5 de abr. de 2011

ABERTURA DA JORNADA DE HERMENÊUTICA

Por Elano Lorenzato e Luísa Nóbrega, no Boletim UNICAP.

O Mestrado em Ciências da Religião, o curso de Teologia da Universidade Católica de Pernambuco e o Bíblia, Comunicação e Arte da Unicap, em parceria com o Programa Nacional de Cooperação Acadêmica – Procad, realizam a Jornada de Hermenêutica Sociorreligiosa e Bíblica. A abertura do evento ocorreu na noite desta segunda-feira (4), às 19h, no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), no 1º andar do bloco B.

A mesa foi composta pelo Reitor da Católica, Padre Pedro Rubens, e pelo Prof. Dr. Daniel Marguerat, da Universidade de Lausanne, na Suíça. Padre Pedro deu as boas-vindas aos presentes e abriu os trabalhos da noite. Em seguida, o coordenador do curso de Teologia da Católica, professor Cláudio Vianney, fez a apresentação do convidado.

“O professor Daniel Marguerat é professor emérito da Universidade de Lausanne, na Suíça. Então, nós temos a alegria de recebê-lo aqui, em nossa Universidade Católica de Pernambuco. O currículo do professor Daniel Marguerat é bastante extenso e eu escolhi falar das suas publicações, mas, também, as suas publicações são muitas, aí eu me restringi a falar das publicações do professor já traduzidas ao português. Nós temos o livro: Para Ler as Narrativas Bíblicas, Iniciação à Narrativa Bíblica, publicado no Brasil em 2009; nós temos, também, um outro livro, publicado em 2009, que se chama: Novo Testamento, História, Escritura e Teologia, publicado pela Loyola; e o terceiro livro, publicado no ano de 2003, que se chama: A Primeira História do Cristianismo, os Atos dos Apóstolos. Nesse momento, eu passo a palavra ao professor”, finalizou o professor Cláudio Vianney.

O palestrante suíço pronuncia suas primeiras palavras em português. “Obrigado. Boa Noite. Eu estou feliz por estar aqui com vocês. Agradeço muito ao professor Pedro Rubens pelo convite para vir ao Recife e ao professor Cláudio Vianney pela tradução de meu texto”. Em seguida, apresentou, em francês, sua palestra com o tema “Ler a Bíblia como uma narrativa: Um novo método de leitura”. Confira alguns trechos da apresentação do professor Daniel Marguerat, que teve a tradução apresentada em telão:

“Todo mundo, ou quase, sabe o que é a magia da narrativa. Pois todo mundo, ou quase, teve uma mãe, um pai, uma avó ou um avô que lhe contaram histórias quando era pequeno. Em toda parte, em todos os períodos da história e em todas as latitudes, os humanos contaram histórias uns aos outros. A magia do ‘era uma vez’, a magia da narrativa, cada um, penso eu, já a experimentou. Uma só frase basta: ‘Quando Deus começou a criar o céu e a Terra, a Terra estava deserta e vazia…’. Citei as primeiras palavras da Bíblia. Uma frase ressoa, e o narrador abre um espaço que os leitores são convidados a habitar. O poder de atração da narrativa é essa capacidade de abrir um mundo que o leitor, a leitora vai percorrer, um mundo povoado de personagens, e eis o leitor tomado por uma ação na qual não faltam nem surpresas, nem imprevistos. Porque solicita o imaginário do leitor, a narrativa o faz viajar em um piscar de olhos no espaço e no tempo.”

“Foi o filósofo francês Paul Ricoeur que falou do ‘mundo do texto’. Com isso, ele queria mostrar que a função da narrativa é a de construir um mundo que o leitor pode habitar. O leitor vai, no instante de uma narrativa, viver com as personagens desse mundo, alegrar-se com elas, sofrer com elas, temer por elas. Visto de perto, esse mundo de ficção que a narrativa propõe ao leitor é uma construção complexa. Ele se compõe de um enredo, de uma rede de personagens, de uma concepção de tempo, de uma gestão de espaço, de um sistema de valores, de um código de comunicação. A história contada é tecida de ditos e de não-ditos, avança e volta para trás. Resumindo, nós sabemos bem: há bons e maus contadores. Não basta abrir a boca para ser um bom contador. Contar histórias é uma arte.”

“A narratologia fez o inventário dos meios de que dispõe todo narrador, antigo ou moderno, para construir sua narrativa. Esses meios são em número de seis. E o ponto de partida da análise narrativa consiste em sondar o texto a fim de identificar como o narrador, ao compor a narrativa, utilizou esses seis instrumentos. Compreendemos que é o uso conjugado desses seis meios que permitem construir uma narrativa. Primeiro instrumento: o enredo; segundo instrumento: a construção das personagens; terceiro instrumento: o ponto de vista; quarto instrumento: a temporalidade; quinto instrumento: o quadro e o sexto instrumento: os comentários do narrador.”

“Para concluir, a narratividade não é somente um envelope da mensagem. Se judeus e cristãos contam histórias, é porque creem em um Deus que se revela na história. Contar histórias, é fazer memória daquilo que adveio na história. A narrativa é o testemunho agradecido de um Deus que se dá a conhecer na espessura de uma história de homens e de mulheres, uma história vivida. Eis porque a salvação se diz em uma narrativa: a narrativa é o veículo privilegiado da encarnação. Dizer Deus em uma história contada é dizer o Deus que se encarna na história humana.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela sua participação!