Curso

O Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP (Rua do Principe, 526 - Boa Vista
Recife, PE - Cep: 50050-900 - CNPJ: 10.847.721/0001-95) foi criado pela Resolução nº 004/2004 do CONSEPE da Universidade e teve o seu último Reconhecimento Homologado pelo Conselho Nacional de Educação (Port. MEC 1077, de 31/08/2012, DOU 13/09/2012, seç. 1, p. 25). Se você tem gosto pelo estudo e pesquisa do fato religioso, não perca a ocasião de se pós-graduar em nosso Programa, que é recomendado pela CAPES e associado à ANPTECRE.


NOSSO PROGRAMA

A Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP originou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega, fundada em 1943 pela Companhia de Jesus. A UNICAP constitui hoje um complexo educacional, que oferece, para uma comunidade de aproximadamente 15.000 estudantes, cursos do ensino fundamental à pós-graduação. Em setenta anos de história, diplomou cerca de 50.000 estudantes. Essa comunidade de educadores se encontra no coração do Recife, buscando promover conhecimento, fé e justiça. Desde o princípio, a UNICAP procurou ajudar principalmente as comunidades cristãs na busca das razões para sua fé, no exercício do direito a uma religião esclarecida. Mas, seguindo a tradição dos jesuítas, de colaborar com tudo o que leva a humanidade “para frente e para cima”, a Universidade sempre esteve aberta ao estudo científico das religiões e à meditação mística sobre os dados das ciências. 

A UNICAP procurou promover o estudo da realidade interpretada simbolicamente e envolvida pela fé: realidade enquanto referida à dimensão do sagrado. O exercício da inteligência no domínio da espiritualidade levou à organização de cursos de Cultura Religiosa para todos os universitários, bem como a atividades de extensão teológica e a um Bacharelado em Teologia, reconhecido pelo Ministério da Educação. Uma marca da Católica de Pernambuco, nessa busca de educação da fé, é a acolhida e promoção do mais amplo ecumenismo entre as tradições religiosas que defendem a justiça e a caridade, o mais sincero diálogo com as pessoas que amam a vida e a liberdade. 

Por isso mesmo, em 2004, surgiu também a primeira turma do Mestrado em Ciências da Religião, pioneiro no Nordeste. O nosso Programa promove pesquisas sobre as religiões nos seus contextos histórico, social e cultural. Recorre ao instrumental teórico fornecido pelas ciências, sobretudo humanas, para de forma interdisciplinar desenvolver interpretações das diferentes manifestações de religiosidade, na sua relação com a cultura e a sociedade. Com efeito, a nossa área de concentração é em “Religião, Cultura e Sociedade” e temos duas linhas de pesquisa: Campo Religioso Brasileiro e Tradição Judaico-cristã. 

Os estudos transcorrem em dois anos, ao longo dos quais o estudante cursa disciplinas e seminários, além de preparar e defender uma dissertação. 24 créditos ao menos são exigidos, sendo 18 em disciplinas de 3 créditos (2 obrigatórias e 4 optativas - ou o equivalente em seminários de 1 crédito) e 6 em trabalho de elaboração da dissertação. O edital para seleção de nova turma é lançado no final do ano, mas o Programa acolhe estudantes para atividades isoladas em qualquer tempo.

O nosso quadro de professores (12 permanentes) é formado principalmente por doutores teólogos, mas também historiadores, biblistas, psicólogo e sociólogo. Os estudantes vêm, sobretudo, de graduações em teologia e em história. As nossas turmas são muito ricas em experiências religiosas e profissionais. Uma boa parte é constituída por professores de religião, mas tivemos também padres, monsenhor e até bispo, além de espíritas, pais e mães de santo e vários xangozeiros, e também pastores protestantes, oficial do Exército da Salvação e bruxa da Wicca, já recebemos médicos e psicólogas, artistas e dançarinos... Todos atraídos pelo anseio de um conhecimento mais universal sobre a religiosidade! 

Os Projetos de Pesquisa do Programa são organizados em três Grupos cadastrados no CNPQ: na Linha Tradição Judaico-cristã, o GRUPO DE PESQUISA CRISTIANISMO E INTERPRETAÇÕES articula pesquisas em torno dos Textos Sagrados Judaico-cristãos e das interpretações do Cristianismo na Modernidade. Na Linha Campo Religioso Brasileiro, o GRUPO DE PESQUISA RELIGIÕES, IDENTIDADES E DIÁLOGOS, partindo da constatação da complexidade de performances do cenário religioso atual, propõe-se a analisar os novos deslocamentos religiosos, dando ênfase às várias tentativas de configuração de diálogo inter-religioso, bem como às novas gramáticas constitutivas das identidades religiosas nesse contexto. E o GRUPO DE PESQUISA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES EM HISTÓRIA SOCIAL tem como finalidade a análise da inserção e expansão da cultura religiosa, abordando questões históricas, políticas e culturais, numa visão transdisciplinar. 

A produção acadêmica discente, que já está alcançando uma centena de dissertações (veja por aqui), concentra-se em descrições de fenômenos religiosos nordestinos, mormente os vinculados às manifestações populares advindas do catolicismo, pentecostalismo, religiões afro-brasileiras e novos movimentos religiosos. Registramos também várias dissertações que exploram mais teórica e hermeneuticamente as relações e diálogos entre as religiões e o relacionamento entre fé e ciência, ou que buscam compreender as fronteiras descortinadas pelas espiritualidades pós-religiosas e pela religião virtualizada através da internet. É crescente também o número de pesquisas sobre o Ensino Religioso, em seus fundamentos e métodos.

Temos revistas de professores e estudantes, temos site e este blog para comunicação das nossas atividades. Dentre as atividades de extensão do Programa, destacamos o Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife: um espaço virtual com o objetivo de analisar os fatos relacionados aos encontros e desencontros entre as religiões na região, analisando-os sob um enfoque transdisciplinar e plurimetodológico, não confessional e acadêmico. Esse espaço virtual desdobra-se em Grupo de Estudos sobre Trandisciplinaridade e Diálogo entre Culturas e Religiões, com reuniões semanais; os Eventos que procuram fomentar o diálogo, dentre os quais o Simpósio de Ciências da Religião, que é trienal; e, finalmente, o Fórum Inter-Religioso da UNICAP, que reúne a cada mês as lideranças religiosas para uma escuta mística da fé do outro, buscando multiplicar um espírito dialogal para todo o campus e para os educadores recifenses. Também em nível de extensão o Programa já organizou cursos mais formais de capacitação e especialização de professores, que foram oferecidos no campus e em parceria com centros universitários de Maceió, Natal e Boa Vista.

A área dos estudos da religião tem crescido (veja aqui) e está se tornando autônoma frente à área maior de filosofia, na articulação brasileira da pós-graduação pelo CNPQ/CAPES. O campo de conhecimento das Ciências da Religião é interdisciplinar e recebe colaborações teóricas (e estudantes) das áreas de História e de Humanidades, das disciplinas de Sociologia, Antropologia e Psicologia, bem como de Filosofia, Linguística e Teologia – exigindo, contudo, que tais aportes metodológicos sejam redimensionados epistemologicamente com base na comparação empírica dos fatos e na busca hermenêutica de significados, através de uma lógica dialogal (as Ciências da Religião se articulam em torno da cultura epistemológica das controvérsias). De modo que, além dos graduados especificamente em Ciências da Religião, pesquisadores daquelas diversas áreas são bem-vindos às pós-graduações em Ciências da Religião e podem produzir trabalhos com enfoques desde as suas graduações, bastando que se coloquem questões religiosas atingíveis fenomenologicamente e trabalháveis hermeneuticamente.
.
O conceito de Ciências da Religião, cunhado por Max Müller (1823- 1900), deu origem a uma área acadêmica que busca esclarecer a experiência humana do sagrado. Sobre a base da história geral das religiões ergue-se o estudo comparativo das religiões, que aborda as religiões e seus fenômenos com questionamentos sistemáticos. Ele forma categorias genéricas e se esforça para apreender o mundo dos fenômenos religiosos de tal modo que transpareçam linhas fundamentais, sobretudo fazendo uso da fenomenologia. Enquanto a história das religiões constitui a base das Ciências da Religião, a pesquisa sistemática das religiões deve mostrar semelhanças e diferenças de fenômenos análogos (sobre o sagrado) em diversas religiões e apresentar a hermenêutica dos “textos” sacros em seus contextos. As relações entre religião e suas condições contextuais são então aclaradas por distintas disciplinas.
.
Assim, por exemplo, a sociologia da religião ocupa-se das relações recíprocas entre religião e sociedade, incluindo também a dimensão política. A psicologia da religião dedica-se a processos religiosos que devem ser compreendidos a partir da peculiaridade do elemento psíquico. A geografia das religiões investiga as relações entre religião e espaço, sendo que este se entende não apenas em sentido físico, mas também cultural. E por aí vai... Assim também, a filosofia participa do campo epistemológico das Ciências da Religião desde que não reduza teoricamente o religioso a mero epifenômeno e busque sistematizar os fatos religiosos com maiores preocupações de objetividade; e a teologia, desde que se redefina metodologicamente como uma interpretação das tradições de fé e não se limite a expor uma doutrina religiosa. Desse modo, com as questões certas e os procedimentos adequados, podemos construir juntos a sinfonia polifônica do esclarecimento possível sobre as experiências religiosas.


LINHA TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ
.
Para quem vem da teologia sugerimos as seguintes leituras para um aprofundamento das relações com as Ciências da Religião: este artigo de Ethiene Higuet e este outro de Afonso Soares. Ainda para esclarecer as relações entre fenomenologia, teologia e Ciências da Religião, indicamos este texto de Hermann Brandt. Lembramos, também, aos teólogos, que em nosso Mestrado a linha de pesquisa “Tradição Judaico-Cristã, Cultura e Sociedade” é um espaço para acolhê-los. Essa linha articula-se em torno dos seguintes temas: Textos Sagrados Judaico-cristãos, Patrologia e Apologética, Cristianismo e Modernidade. Através das pesquisas geradas pela recuperação dessas temáticas da tradição cristã, em sintonia com os desafios lançados pela sociedade atual, pretendemos colaborar justamente para uma ressignificação da teologia enquanto ciência que desenvolve a interpretação de mitos, ritos e símbolos de tradições de fé – o que implica tanto a caracterização dos conceitos teológicos como símbolos, quanto a redescoberta de conteúdos racionais em narrativas míticas. Pretendemos cooperar, igualmente, para uma nova hermenêutica dos símbolos da tradição cristã, pelo realismo que se impõe a quem participa em um campo transdisciplinarmente aberto à história comparada das religiões e à crítica psico-social do fenômeno religioso.


LINHA CAMPO RELIGIOSO BRASILEIRO
.
Mas se problemas teológico-filosóficos não entram no seu caderno, também temos espaço para você em nosso Mestrado. A linha de pesquisa "Campo Religioso Brasileiro, Cultura e Sociedade" baseia-se no pressuposto de que a prática coletiva da religião, ou sua negação, constitui-se em um fenômeno social cujo estudo crítico e sistemático, com o aporte transdisciplinar das diversas ciências, é essencial para a compreensão da cultura brasileira. Buscando produzir estudos histórica e socialmente significativos, diante da amplidão do campo religioso no Brasil, a linha definiu para os próximos anos, a partir das pesquisas desenvolvidas atualmente, três blocos temáticos nos quais ela se concentra: Religião e Práticas Políticas e Sociais, Identidade e Diálogo Inter-religioso, e Identidade e Sincretismos Religiosos. O objetivo é analisar os deslocamentos religiosos na atualidade, dando ênfase às várias tentativas de configuração de diálogo inter-religioso, bem como às novas gramáticas constitutivas das identidades religiosas nesse contexto. Não faltam desafios acadêmicos, então, pra gente compartilhar!


DISCIPLINAS E SEMINÁRIOS
.
No Mestrado, além dos Seminários temáticos (de 1 crédito, 15 horas) com tópicos atuais relacionados a cada Linha de Pesquisa do Programa e oferecidos pelos professores permanentes ou pesquisadores de passagem, desenvolvemos atualmente as seguintes Disciplinas (de 3 créditos, 45 horas):

OBRIGATÓRIAS

Ciências da religião: interfaces
Há um grande interesse pela religião e pelo seu estudo mais sistemático e a constituição e ampliação desse campo científico estão exigindo que se defina melhor a sua configuração. A disciplina problematiza o estatuto epistemológico das ciências da religião, de modo a permitir que o religioso possa ser tomado não apenas como tema, mas também através de uma metodologia própria e apropriada. Trata-se de um aprofundamento do significado da área de estudo e pesquisa sobre a religião, buscando uma metodologia transdisciplinar, crítica e interpretativa, para o tratamento científico do fenômeno religioso. Busca-se o favorecimento de uma compreensão civil e pública do fato religioso, que colabore na construção de culturas pluralistas e de sociedades democráticas, pelo estudo das seguintes temáticas: convite para uma sapiência da religiosidade; conceitos operativos do campo de ciências da religião; epistemologia e ciência, conhecimento e fenômeno religioso; desafios do fato religioso e aproximações científicas da religião; interfaces metodológicas das ciências humanas e das teologias; área de ciências da religião, configuração e método; perspectivas científicas para uma teologia do diálogo; revisão dos temas religiosos pelo enfoque científico transdisciplinar.
...
Metodologia do trabalho acadêmico
A pesquisa social tem sido marcada por estudos que valorizam o emprego de métodos quantitativos para descrever e explicar fenômenos. Hoje, porém, podemos identificar outra forma de abordagem que se tem afirmado como forte procedimento de investigação: trata-se da pesquisa qualitativa. Essa forma metodológica vem ganhando gradativamente confiança, passando a ser entendida como eficiente. Inicialmente veio à tona no seio da Antropologia e da Sociologia e vem se fortalecendo também em outras áreas que tradicionalmente se interessam pela religião, como a Psicologia, a Educação, a Filosofia. A pesquisa quantitativa pressupõe que a realidade é objetiva e mensurável e procura entendê-la através de abstrações e interpretações das relações causais, testando constructos e hipóteses a partir do uso de mediações numéricas. A pesquisa qualitativa, por sua vez, concebe a realidade como um processo de construção permanente, onde o sujeito desempenha um papel ativo. Portanto, a realidade não seria composta apenas por dados objetivos, mas incluiria a subjetividade do sujeito. Além da reflexão em torno das metodologias de pesquisa e dos processos hermenêuticos de produção de conhecimento, a disciplina aborda os elementos constitutivos de um Projeto de Pesquisa Acadêmica, apresentando, de forma sistemático-interpretativa, as normas técnicas da ABNT para normatização de Trabalhos, nomeadamente no que se refere à Dissertação.

OPTATIVAS

Antropologia da religião
Analisa as contribuições dos autores clássicos da Antropologia Social para o estudo dos conceitos de religião, destacando as correntes teóricas que elaboraram suas concepções. Busca também a compreensão de temas e aspectos escolhidos do fenômeno religioso, a cosmovisão, a experiência religiosa e a sua expressão na cultura. A disciplina busca ainda compreender o fenômeno religioso dentro dos principais conceitos da antropologia, tais como: o mito, os ritos de passagem e outros ritos, a magia, o xamanismo, o totemismo, o êxtase e a possessão. Pretende também estabelecer a inter-relação religião/cultura/sociedade no passado e no presente.

Existência humana e dimensão psico-religiosa
Desde que Freud declarou Religião como fruto de uma neurose coletiva, a grande maioria das Igrejas apologeticamente lutou e ainda luta contra a psicologia (psicanálise), perdendo com isso a pessoa humana, tanto em nível consciente quanto inconsciente, na busca de uma realização mais plena da existência. Nesse confronto de ideias e sentimentos, aos poucos, foram surgindo psicólogos que, com suas pesquisas, franca e sistematicamente se opunham à Religião, outros que estavam a favor da Religião e outros que a abordaram cientificamente (psicólogos da Religião), compondo então as escolas de psicologia da Religião: a anglo-americana, a alemã, a francesa e a italiana. Aceita ou não, a Religião permeia a história humana desde a caverna até os grandes místicos de todas as religiões em todos os tempos, e é um fator importante para integrar ou desintegrar a personalidade, unificar ou não o biopsiquismo humano. Por isso, nas últimas décadas, surgiram tantas pesquisas sobre a Psicologia da Religião, que tentam lançar mais luzes sobre esse homem angustiado, sem sentido transcendental para a sua existência, em um mundo cada vez mais globalizado, secularizado e secularista. A disciplina busca conhecer e analisar criticamente as raízes internas e/ ou externas do fenômeno da religiosidade da pessoa e grupos humanos - sob os aspectos cognitivo, psicanalítico e psicossocial - com seus componentes motivacionais, experienciais, representacionais e comportamentais, ao vivenciarem determinada fé ou ligação com o Transcendente, fator determinante para o amadurecimento sadio e integrador da personalidade em busca de uma plenificação maior de sua existência no “ser-e-existir-radicalmente-com-os-outros”, na caminhada entre o nascer e o morrer.

Hermenêutica filosófica e fenômeno religioso
Tendo presente a virada hermenêutica da Filosofia na metade do século XX e o fato de que a Hermenêutica “dá o que pensar”, ao lado do que ela normalmente oferece para o próprio crer de seu interlocutor, trata-se de refletir sobre as diversas expressões dessa virada e sobre a Hermenêutica Filosófica de Paul Ricoeur, que se encontra de maneira acabada em sua obra Tempo e Relato. Em seguida, trata-se de pensar a contribuição da Teoria hermenêutica ricoeuriana para a reinterpretação do fenômeno religioso. E este último, por sua vez, encontra-se condensado em várias narrativas ou tradições religiosas. É o caso, então, de estabelecer uma interface entre a Teoria da Narratividade e os relatos religiosos com o intuito de pontuar e explicitar elementos fundamentais dessas narrativas religiosas para o (re)pensamento do próprio labor filosófico bem como propor elementos filosófico-hermenêuticos da Teoria da Narratividade que permitam uma fecunda (re)tecitura do pensar e do existir das respectivas expressões religiosas a serem estudadas.

História das religiões no Brasil
A grande contribuição que a História pode dar às Ciências da Religião é a da historicização rigorosa dos múltiplos fenômenos do campo religioso que marcam a constituição e a evolução das sociedades humanas, no tempo. Entende-se por historicização rigorosa, o situar cada fenômeno ligado ao campo religioso – sistemas de crença; movimentos sociais cuja razão de ser é justificada, no discurso de seus integrantes, por estas crenças; quadro de valores; ritos; instituições organizadas para veicular tais crenças; relações de poder cujo objetivo é o controle dessas instituições e dos movimentos sociais a elas relacionados etc. – nos processos sociais de produção e reprodução da vida, poder e cultura ao longo do tempo, isto é, na história das sociedades humanas, e não fora dela. A disciplina pretende, portanto, oferecer tal contribuição reconstruindo, sem a pretensão de abarcar toda a História do Brasil, a gênese e o desenrolar-se de alguns dos momentos-chave em que fenômenos do campo religioso interferiram, e até mesmo condicionaram, a evolução da sociedade brasileira, desde a sua forma de organização estatal aos grupos e movimentos sociais mais significativos vinculados a tais fenômenos. A partir dessas perspectivas, a disciplina aborda os seguintes aspectos: populações indígenas brasileiras e religião; a Igreja Católica no Brasil: períodos colonial, imperial e republicano; catolicismo popular; grupos protestantes históricos no Brasil; inserção do pentecostalismo no Brasil; os cultos afro-brasileiros; o islamismo no Brasil; o judaísmo no Brasil; o espiritismo no Brasil.

Interpretações da religião na modernidade
Até bem pouco tempo atrás, a religião era tratada por muitos pesquisadores apenas como um traço cultural sobrevivente das sociedades pré-modernas, como mero anacronismo que não tardaria a findar, para então nos libertar de vez de um dito “obscurantismo religioso” e para nos fazer viver num mundo totalmente desencantado e dominado pelas diversas facetas da razão forjada na modernidade Ocidental. Nos dias atuais, esse tipo de tratamento parece se tornar cada vez mais insustentável. Assiste-se, pelo contrário, um espetacular revigoramento do fenômeno religioso no mundo contemporâneo, que coloca a religião na ordem do dia das preocupações acadêmicas, tanto na universidade e centros de pesquisas europeus e norte-americanos como nos latino-americanos, em particular nos países que formam o mercosul. Partindo desse pressuposto, a disciplina tem como perspectiva o aprofundamento das principais teorias interpretativas da religião desenvolvidas na modernidade, tanto intra-sistêmicas como críticas legitimadoras da sua rejeição. Introdução aos debates contemporâneos em sociologia da religião; secularização e misticismo na cena religiosa contemporânea; religião e modernidade.

Interpretações do sincretismo afro-católico no Brasil
O sincretismo afro-católico é uma das principais características do campo religioso brasileiro. A sua discussão, principalmente na Antropologia e na Sociologia no Brasil pode ser dividida entre dois momentos significativos: antes e depois das pesquisas desenvolvidas por Roger Bastide sobre as religiões africanas no Brasil. Inicialmente os estudos se desenvolveram a partir do pressuposto evolucionista, que buscava ver no sincretismo afro-brasileiro uma demonstração da inferioridade genética e, posteriormente, psicológica dos negros. Posteriormente, influenciados pelas teorias da mestiçagem, os estudos buscaram compreender o sincretismo como parte de um processo cultural em evolução, no qual o elemento negro iria cada vez mais se diluindo em algo genuinamente novo, na medida em que os elementos da matriz europeia e cristã fossem penetrando e produzindo o processo de miscigenação. Só, a partir dos estudos desenvolvidos por Roger Bastide é que a agenda dos estudos sobre o negro no Brasil sofreu uma profunda transformação, pois é a partir dele que o sincretismo afro-católico começa a ser visto a partir da perspectiva do próprio negro. Não como uma etapa a ser superado por algo novo, mas como um rico e complexo processo de construção de sentido para a existência das pessoas envolvidas e, consequentemente, de suas identidades. A partir desta mudança na perspectiva de análise do sincretismo outras constituições também surgiram e serão analisadas na disciplina: o sincretismo e o seu significado psicológico, a partir da teoria dos arquétipos de C. G. Jung; o sincretismo e a sua relação com a discussão sobre a negritude e o sincretismo e o seu papel na construção da identidade afro-brasileira. Finalmente, a disciplina quer problematizar a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para a compreensão das várias dimensões deste fenômeno para os sujeitos nele envolvidos.

Religião e inclusão social: a partir do Movimento de Jesus
A vivência religiosa pode se tornar pura alienação quando não leva a pessoa a se confrontar com o contexto vital em que está inserida. Partindo desse problema desafiador para toda expressão religiosa, uma linha de pesquisa atual tem se dedicado ao estudo crítico dos primórdios (dentro da cultura judaica) do movimento que deu origem ao Cristianismo. Esse protocristianismo e, de modo especial o movimento de Jesus, conforme apontam as pesquisas, não se organizou como uma seita reclusa puritana, longe do contato ou da participação da sociedade palestinense do século I. Pelo contrário, tudo indica que esse movimento estava voltado para testemunhar e vivenciar a justiça misericordiosa de Deus em meio aos conflitos e desafios daquele tempo, algo que chamaríamos hoje de inclusão social. Dentro desse cenário, a disciplina tem como objetivo fazer uma abordagem crítica da ação social da Religião Cristã, em suas origens; analisar tais ações na perspectiva da inclusão social, na prática sócio-político-religiosa de grupos intrajudaicos na Palestina do século I, para se compreender o alcance social desses grupos, com ênfase no grupo liderado por Jesus de Nazaré; estudar textos seletos dos Evangelhos, com olhar específico sobre a prática social de Jesus e do seu grupo, na perspectiva da inclusão social.

Hermenêutica, Bíblia e literatura
A hermenêutica bíblica: seus pressupostos, métodos e abordagens. A Bíblia nas suas diferentes formas e gêneros literários. A relação entre Bíblia e literatura: os aspectos literários da Bíblia e a influência da Bíblia na literatura.

Contextualidade e teologia na América Latina
A importância do contexto no nascimento e no desenvolvimento das religiões é algo óbvio e bastante matizado pela história das religiões, mas a emergência da contextualidade como paradigma de interpretação e apreensão dos dados de fé é algo mais recente que comporta, especialmente na configuração do cristianismo e nas teologias cristãs, uma tensão entre “particularismo e universalismo” e questiona toda pretensão de universalidade depurificada de particularidades culturais, sociais, econômicas, políticas, ideológicas e religiosas. As teologias do sul do hemisfério foram muito cedo carimbadas de teologias contextuais a partir da suposição de uma teologia universal porque oriunda do centro do mundo. Quais os pressupostos dos pólos dessa tensão? A abordagem seguida pela disciplina estabelece uma aproximação histórico-teórica do conceito “contextualidade” focando analítica e criticamente os seus desdobramentos no cristianismo da América Latina.