9 de jan. de 2014

DISTRIBUIR BÍBLIAS OU ENSINAR HISTÓRIAS DAS RELIGIÕES?!




Ontem os estudantes do Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP, animados pelo cuidado com as causas humanistas que nos unem como educadores, chegaram aonde amarramos a nossa rede encantada de férias, para alertar acerca de uma noticia (veja aqui e aqui) que navega desabusada pela Veneza Brasileira: sobre o projeto de lei 334/2013, de autoria da vereadora irmã (evangélica) Aimée Carvalho (PSB), que tramita na Câmara dos Vereadores do Recife.

O projeto, que até ganhou adesão de setores católicos (muito embora a bíblia católica seja um pouco diferente da evangélica), aguarda posição dos parlamentares em fevereiro e propõe que as bibliotecas de todas as escolas e também instituições de ensino superior estatais e privadas da cidade, além das bibliotecas públicas, sejam obrigadas a ter duas bíblias (uma edição em português de papel normal e outra em braille, a linguagem dos cegos), além de permitir a qualquer empresa e instituição religiosa distribuir exemplares da bíblia nos pátios das escolas e faculdades... O argumento (acompanhe a matéria integralmente por aqui), resumindo, é que, com a disponibilização das bíblias, "a violência diminui e a prosperidade aumenta" (sic)!

De fato, diante da crescente violência juvenil e/ou da dificuldade de socialização de um projeto de civilização, muitos imaginam que os símbolos religiosos facilitam a transmissão de valores e que a escola deva ensiná-los com autoridade, reforçando a identidade moral "majoritária" na comunidade. Mas essa é uma compreensão um tanto retrógrada, haja vista que boa parte da humanidade já (?!) ultrapassou uma visão mágica da espiritualidade (por exemplo, Jesus altera o mundo milagrosamente e atende as minhas preces por prosperidade e riqueza) e também uma visão mítica das coisas (segundo a qual Jesus e até o último apóstolo trouxeram um depósito de informações verdadeiras e eternas sobre tudo - e contra todos os que não têm fé na sua religião). Somente nessas "altitudes" de compreensão espiritual é que faz sentido o proselitismo com o texto sagrado da minha tradição religiosa.

Hoje, todavia, as pessoas mais amadurecidas têm uma crença mais razoável (se sigo a Jesus, posso encontrar uma vida boa, verdadeira e abençoada pelo seu caminho de amor, mas entendo que outros possam igualmente descobrir outras espiritualidades válidas) e até mais pluralista (há algo da consciência de Cristo em todos os seres e culturas, sendo o cristianismo uma de suas interpretações) e inclusive mais integral (a espiritualidade também se verifica na profundidade da observação científica e nas relações intersubjetivas profundas, podendo-se mesmo conceber uma "missa sobre o mundo" para além das místicas explicitamente eclesiais).

Nessa perspectiva hermenêutica mais acurada, aquilo que  os cristãos, por exemplo, chamam de revelação, é entendido como verdadeira pedagogia divina: é o Espírito que nos permite interpretar os “sinais dos tempos” e, numa certa altura do esperançoso compromisso prático para com a defesa da vida no mundo, acreditarmos que aquele grito que despertou a nossa práxis de amor fiel é sagrado, ou seja, percebermos que dentro de nossa relação amorosa fala-nos processualmente uma palavra - revelação - diferente, que causa diferença na vida, no sentido de uma qualidade humana mais profunda, de uma existência descentrada do ego. De forma que, mesmo para um cristão, a Palavra de Deus não está presente só nos “livros sagrados”, nem somente na literatura cristã.

Será, então, que melhor do que distribuir o livro sagrado da minha religião, melhor do que converter o mundo à minha doutrina e implantar a minha igreja, não seria ajudar na disponibilização, contextualização e interpretação das mensagens de todas as tradições espirituais, para quem delas necessite em seu processo de educação (e transcendência) humana e humanizante, favorecendo assim a compreensão e a paz entre os povos?!

Além desses argumentos teológicos (já passou o tempo de evangelizar pela construção de igrejas e/ou pela distribuição de bíblias) para se questionar o projeto de lei da nobre vereadora, podemos levantar também argumentos legais. A Constituição do Brasil estabelece em seu Artigo 19 que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público. Assim, a laicidade estatal demanda tanto a liberdade religiosa, como a igualdade no tratamento conferido pelo Estado às mais diversas religiões e filosofias.

O respeito à liberdade e à diversidade religiosa implicam na aceitação e no reconhecimento do pluralismo espiritual como parte da realidade humana, inclusive para quem não profere religião alguma. O respeito à diversidade exige o aprendizado de superação dos preconceitos, discriminações e intolerâncias, que marcaram a história religiosa do nosso país - onde até dia desses todos deviam se batizar na igreja oficial do Estado, e onde ainda há igrejas pleiteando essa prerrogativa de antanho. A nossa Carta Magna enseja novas atitudes políticas, em que não se coloque o próprio sistema de valores e verdades como parâmetro de conduta para todas as pessoas; em que se deve traduzir, em termos razoáveis e humanos, a pertinência universal das propostas éticas postuladas a partir de uma tradição religiosa ou filosófica.

"A liberdade religiosa não pode ser confundida com liberdade de promoção religiosa em espaços de órgãos públicos e a interferência da religião e seus sistemas de verdade nos atos civis de interesse público, em caráter de justaposição dos interesses privados da religião sobre os interesses do Estado e da sociedade como um todo. A colaboração da religião é aceitável desde que de interesse público e não da promoção de suas convicções em particular" (Brasil, Presidência da República, Secretaria de Direitos Humanos. Diversidade religiosa e Direitos Humanos. Brasília: SDHPR, 2013, pg. 69s).

Então, se os vereadores do Recife querem mesmo ampliar o acesso à informação dos educandos da cidade, para que estes possam escolher valores mais humanos através de textos sagrados, devem incluir muitas outras opções de "bíblias" - até porque a maioria dos livros já está disponível na Internet, para tudo que é computador e tablet/celular, não sendo necessário gastar mais papel e derrubar árvores ou investir mais recursos financeiros, para tornar o projeto mais sustentável e legal. Os vereadores precisam legislar debaixo das leis do nosso Estado liberal, que defende o pluralismo de culturas e a liberdade de filosofias: precisam usar o dinheiro público em favor de todo o povo e das suas opções espirituais diversas; povo que pode e deve ter ampliado o seu direito de acesso aos livros - mas, no caso, dos textos sagrados de uma lista que pode ir das oito maiores religiões aos oito mil movimentos religiosos do planeta (a maioria já está até acessível, em inglês por aqui e em parte em nossa língua por aqui; mesmo os livros dos povos de tradição oral, que tiveram as suas histórias sagradas compiladas por antropólogos).

Ainda que a gente tomasse como critério apenas as práticas religiosas mais apontadas pelo Censo (veja aqui), a cidade do Recife tem 835 mil católicos e 384 mil evangélicos, mas também 55 mil espíritas e 224 mil pessoas sem religião (além de 11 mil de outras igrejas): se o projeto da irmã não é proselitista e respeita a laicidade, por que não pleiteia a distribuição de literatura espírita e obras sobre as convicções espirituais dos sem religião?! E por que não prioriza a literatura sobre a rica (e invisibilizada) espiritualidade dos primeiros habitantes dessas terras e dos povos aqui escravizados - e cuja memória subsiste nos mais de 1.200 Terreiros de nossa Região Metropolitana?! Aliás, além de politicamente correta, seria atitude bastante cristã a valorização dos sentidos religiosos dos grupos "minoritários" ou relegados ao avesso da nossa história... nem sempre tão cristã, de fato!

É muito simplório defender a distribuição, somente da bíblia cristã, porque foi “o primeiro livro impresso do mundo, logo merece destaque entre os demais (…). Além, claro, de trazer ensinamentos importantíssimos para toda a sociedade...". Antes da imprensa havia livros, também religiosos, muito importantes, e hoje os livros impressos já estão sendo substituídos pelos digitais. Há religiões mais antigas e que já foram e podem ser maiores do que o cristianismo, e suas escrituras merecem consideração em processos educativos. Os textos sagrados mais antigos vêm do hinduísmo (onde se funda o complexo mitológico de carma-reencarnação), aí incluídas as coleções védicas surgidas a partir do séc. XIV a.C., os ensinamentos e narrativas dos Upanishads e dos Puranas e os grandes épicos Ramayana e o Mahabharata, que contém um dos mais famosos e mais populares escritos religiosos do mundo, o Bhagavad Gita. E o que dizer das Três Cestas do budismo e dos mais de 4 mil livros do cânone taoísta, que começaram a ser escritos no séc. V a.C.? E do Tanakh hebraico e do Alcorão islâmico, que são variações da Bíblia cristã, antes e depois dela? E dos livros das religiões que inspiraram ou atualizam esses monoteísmos (como o Avesta, do zoroastrismo, o Kitáb-i-Aqdas, da Fé Bahá'i, e o Livro de Mórmon, uma das obras-padrão dos Santos dos Últimos Dias)? E das histórias sagradas dos nossos indígenas e afro-brasileiros, consignadas em obras como Mitologia dos Orixás ou até já adaptadas para crianças nO Casamento entre o Céu e a Terra?!

Por fim, apresentamos também argumentos pedagógicos para o questionamento do projeto de lei da distribuição de bíblias: mesmo que se amplie a oferta para os outros textos sagrados, a sua simples disponibilização escolar não é garantia de uma educação mais humana, nem a escola é lugar para socialização de textos religiosos particulares - mas sim para reflexão crítica sobre todos eles. A própria bíblia, lida sem formação hermenêutica, pode levar a interpretações e práticas absurdas e desumanas (veja aqui ou aqui, por exemplo). Ademais, a religiosidade, de uma forma geral, a gente "pega no ar que nem sarampo", não é um conhecimento racional - embora deva ser razoável - e a iniciação de alguém numa tradição espiritual, portanto, tem o seu espaço propício não na escola, mas nas liturgias da respectiva vivência simbólica.

O que a escola pode e deve fazer é comparar criticamente e interpretar os fatos - também religiosos - nos seus contextos históricos. Assim, religião não se ensina propriamente, mas se pode e deve refletir sobre esse fenômeno na escola. Mesmo porque os sentidos e sentimentos religiosos sempre influenciam as nossas relações humanas, sejam de produção, de parentesco e política, de palavra ou interpretação. De modo que o ensino religioso (veja aqui um panorama das discussões sobre o tema e por aqui um mapa do ensino religioso) tem uma legislação cada vez mais clara (veja aqui) e deve se constituir numa transposição pedagógica dos conteúdos das Ciências da Religião, numa sequência cognitiva e respeitando as características próprias dos educandos em cada série, através de eixos curriculares transdisciplinares e transreligiosos, que combinam o estudo de culturas e tradições religiosas, teologias dos caminhos espirituais, os textos sagrados das religiões, ritos e ethos das tradições de sabedoria. Quer dizer, não adianta apenas distribuir textos, sem uma pedagogia adequada para situá-los e interpretá-los nos seus contextos.

Por trás disso tudo, certamente se esconde o confronto antropológico – e político – entre uma compreensão (pré-moderna) de cultura simples e homogênea, com instituições hegemônicas, e outra de cultura complexa e policêntrica, onde as instituições – também as religiosas – reorganizam-se em bases liberais, pluralistas e democráticas. No primeiro caso, o professor de cultura religiosa está a serviço da religião majoritária e das suas igrejas; no segundo, serve à comunidade, ampliando a consciência social sobre as experiências e movimentos religiosos.

Acima compartilhamos um exemplo de subsídio pedagógico audiovisual (veja outros subsídios por aqui) que pode ser adequado para a educação religiosa na escola. Muitas vezes precisamos ponderar sobre poderes maiores que regem a vida, quando tentamos entender nossa origem e nossa missão sobre a Terra. Nessa busca, bilhões de pessoas (veja aqui um desenho da paisagem religiosa do mundo) voltaram-se, entre outras opções, mais animistas e politeístas, para o deus que norteia as religiões islâmica, cristã e judaica. Não é possível descobrir o que é esse "Deus", mas é possível compreender como as culturas foram desenvolvendo essa figura do Criador e elaborando os seus cultos. Então, esse programa do History Channel aborda a percepção de tal presença divina desde os tempos de Abraão e como ela impactou a humanidade, esboçando a imagem de "Deus" que conhecemos mais pelo mundo afora. Embora, na prática, a teoria às vezes seja outra, a perspectiva abraâmica do sagrado é mais histórica e menos cíclica, menos étnica e mais ética - pauta-se por um "julgamento".

Inspirado principalmente pela estudiosa das religiões Karen Armstrong (autora do livro Uma História de Deus), esse documentário "Deus, a história das religiões", de 2001, tenta mostrar a trajetória de pelo menos três mil anos do monoteísmo em um hora e meia. O programa reúne entrevistas com representantes de várias tradições para discutir o papel que o divino desempenha em suas vidas. Apresentando essas práticas religiosas desde vários pontos históricos e geográficos, considera as muitas maneiras como as "culturas do livro" situam a ideia de um deus único. Cientistas da religião também opinam no documentário, mostrando como o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, enquanto movimentos espirituais, têm afetado e moldado um ao outro, ao ponto de que a revelação que uma tradição descobre é por causa das outras - e para as outras. Não é uma história geral das religiões, mas já ajuda a entender como essas religiões mais novas da humanidade se tornaram as maiores do universo. Acreditamos que subsídios nessa linha, histórica e hermenêutica, junto com professores concursados e formados em Ciências da Religião, é que precisam ser disponibilizados, por primeiro, nas escolas do Recife - e, junto com eles, aí sim, os links para os principais ou mais significativos textos religiosos da gente.

Gilbraz.

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20 comentários:

  1. Como fui criado numa igreja batista, entrei no seminário para cursar teologia, fui ordenado pastor, atuei como pastor de igreja (hoje não mais) e ainda convivo com a espiritualidade protestante, sou constantemente consultado por alguns amigos acerca de algumas questões relacionadas à fé cristã e à igreja. A consulta mais recente que estão me fazendo é sobre o projeto de lei 334/2013, de autoria da vereadora Aimée Carvalho (PSB), que tramita na Câmara dos Vereadores do Recife. O referido projeto de lei propõe que as bibliotecas de todas as escolas e instituições de ensino superior públicas e privadas, além de bibliotecas públicas da cidade sejam obrigadas a ter duas bíblias (uma edição em português e outra em braille).

    Bom, vou registrar minha opinião aqui para que aqueles que ainda não me perguntaram, leiam. Sou contra. Instituições de ensino e bibliotecas públicas e privadas não devem ser obrigadas a ter bíblias nem qualquer outro texto sagrado de outras religiões. O Estado é laico. Religião é questão privada. A vereadora justificou o seu projeto afirmando que ele pede a obrigatoriedade da Bíblia nas instituições de ensino e nas bibliotecas públicas, pelo fato deste livro ter valor histórico e ajudar a diminuir a violência e aumentar a prosperidade (leiam o Diario de Pernambuco de hoje). Confesso que não entendi a segunda parte dos argumentos da ilustre vereadora. A Bíblia, por si só, não diminui a violência. Aliás, dependendo da forma como ela é usada, violências são provocadas a partir dela. Com relação ao argumento de que ela aumenta a prosperidade, lascou! (desculpem, não resisti) Aí foi que não entendi mesmo. Será que a vereadora é adepta da funesta teologia da prosperidade? Pontuando agora sobre a afirmação de que a Bíblia tem valor histórico, pela relação de alguns dos seus textos com fatos e mitos da história antiga e por ter sido um livro marcante na história da imprensa, até concordo. Mas, o Alcorão, o Tripitaka, o Evangelho Segundo Allan Kardec, o Livro de Mórmon, o Mahabharata, o Bagavadguitá e outros livros sagrados também têm valor histórico. Então, por que só a Bíblia tem que ser obrigatória nas instituições de ensino e bibliotecas públicas e privadas do Recife?

    Tá na cara que o projeto da vereadora Aimée Carvalho tem caráter proselitista, por mais que ela negue. Sou contra. Que a religião permaneça no campo das decisões pessoais e não de Estado.

    Reginaldo José da Silva
    (Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, Licenciado em História e Especialista em História Contemporânea pela Universidade Federal de Pernambuco e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco)

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  2. kkk... enquanto vocês discutem diversidade e direito, tem evangélicos se organizando pra tomar o poder e impor o seu fundamentalismo doutrinal...

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  3. Tá vendo aí, professor:
    enquanto tem gente querendo trabalhar criticamente os fatos religiosos nas escolas, tem quem queira usar o dinheiro público pra fazer apologia da sua doutrina, através das escolas... esse é o problema da religião em nossa sociedade!
    Dani

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  4. Eu gostaria de ver o projeto alguém tem um link ?

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  5. o projeto está integralmente disponível nesse link: http://sapl.recife.pe.leg.br/sapl_documentos/materia/39210_texto_integral
    adianto que sou completamente a favor da proposta da irmã Aimée, porque como bem diz a sua justificativa:
    "Esse projeto não possui o objetivo de obrigar a população a ler a Bíblia, e sim, disponibilizar, de maneira obrigatória, sua existência em todas as bibliotecas do Município, pelo seu incomparável valor histórico.
    Os historiadores são categóricos quando afirmam que nenhuma descoberta arqueológica jamais contradisse qualquer referência bíblica. Dezenas de achados arqueológicos foram feitos que confirmam em exato detalhe as declarações históricas feitas pela Bíblia. E, da mesma maneira, uma avaliação própria de descrições bíblicas tem geralmente levado a fascinantes descobertas no campo da arqueologia moderna."
    Helena Cintra.

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    1. minha filhinha, pela mãe do guarda, dê uma olhada nesse filme legal, Religulous:
      http://youtu.be/N0tQbkgsoaE
      seu arcanjo Miguel.

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    2. vi um trecho do filme e me arrependi:.
      e você não é um anjo nem tampouco temente a Deus!
      Helena.

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  6. Professor, tá explicado porque o senhor foi escolhido pro comitê das religiões da nossa República: parabéns pela reflexão e oxalá ela influencie na decisão dos legisladores de nossa cidade. Gostaria de insistir apenas na questão que, se não é a verdadeira motivação dos proponentes da distribuição de bíblias, não deixa de ser autêntica e pertinente: o que fazer para educar a moçada, que agora ganha mais dinheiro e tem acesso a mais ciência, mas que não tem limites nas relações com os outros, sai a praticar crimes violentos feito bestas selvagens pelas nossas ruas a cada dia?! Se a nossa Bíblia e cattecismo são de menos, não é demais esperar gente formada nessas oito mil religiões para asquais o senhor acena?
    Alexandre.

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  7. Gilbraz e toda gente interessada no diálogo religioso:
    Muito boas as ideias que colocou no papel-nuvem. É para ler com bastante calma, estudar e debater. Pensando mais diretamente no fato colocado pela Câmara dos Vereadores do Recife, imagino que um caminho é o diálogo com os líderes da proposta, para procurar um entendimento e conhecer melhor a necessidade dos autores, na linha da forma de agir de Gandhi, Luther King, Dom Helder, etc. Coloco abaixo link para uma matéria sobre o encontro que o Pastor Eurico, da Assembleia de Deus, Deputado Federal do PSB de Pernambuco, teve em novembro com o Dalai Lama. Não seria bom convidá-lo para nos informar sobre as sensações e fatos desse encontro, considerando a liderança do Pastor em Recife. Vocês tem mais conhecimento do que eu tenho, mas... Quem sabe se não se abre um caminho de diálogo? Pelo menos poderemos conversar com o Deputado, mostrando que o Dalai Lama já conhece bem Jesus Cristo e a questão essencial não é essa...
    Abraço,
    Sergio Ferreira.

    http://kedsonni.blogspot.com.br/2013/11/deputado-pastor-eurico-entrega-jornal.html

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  8. Meu entendimento é que se disponibilizasse nas bibliotecas escolares não um livro de uma única religião, mas os livros principais das religiões praticadas em Pernambuco. Assim, se preserva a característica do Estado laico, ao mesmo tempo que se coloca à disposição dos alunos as obras produzidas pelos grandes Mestres do Sagrado. A laicidade não consiste em excluir a comunicação com o Sagrado, o Transcendente, mas sim em retirá-la do espaço público e reconhecer o direito à liberdade em matéria de religião. Tito.

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  9. Gilbraz, lembrei de uma citação que corrobora a sua inusitada posição "missionária" (de missiólogo católico): "‘O que importa não é tanto o que é verdadeiro como o que ajuda a viver’ (...). O que ajuda a viver é viver num clima de procura constante de harmonia. (...) A título de exemplo: (...) François Lefort, sacerdote e médico francês, foi para a Mauritânia, onde recolhe ‘crianças das ruas e das areias’ e cuida delas em lares que ele criou para ajudá-las. (...) Sendo a Mauritânia muçulmana, François Lefort ensina às crianças... o Alcorão, para que elas se integrem mais facilmente na sociedade delas. Que há de mais normal?, pensais. Para um sacerdote católico, ensinar o Alcorão é sinal de que o amor se situa acima das verdades doutrinais. Ensinar a Bíblia àquelas crianças seria marginalizá-las mais do meio muçulmano, ao qual elas pertencem. Ensinar-lhes o Alcorão e a Bíblia, um com palavras, a outra com atos não é fazer a obra de união e de amor acima das diferenças?” (Steiger, Compreender a história da vida. São Paulo: Paulus, 1998, p 200).
    Marcos Silva.

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    1. eita, brigado pela força, Marcos: a referência é preciosa e muito adequada, até porque se refere a um testemunho de engajamento, não é simples especulação, né?! valeu!

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  10. O Estado brasileiro em sua Constituição é laico, isso é, o Estado está separado da instância religiosa seja ela qual for. No entanto, os evangélicos, agora, querem fazer da Câmara de Vereadores do Recife, um balcão de proselitismo para distribuir, com o dinheiro do povo recifenses, Bíblias através das escolas particulares e públicas e em todas as bibliotecas. O que é interessante é que este trabalho evangélico é às custas dos demais segmentos religiosos, posto ser o dinheiro a ser usado, também, de espíritas, candomblecistas, católicos, budistas, muçulmanos, mórmons, entre outros credos. A tribuna dos vereadores no Recife foi transformada em um púlpito... Claudia d'Oxum

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  11. O Estado brasileiro é LAICO, ou seja, não tem Religião Oficial. Se vão colocar a Bíblia, que coloquem também livros sagrados de todas as outras religiões. O Art. 5, inc. VI da Constituição Federal de 88 é claro: "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;". Por que então a Assembléia está querendo impor uma só religião nas escolas públicas? A não ser que essa imposição tenha a ver com os ganhos $$$ que alguma editora de algum parente ou apadrinhado do Coronel venha a desfrutar. Luciano.

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  12. Todas as igrejas apontam para o céu: se você fica olhando só o templo, só pregando a doutrina, perderá o céu estrelado… Li isso nalgum lugar e acho muito aplicável ao caso: não dá pra imaginar que um só caminho leve ao céu... Portanto, todos os que apontam pra ele deveriam sentar e conversar: o que tem em comum em nossos mandamentos, em nossos mapas pro céu? Acho que essa conversa, sim, cabe nas escolas. E cada um aprofunde o seu mapa, o seu livro, na sua igreja...
    Neemias

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  13. Caros,

    Achei interessante este site que fala de forma resumida sobre a visão dos baha'ís sobre a Revelação Progressiva de Deus (através das religiões). Há um resumo por exemplo dos livros sagrados de algumas religiões, inclusive da Fé Bahá'i (O Kitáb-i-Aqdas). Emilia.

    http://www.bahai.org.br/religiao/Default.htm

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  14. Eita gota! No começo, pensei que só uma pessoa doida podia ser contra a distribuição de Bíblias. Mas agora tou vendo que a questão é muito mais séria. Brigado pela reflexão.
    Manoel.

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  15. Um projeto de lei circula na Câmara do Recife propondo que o município distribua gratuitamente Bíblias para todas as crianças das escolas públicas do município. Aparentemente, é um projeto educativo que beneficia crianças pobres com uma Bíblia, livro sagrado para duas religiões: o Judaísmo e o Cristianismo com suas centenas de Igrejas, ortodoxas, evangélicas, pentecostais e a Católica romana. Sou padre e biblista. Dediquei toda minha vida ao estudo da Bíblia e a uso diariamente como livro de leitura e oração. Por isso, me sinto com autoridade moral para vir a público expressar meu total desacordo com essa proposta. E não somente eu: a Comissão de Ecumenismo da Arquidiocese de Olinda e Recife, assim como pastores e cristãos de várias Igrejas se unirão ao Fórum Diálogos (para a defesa da diversidade religiosa em Pernambuco) na denúncia contra esse projeto de lei.
    Ao distribuir Bíblias para crianças das escolas públicas em Recife, o município estaria ignorando e mesmo discriminando outras tradições religiosas que não se veem representadas pela Bíblia; tradições essas a quais pertencem muitas crianças das escolas públicas e suas famílias. Por não ser respeitoso com outras religiões, esse projeto de lei não é verdadeiramente educativo. Isso já é motivo suficientemente para rejeitá-lo, mas, acima de tudo, ele é inconstitucional. Desrespeita o caráter laico e independente do Estado brasileiro. Segundo a Constituição Federal, o Estado deve possibilitar o exercício livre de todas as religiões, mas não pode privilegiar a nenhuma. Menos ainda gastar dinheiro público para promover a doutrina de uma religião específica.
    Como discípulo de Jesus Cristo, vejo nessa proposta de lei uma contradição com o espírito do evangelho e o modo de ser de Jesus. Conforme o evangelho, os tais reis magos, que, na verdade, eram astrólogos e religiosos de outras religiões, adoraram a Deus e foram capazes de, sem nenhuma Bíblia, reverenciar Jesus que nasceu. Enquanto isso, os professores da Bíblia reconheceram no livro sagrado a verdade do que estava escrito, mas isso não mexeu no coração deles. Usaram a Bíblia para dar a Herodes a informação que levou o rei a mandar matar as crianças de Belém (Cf. Mt 2, 1 – 11). E assim, naquele caso, a Bíblia serviu para, indiretamente ajudar Herodes a matar. Como, em outros momentos da história, serviu como pretexto para discriminar e condenar as religiões dos povos indígenas e afrodescendentes no nosso continente.
    Ao contrário, em toda a sua vida, Jesus valorizou e revelou a presença divina nos samaritanos, considerados hereges pela própria religião (o Judaísmo). Elogiou a fé de um oficial romano que seguia Júpiter e os deuses do Império (Mt 8, 5- 13). Mudou de posição e curou a filha de uma mulher cananeia que seguia a religião dos cananeus (Mt 15, 21- 28). Jamais discriminou ninguém por ser de outra fé ou religião. Uma vez, dois discípulos dele queriam condenar pessoas de uma aldeia samaritana, porque essas não quiseram receber o Mestre. Jesus os repreendeu dizendo: “Vocês não sabem de que espírito são”. (Lc 9, 55). Isso nos faz pensar que Jesus mesmo estaria totalmente contrário a esse projeto de lei.
    Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.

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  16. http://paradigmaglobalizado.wordpress.com/2014/01/11/10-fatos-simples-e-irrefutaveis-sobre-a-biblia/

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