A Universidade Católica de Pernambuco está arrecadando donativos para as vítimas do terremoto que devastou grande parte do Haiti, país do Caribe que é o mais pobre da América Latina. A campanha está sendo feita em parceria com a Cáritas, entidade da Igreja Católica que atua pelos direitos humanos e desenvolvimento sustentável. Podem ser doados alimentos não perecíveis, água, roupas e toalhas. O telefone para maiores informações é 81-2119-4238.
Em meio à tragédia desse terrível terremoto, à solidariedade que ela deve despertar em todos nós e às lições que deve deixar para as nossas existências (veja aqui uma meditação de Torres Queiruga, a respeito), um fato, todavia, não pode deixar de ser refletido pelos estudiosos das religiões. É que o cônsul geral do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, foi flagrado no último dia 14 afirmando que a tragédia no seu país está ajudando a divulgar o Haiti (“A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido”) e atribuindo a culpa do terremoto às religiões africanas praticadas em seu país ("Acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo… O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f…(…) todos os africanos e descendentes são amaldiçoados”).
A afirmação (que pode ser vista aqui) foi feita durante uma entrevista para o canal SBT, no momento em que o cônsul não sabia que estava sendo gravado. No que pesem as questões legais e éticas da divulgação de gravações clandestinas, poderíamos aproveitar o ensejo para pensar até que ponto pode ir a marginalização da religiosidade popular - que, aliás, nem é mencionada em nossos telejornais, quando o povo haitiano é mostrado rezando. Pois não se trata de uma declaração isolada: o pastor evangélico americano Pat Robertson atribuiu o terremoto a uma punição divina contra o povo haitiano, que supostamente assinara um pacto com o diabo para conseguir obter sua independência dos franceses!
A despeito de estatísticas oficiais, o Haiti é majoritariamente seguidor do vodu, que tem relação com outras manifestações de origem africana como o candomblé e a santeria. O vodu ou vodou é uma crença sincrética, que combina elementos do catolicismo e de religiões tribais da África. Nele se venera um deus principal, o “Bon Dieux”, e aos antepassados. Seu nome costuma evocar ritos nos quais um feiticeiro crava agulhas em um boneco para fazer com que uma vítima relacionada sofra dores horríveis (os ditadores do Haiti usavam tais rituais para amedrontar o povo).
Mas no vodu haitiano acredita-se que há um Deus que é o criador de tudo, chamado de "Bondje" (do francês "Bon Dieux"), mas são os espíritos ou os "mistérios", "santos" ou "anjos", assim como os antepassados, que são invocados para ajudar as pessoas. O voduísta adora Deus e serve aos espíritos, que são tratados com honra e respeito como se fossem membros mais velhos de uma casa. O amor e a sustentação dentro da "família" de vodu são a consideração mais importante. A generosidade em dar à comunidade e aos pobres é também um valor importante. As dádivas vêm através da comunidade e se deve estar disposto a retribuir.
Veja o vídeo (em espanhol, da TV caribenha Telemicro) sobre o vodu e diga o que você pensa da condenação que o cônsul fez da religião do seu povo (basta clicar no título deste artigo para aparecer a opção de comentário):
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