Enquete: qual destas questões é própria das Ciências da Religião
(e não da Teologia, Filosofia ou História)?!
A Bíblia tem razão? 1%
Os espíritos incorporam de verdade? 3%
Qual o sentido deste fato religioso? 55%
Deus existe mesmo? 9%
Esta é uma experiência religiosa verdadeira? 9%
Que estruturas de produção explicam tal religiosidade? 18%
Este é o resultado da primeira enquete do nosso Blog, que foi sobre a questão própria das Ciências da Religião. Cinquenta e quatro pessoas votaram e 55 % votaram acertadamente na pergunta “Qual o sentido deste fato religioso”. Questões como “A Bíblia tem razão” ou “Esta é uma experiência religiosa verdadeira” são mais restritamente teológicas. “Deus existe mesmo” é um problema filosófico. “Que estruturas de produção explicam tal religiosidade” e “Os espíritos incorporam de verdade” correspondem a certas linhas de pesquisa da sociologia e da psicologia, historicamente datadas pela modernidade objetivista. Mas o que queríamos discutir com isso é sobre o campo epistemológico das Ciências da Religião, que é interdisciplinar e recebe colaborações teóricas (e estudantes) das áreas de História e de Hermenêutica, das disciplinas de Sociologia, Antropologia e Psicologia, bem como de Filosofia, Linguística e Teologia – exigindo, contudo, que tais aportes metodológicos sejam redimensionados epistemologicamente com base na comparação empírica dos fatos e na busca hermenêutica de significados, através de uma lógica dialogal (as Ciências da Religião se articulam em torno da cultura epistemológica das controvérsias). De modo que pesquisadores daquelas diversas áreas são bem-vindos às pós-graduações em Ciências da Religião e podem produzir trabalhos com enfoques desde as suas graduações, bastando que se coloquem questões atingíveis fenomenologicamente e trabalháveis hermeneuticamente.
O conceito de Ciências da Religião, cunhado por Max Müller (1823- 1900), deu origem a uma área acadêmica que busca esclarecer a experiência humana do sagrado. Sobre a base da história geral das religiões ergue-se o estudo comparativo das religiões, que aborda as religiões e seus fenômenos com questionamentos sistemáticos. Ele forma categorias genéricas e se esforça para apreender o mundo dos fenômenos religiosos de tal modo que transpareçam linhas fundamentais, sobretudo fazendo uso da fenomenologia. Enquanto a história das religiões constitui a base das Ciências da Religião, a pesquisa sistemática das religiões deve mostrar semelhanças e diferenças de fenômenos análogos (sobre o sagrado) em diversas religiões e apresentar a hermenêutica dos “textos” sacros em seus contextos. As relações entre religião e suas condições contextuais são então aclaradas por distintas disciplinas. Assim, por exemplo, a sociologia da religião ocupa-se das relações recíprocas entre religião e sociedade, incluindo também a dimensão política. A psicologia da religião dedica-se a processos religiosos que devem ser compreendidos a partir da peculiaridade do elemento psíquico. A geografia das religiões investiga as relações entre religião e espaço, sendo que este se entende não apenas em sentido físico, mas também cultural. E por aí vai... Assim também, a filosofia participa do campo epistemológico das Ciências da Religião desde que não reduza teoricamente o religioso a mero epifenômeno e busque sistematizar os fatos religiosos com maiores preocupações de objetividade; e a teologia, desde que se redefina metodologicamente como uma interpretação das tradições de fé e não se limite a expor uma doutrina religiosa. Desse modo, com as questões certas e os procedimentos adequados, podemos construir juntos a sinfonia polifônica do esclarecimento possível sobre as experiências religiosas.
Como vários estudantes de teologia mostraram interesses e dúvidas por ocasião da enquete, sugerimos as seguintes leituras para que possam aprofundar as relações entre teologia e Ciências da Religião: este artigo de Ethiene Higuet e este outro de Afonso Soares. Ainda para esclarecer as relações entre fenomenologia, teologia e Ciências da Religião, indicamos este texto de Hermann Brandt. Lembramos, também, aos teólogos, que em nosso mestrado a linha de pesquisa “Tradição Judaico-Cristã, Cultura e Sociedade” é um espaço para acolhê-los. Essa linha articula-se em torno dos seguintes temas: Textos Sagrados Judaico-cristãos, Patrologia e Apologética, Diálogo Inter-religioso, Cristianismo e Modernidade. Através das pesquisas geradas pela recuperação dessas temáticas da tradição cristã, em sintonia com os desafios lançados pela sociedade atual, pretendemos colaborar justamente para uma ressignificação da teologia enquanto ciência que desenvolve a interpretação de mitos, ritos e símbolos de tradições de fé – o que implica tanto a caracterização dos conceitos teológicos como símbolos, quanto a redescoberta de conteúdos racionais em narrativas míticas. Pretendemos cooperar, igualmente, para uma nova hermenêutica dos símbolos da tradição cristã, pelo realismo que se impõe a quem participa em um campo transdisciplinarmente aberto à história comparada das religiões e à crítica psico-social do fenômeno religioso.
Mas se problemas teológico-filosóficos não entram no seu caderno, também temos espaço para você em nosso mestrado. A linha de pesquisa "Campo Religioso Brasileiro, Cultura e Sociedade" baseia-se no pressuposto de que a prática coletiva da religião ou sua negação constitui-se em um fenômeno social cujo estudo crítico e sistemático, com o aporte multidisciplinar das diversas ciências, é essencial para a compreensão da cultura brasileira. Buscando produzir estudos histórica e socialmente significativos, diante da amplidão do campo religioso no Brasil, a linha definiu para os próximos anos, a partir das pesquisas desenvolvidas atualmente, três blocos temáticos nos quais ela se concentra: Religião e Práticas Políticas e Sociais, Identidade e Religião, e Identidade e Sincretismos Religiosos. Não faltam desafios acadêmicos, então, para a gente compartilhar!
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