na medida em que adotaram uma leitura mais complexa do fenômeno religioso. Suas principais disciplinas são: a sociologia, a psicologia, a antropologia, a história e a fenomenologia da religião. Elas elaboraram aos poucos as temáticas suscitadas pelo fenômeno religioso e o modo de abordá-las. Dentre essas temáticas se destacam: o sagrado (visto como transcendência, alteridade, exterioridade, absoluto ou sentido último), os símbolos e os ritos, a instituição e o interdito (lei), o dom, o sacrifício, a ação, a ambivalência do numinoso/sagrado (terror e veneração), a mentalidade primitiva ou selvagem, a relação entre modernidade e tradição, as heranças, a secularização, o papel social da religião.
Como se pode perceber, o interesse e a epistemologia da teologia e das ciências da religião são distintos. Isso não impede que elas possam se relacionar e se enriquecer mutuamente. é essa convicção que fez com que em nosso país as entidades dedicadas ao estudo da teologia e das ciências da religião reagrupassem em seu seio pesquisadores e programas de pós-graduação de ambos os campos do saber. De fato, a teologia aprende muito com as ciências da religião, pois descobre com elas um novo significado nos textos e conteúdos dogmáticos, éticos e pastorais que estuda, além de adquirir um olhar mais crítico sobre os textos sagrados e sobre a doutrina, a ritualidade, a simbólica, a história e a instituição eclesiais. O mesmo se dá com as ciências da religião, que percebem na teologia mais que a convicção dada pela crença, a saber: a coerência e a racionalidade de sua fé e prática. Esse intercâmbio tem dado origem a produções originais nos dois campos do saber, fazendo com que muitos de nossos teólogos e cientistas da religião sejam reconhecidos além das fronteiras do Brasil.
Esses olhares cruzados sobre a fé e a religião nem sempre são concordantes, pois a convicção, própria ao crer, é muitas vezes vista como incompatível com a pretensa objetividade da ciência, e esta, por sua vez, nem sempre é percebida como tão objetiva quanto pretende ser. Na busca de salvaguardar e enriquecer o diálogo, a teologia e as ciências da religião têm recorrido, nas últimas décadas, a dois métodos importantes na apreensão do crer e da religiosidade: o método fenomenológico e o método hermenêutico. O primeiro faz aparecer, na riqueza de sua manifestação, os elementos específicos do fenômeno religioso e da experiência crente, mostrando que entre o sujeito que observa e aquilo que é observado existe uma relação de mútua implicação. O segundo aprofunda essa relação, recorrendo às mediações a partir das quais o fenômeno religioso e a experiência crente são acessíveis ao pesquisador: textos, símbolos e ritos, mostrando seu sentido e relevância para os que os tomam como objeto de interpretação" (Geraldo Luiz De Mori, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Teologia da FAJE, presidente da comissão organizadora do II Congresso da Anptecre).
A participação da UNICAP:
O Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP esteve presente no Congresso. Zuleica, João Luiz, Sérgio, Drance e Gilbraz foram os professores, acompanhando os estudantes Barroca, Gil, Ijaciara, Carlos e Penha. Fizeram comunicações e conferência, além de coordenarem Grupo de Trabalho. Veja aqui a programação completa e confira nossa participação, que serviu para projetar nacionalmente os estudos e pesquisas do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião do Recife. Gilbraz até gravou, sobre o tema "Ecumenismo e Diálogo", um programa Opinião, da Rede Minas (vai ao ar 19 de setembro, 14h, canal 20 na tv a cabo).
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O prof. Gilbraz, coordenador do mestrado da UNICAP, fez também uma das três conferências do evento, sobre "Fenomenologia, Diálogo Inter-religioso e Hermenêutica". Na noite do dia 25, falou que "assistimos a muitas discussões nos últimos anos sobre a epistemologia própria aos âmbitos das teologias e das ciências da religião. O tema se prolonga com a contenda sobre os principais métodos de abordagem dos processos religiosos no último século: o da fenomenologia e o da hermenêutica". Apontou, então, o comprometimento com a elucidação do pluralismo religioso e o engajamento no diálogo entre as religiões como um dinamismo cultural que exige e permite que circunscrevamos o campo epistemológico das pesquisas sobre religiões, pelos balizadores da comparação fenomenológica dos fatos e da interpretação hermenêutica dos significados. E concluiu perguntando pela possibilidade de uma "abordagem integral", que associe tanto as crenças mais tradicionais das grandes religiões, quanto os princípios culturais e científicos modernos e pós-modernos, em busca de um novo lugar para a religião no mundo: o de uma espiritualidade transreligiosa – em correlação com uma ciência transdisciplinar.
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Tem mais: a assembléia da ANPTECRE decidiu que o próximo congresso será em 2011, em São Paulo, sobre os entroncamentos e entrechoques das teologias com as ciências da religião, tanto nos aspectos epistemológicos quanto nos político-pedagógicos. Por conta disso, os Programas de Recife e Goiás decidiram convidar o de João Pessoa, além das especializações e grupos de estudo de Natal, Maceió e Aracaju, para realizarem, com o "selo ANPTECRE", um Encontro Regional em 2010, no Recife, sobre Diálogo Inter-religioso (em sintonia com o encontro anual da SOTER e aproveitando a experiência do Observatório das Religiões da capital pernambucana).
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