20 de dez. de 2013

REGINALDO ROSSI: O CHIQUE DO BREGA




Morreu na manhã desta sexta-feira (20 de dezembro), aos 69 anos, o "Rei do Brega", o cantor Reginaldo Rossi (Reginaldo Rodrigues dos Santos). Ele estava internado no Hospital Memorial São José, no Recife, desde 27 de novembro, para tratar de um câncer de pulmão. O pernambucano era também compositor: iniciou a carreira em 1964 e tem mais de trezentas composições gravadas (uma das mais representativas é A raposa e as uvas).

Reginaldo Rossi estudou engenharia e foi professor de física e matemática. Com influência dos Beatles, começou a carreira artística cantando rock. Animou comícios contra a ditadura e tentou um caminho político pelo Partido Democrático Trabalhista, mas fez sucesso mesmo foi como cantor de música romântica popular brasileira, o "brega" (aventa-se que esse nome deriva da Rua Manuel da Nóbrega, que ficava na zona de prostituição soteropolitana).

O "brega" é caracterizado como música banal e afetada por clichês sentimentais simplistas. Fernando Fontanella, no entanto, afirma que, dentro de um jogo de "hierarquias culturais", "o imaginário do belo sempre é pensado pelas instituições da hegemonia dentro de uma legitimação dos grupos dominantes", o que explicaria a relação da "música brega" ao "mau gosto", como algo oriundo de um processo de estruturação de classes (A estética do brega. Recife: UFPE (dissertação de mestrado), 2005).

Seja como for, é impossível compreender a alma da gente no Recife sem esse canto, que revela crenças, desejos e medos, sombras e luzes de nossa multi-cultura. E enquanto "cristãos" discutem se Reginaldo foi pro céu ou pro inferno (veja aqui), o bispo católico já declarou (veja aqui) que "Reginaldo Rossi viveu intensamente. Foi uma pessoa feliz, realizada. Agora ele parte para a vida eterna. Foi um homem que soube superar as dificuldades e sempre foi sensível às questões sociais".

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6 comentários:

  1. Mais da metade das imagens que aparecem no vídeo são de mulheres, Deveria ter sido feito com fotos dele e não delas...

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  2. nada disso! não sei quem fez a montagem, mas reflete o gosto do povo e tá no "espírito" de Reginaldo: ele não iria colocar fotos dele no lugar dessas pernambucanas bonitas que ele levou a vida a cantar!
    Fernando.

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  3. O corpo quente sendo homenageado no caixão e os "cristãos" discutindo se a sua alma foi pro inferno... É por isso que a religião tá em crise! Falta "graça" nessa teologia...

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  4. é, se o problema fosse só do vídeo, ainda tava bom... mas o problema é que o vídeo é fiel ao canto de Reginaldo Rossi, que reflete a (falta de) consciência do povo do Recife mesmo, que saiu das Senzalas e veio pros Mocambos, muito embora fale de sua história olhando da Casa Grande ou dos Sobrados... decanta-se o atrativo turístico e o folclore do sexo e do excesso (que só canta as mulheres porque está nas mãos de machistas), escamoteando assim a vida perdida nos alagados e nos morros da cidade, da "civilização do caranguejo" que ainda hoje existe (come-se basicamente os crustáceos, que se alimentam dos dejetos e fezes lançados aos rios!)... Rei, Recífilis fede, visse?! Manu.

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  5. É, a música e o imaginário do recifense e do Pernambucano, que se pretende sempre, com peito estufado de "leão do Norte", "falar para o mundo", não se dá conta das contradições e conflitos do seu mundo: estado rico, de povo pobre; que faz carnaval "multicultural", mas onde os crentes cristãos apedrejam os terreiros de xangô. Mas o Rei do Brega só lembra que aqui tem religião e o povo gosta de rezar, tem cristianismo, tem candomblé... né?!
    Denis.

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  6. Aí, deixe fazer as vezes de "advogado do diabo": acho que o primeiro momento de um processo de transformação social não é já dialético (movimento a partir de contradições), mas analético (a partir do que é anterior e exterior). Então, o resgate da dignidade humana e da capacidade de sonhar, que nos caracteriza a todos, antes e para além da condição de pobreza (ou riqueza), é o primeiro momento, positivo, de conscientização popular e de mudança política - e gente feito Reginaldo ajudava nesse processo, de empoderamento, de recuperação do orgulho, através dos valores culturais, pelo povo...Ou não?!

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