8 de set. de 2009

TEÓLOGO LANÇA LIVRO E MINISTRA PALESTRA


Por Rebeca Kramer, no Boletim Unicap.
“Tiro o chapéu de Reitor nessa hora e, agora, falo como professor do Mestrado em Ciências da Religião”. Comovido, o Reitor da Católica, Padre Pedro Rubens, assim abriu a palestra “O cristianismo como estilo: uma maneira de fazer teologia na pós-modernidade”. A emoção tem um nome: Christoph Theobald, o palestrante. Este homem, que não compreendia muito bem a pluralidade brasileira, encontrou, no Padre Pedro, enquanto seu orientando do doutorado na França, uma janela para o mundo da diversidade cultural e religiosa do Brasil.
A ocasião marcou, também, o lançamento do livro de Christoph “Transmitir um evangelho de liberdade”, em primeira mão no Brasil. De acordo, ainda, com Padre Pedro, o primeiro exemplar do livro foi recebido pelo novo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. A obra foi vendida, à vista, pelo preço de R$ 31.
O evento, que aconteceu na noite da última sexta-feira (4), no Centro de Teologia e Ciências Humanas, contou, ainda, com a presença do coordenador do curso de Teologia da Universidade, professor Cláudio Vianney Malzonni, na tradução da fala do convidado. Segundo o Reitor, Padre Pedro Rubens, o texto trabalhado na apresentação do jesuíta alemão Christoph Theobald entrará na próxima edição da Revista de Teologia e Ciências da Religião da Unicap.
O livro, como propõe o autor, revela as condições de transmissão do evangelho de liberdade e suas dimensões antropológicas e cristãs. “Minha intenção foi fazer um elo entre o cristianismo e o estilo. E, assim, fazer disso uma situação surpreendente”, afirmou. Baseando-se em estudiosos como Merlau-Ponty e Malraux, Christoph colocou o estilo de uma obra de arte como uma maneira de habitar o mundo, ou, ainda, todo o estilo como a colocação em forma de elementos do mundo que permitem orientá-lo em direção a uma de suas partes essenciais. “O mundo é uma metamorfose. E, para descrevê-la, é preciso situar-se entre o movimento de Jesus de Nazaré e a Igreja nascente, passagem constitutiva da fé cristã”, expôs.
Segundo o teólogo, a maneira de habitar o mundo caracteriza-se por certo tipo de relação entre aqueles que Jesus encontra ao improviso e pelo efeito que, então, resulta. “Esses termos podem ser consignados em duas palavras: hospitalidade e espiritualidade”, observou. “A hospitalidade, por definição, é a capacidade de aprendizagem ou desprendimento de si em proveito da presença de qualquer outro aqui e agora”.
Em outras palavras, o estudioso expõe que a capacidade de aprender com todo aquele que chega e em qualquer situação cria em torno da pessoa um espaço de liberdade, formando uma aproximação com aqueles que o procuram. “Esse espaço de vida desses indivíduos que vêm a Jesus faz com que entendam sua própria identidade e expressem um ato de fé e de vida interior que todos têm. Mas, depois, pela liberdade proporcionada, tem todo direito de partir”, revelou.
Em suma, a hospitalidade determina a santidade das pessoas, a capacidade de aprendizado e o desprendimento de si em função do outro. E esse desprendimento revela a autoridade humana. A santidade hospitaleira do nazareno “brilha porque o pensamento, a palavra e os atos unem-se em seu ser”. “Devemos perceber a santidade em ação como uma descoberta, em si, de um mesmo possível”, complementou.
Na ocasião, ainda, o teólogo alemão abordou a temática das contrariedades: nascer e morrer. Colocou, os opostos, como fenômenos universais na tradição bíblica e que a morte, assim como a mentira, estão muito unidas. “O poder que a morte exerce sobre a vida é somente factível. A morte provoca o ser humano a reagir, a buscar o que considera ser de direito. Para Francisco de Assis, por exemplo, a morte é uma irmã”, ressaltou. E prosseguiu: “O messias é aquele que desarma a morte, fazendo ecoar a novidade de uma bondade radical e sempre nova. E, portanto, escutar essa novidade supõe identificar sua origem”. Christoph Theobald, em seguida, colocou a importância de Deus pai nesse processo, pois, somente uma origem paterna poderia carregar o peso desta “feliz novidade”.
A identidade cristã ultrapassa o que uma abordagem doutrinal pode alcançar. Com isso, um outro modo de abordagem se impõe: o estilo. Um conceito que implica a noção de pluralidade. “É preciso encarar a identidade cristã até o seu limite de hospitalidade”, afirmou, afinal, “é próprio de toda hospitalidade dar acesso a alguém, mas deixar a pessoa partir”. Segundo o alemão, a hospitalidade é algo que se passa na porta, por isso, é correto mandá-la “entrar”. Segundo Christoph, a pessoa tem a necessidade de ter espaços delimitados. Mas, não seria no fechamento desses locais onde se definiria o cristianismo. “Ele se define no que entra e sai, num ambiente criado por seres hospitaleiros. E é na formação e na educação dos sujeitos que estão os alicerces para se descobrir o espaço de cada um”, revelou.
“O humano é um ser inacabado, seja quando nasce, ou durante a própria vida”. De acordo com Theobald, a vida pede ao homem que lhe dê crédito. Que tenha coragem de existir.Que o ser humano deve apostar que a vida vai manter sua promessa. “O desafio de toda formação de existência é esse crédito que se dá à vida”, disse. O teólogo destacou a credibilidade das figuras de identificação nesse caminho, como os pais, educadores e professores e, além deles, do espaço comunitário, um espaço hospitaleiro. “E cada nova pessoa que chega a esse espaço pode recriá-lo”, observou.
“Entrar como novo testamento na questão da identidade espiritual e ética é confiar na capacidade elementar de todo ser-humano de perceber a credibilidade de outrem e dar forma a sua existência no seio de um espaço hospitaleiro”, resumiu Theobald.
“O estilo lembra estética. E a fé lembra ética. O que salva o mundo, então: A beleza ou o amor?”, questionou o coordenador do Mestrado em Ciências da Religião, professor Gilbraz Aragão. “Acredito que esses três pontos: estética, ética e teologia são abordagens fenomenológicas que devem buscar unicidade. Essas três categorias nos ajudarão a habitar o mundo. E o cristianismo nos propõe uma maneira ativa de habitar o mundo: a regra de ouro - não fazer ao outro o que não quer de volta - e a ausência de mentiras”, respondeu. Prosseguindo com a resposta, Christoph Theobald pediu que o homem se colocasse no lugar do outro, mas, sem deixar seu próprio lugar por compaixão e simpatia. “Seguir a vertente ética da tradição cristã só é possível porque esse mundo ético nos é aberto pela graça. Porque eu diria que há algo de sedutor na beleza. O ético também pode virar um legalismo e o estético um esteticismo”, encerrou.

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