10 de fev. de 2010

101 ANOS DO DOM

Se Dom Helder Câmara estivesse vivo, teria completado no último domingo 101 anos de vida. Sem dúvida, sua existência significou enorme avanço nas dinâmicas da Igreja Católica no Brasil no Brasil e alhures. Mas os horizontes do Dom ultrapassavam os muros eclesias: ele nos causou uma surpresa estonteante quando da publicação (no Diário de Pernambuco de 7 de maio de 2000, p. 2) da carta enviada a Jerônimo Podestá, bispo casado, e sua esposa Clélia. Trata-se de uma declaração de três sonhos que o Dom tinha em outubro de 1981 (então com 72 anos e às vésperas de aposentar-se da diocese). O primeiro sonho era de, como Igreja, colaborar na integração latino-americana, para ajudar os pobres desses países irmãos a conquistarem independência econômica e cultural.

O segundo sonho era de tornar possível – nem que fosse “ajudando da Casa do Pai” – a realização do Concílio de Jerusalém II, para transformação da Cúria Romana, de modo a tornar-se, efetivamente, serviço à colegialidade episcopal e à corresponsabilidade de todo o Povo de Deus, para “libertar-se da engrenagem do dinheiro e da tentação de prestígio, e viver o anúncio da Boa-Nova com salvaguarda efetiva das culturas, no meio das quais o Espírito de Deus sempre semeou verdades cristãs que se ignoravam”. Até aí, por mais escândalo que isto já provoque, tudo bem: era de se esperar do velho Dom. Mas vejam o terceiro sonho:

“... diálogo autêntico com os mundos dos mundos: nós sabemos que a galáxia a que pertencemos está longe de ser das maiores. Nosso Sol, que nos parecia imenso, é de sexta ou sétima ordem. Nossa Terra é poeira na cavalgada dos Astros. Como cristãos, jamais esquecemos que o Filho de Deus se encarnou em nossa Terra, pequenina e humilde. Mas como insistir em pensar que o Criador, infinitamente sábio e poderoso, criou bilhões de estrelas, milhões de vezes maiores do que a Terra, só para ficarem a enormes distâncias cintilando para a alegria do olhar humano! Será orgulho absurdo pretender que a vida e sobretudo vida inteligente e livre somente exista na Terra. Deve haver, nos mundos dos mundos, Vida no nível da nossa, Vida abaixo e Vida acima do nível da nossa. O problema para a criatura humana seria atingir mundos tão distantes...”.

E o Dom sai por aí sonhando em se relacionar com outros mundos: “Ainda hoje, há quem duvide da descida do homem na Lua. Há quem diga que se é verdade (a chegada à Lua) é sinal do fim do Mundo, quando ainda estamos no primeiro dia da Criação”. E ainda arremata: “Pretendo entrosar-me, sempre mais, com especialistas em Astronomia e em Astronáutica, em Astrofísica, em Astroquímica, em Astropolítica, para ajudar a trazer a Igreja de Cristo em dia com a marcha do sonho número três”. Eis, portanto, um estímulo para o nosso desejo de estudar mais, de dialogar com a cultura pós-moderna e com tudo deste mundo – e até dos “outros mundos”.

Leia aqui a Revista Continente especial sobre o Dom (ano 2009, edição 98)

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