20 de mai. de 2013

VOCÊ MESMO PODE PUBLICAR SEU LIVRO




Nesses dias participamos de ampla discussão por lista de e-mails da Anptecre sobre o Roteiro de Avaliação de Livros que deverá compor o novo Documento da Área, com base no qual se fará a avaliação trienal dos nossos Programas de Pós-graduação na Capes. As próximas assembleias da nossa associação certamente vão continuar aprofundando a questão, haja vista que os livros são o meio mais tradicional de comunicação das pesquisas na área de estudos da religião, e que a realidade do formato e da produção/distribuição dos livros está em franca transformação - havendo mesmo que aposte que, muito em breve, o único veículo disponível para nossas publicações mais extensas "será o ebook padrão Amazon"! As nossas revistas científicas, para alegria das árvores que viravam papel e também dos bolsos dos seus leitores, já estão quase inteiramente em plataformas de informação amplamente democratizadas na Internet (todos podem submeter artigos às comissões de avaliação e todos podem acessar os seus conteúdos livremente) e agora é a vez de se encontrar um rumo pros livros acadêmicos.

No momento, já avançamos no consenso de que os critérios para avaliação de livros devem considerar a qualidade do seu conteúdo e o processo de triagem por pares e conselhos, independentemente da publicação ser em papel ou eletrônica. A definição de livro a que chegamos é mais ou menos assim: livro é um produto impresso ou eletrônico que possua ISBN ou ISSN (para obras seriadas) contendo no mínimo 50 páginas ou 100 (cem) mil caracteres, publicado por editora pública ou privada, associação científica e/ou cultural, instituição de pesquisa ou órgão oficial. Mas o debate continua, porque a fronteira entre escritor e editor está se diluindo com as novas tecnologias digitais e isso pode levar a transformações culturais profundas e inusitadas: assim como a imprensa em papel foi decisiva para a Reforma... Conversei até sobre o assunto com o meu filho de 13 anos, que está se preparando pro Dia do Orgulho Nerd, e ele garantiu que a sua geração, com a Internet, vai universalizar o acesso de todo mundo ao consumo (e produção) de músicas, filmes, revistas - e de livros, que também virão cheios de audiovisuais interativos por dentro! Será? Aqui os "mochileiros das galáxias" levantam novos direitos contra velhos mercados.
.
Bem a propósito da discussão, estreou no começo do mês em festivais independentes o documentário do trailer acima (em inglês), "Out of print" (Fora de catálogo), dirigido por Vivienne Roumani e narrado por Meryl Streep, com posições pró e contra a transformação dos livros, de Jeff Bezos, Ray Bradbury, Scott Turow, Jeffrey Toobin, pais e estudantes, educadores e cientistas. Além desse "resumo da ópera" livresca, no Diário de Pernambuco de hoje saiu justamente uma matéria de Sávio Gabriel, "Livros digitais ganham espaço no mercado", onde se lê: "... O mercado de livros digitais está modificando também a forma como alguns escritores lidam com o setor. Se antes, para ter sua obra publicada, eles precisavam de algum grupo editorial que financiasse todo o processo de produção, agora eles podem publicar seu trabalho na rede e ainda ganhar dinheiro com as vendas. A empresa norte-americana Amazon, especializada na venda de e-books, oferece uma opção para os autores independentes. O Kindle Direct Publishing (publicação direta no Kindle, em português) permite que o autor tenha controle da sua obra. Ou seja, ele pode fazer qualquer alteração a qualquer momento. Além disso, o processo de publicação demora menos de cinco minutos e, caso o livro seja aceito, ele estará no ar em até 24 horas. As margens de lucro sobre as vendas chegam a 70%...".

Supomos que um pesquisador acadêmico não está interessado prioritariamente em lucros, mas no debate sobre o seu pensamento, e a questão é discernir qual o melhor caminho para divulgar seus subsídios e livros. Se você deseja publicar um escrito maior que artigo (que normalmente chega até a 15 páginas), considere os critérios de qualidade Capes que estão sendo redefinidos e pense na possibilidade de um livro digital. Livro no formato digital, ou ebook, pode ser lido em equipamentos eletrônicos tais como computadores ou note/net/ultrabooks, pdas, tablets ou tabuletas eletrônicas, leitores de livros digitais, os novos digital papers ou cadernos digitais e até mesmo celulares mais robustos. Os formatos mais comuns de ebooks, além do HTML (que é a linguagem padrão para as páginas na Web e pode formatar um texto de livro para navegadores da Internet), são o PDF e o EPUB. O primeiro precisa do leitor de arquivos Acrobat Reader ou programa compatível (o novo Word já lê e produz PDFs), enquanto o EPUB é um formato de arquivo padrão específico para ebooks, mais utilizado por profissionais e editoras do ramo (embora possa ser editado "amadoristicamente" pelo Sigil). Há também appbooks mais sofisticados (veja aqui um exemplo), que incluem múltiplos recursos audiovisuais - como sonha o meu Arthur que um dia serão todos os livros didáticos!

O custo de um ebook é baixo e, no formato PDF, você mesmo pode criá-lo em softwares distribuídos pela Adobe ou Pdfforge ou inclusive nos processadores de texto mais recentes. Você consegue o número ISBN do livro cadastrando-se na Biblioteca Nacional e, fazendo-o passar pelo respectivo comitê editorial, pode publicá-lo em nome da associação científica ou cultural da qual participa (não precisa ser uma editora). Depois é só distribui-lo em mídias magnéticas ou disponibilizá-lo na Internet, em sua página ou no site da associação. Para compartilhar melhor os seus escritos, aqui vão três endereços onde é possível distribuir livros e publicações sem gastar nada: Google Play (onde, aliás, já se encontram mais de 50 livros gratuitos sobre religião, além de milhares de outros pagos com preços reduzidos, em diversas línguas); Issuu (onde estão disponibilizados mais de 300 mil papers e escritos gratuitos sobre religião) e Scribd (com mais de 1 milhão e meio de subsídios sobre religiões).

Tem uma segunda opção: repassar o acabamento da edição EPUB do seu livro e a sua distribuição para uma editora ou livraria. Hoje, as grandes livrarias virtuais permitem que você mesmo publique - e até venda - o seu livro na Internet. Na Kindle Store, da Amazon, crie um arquivo word do seu livro, seguindo dicas de formatação indicadas aqui. Cadastre-se no site Kindle Direct Publishing, onde você deve clicar em Adicionar Obra, preencher o formulário e enviar o arquivo, definir o preço e os países em que o livro será vendido - ou distribuído gratuitamente. Já na Kobo, da Livraria Cultura, acesse a Kobobooks e faça login, preencha os dados e adicione uma conta bancária (o número swiff do banco você acha no google). A Kobo aceita vários formatos de arquivo e os transforma em EPUB (leia o guia de conversão aqui). Basta clicar em Create New Ebook e enviar o seu livro. Pronto: a publicação sai de graça e você ainda pode ganhar (até 70%) do que vender, se quiser vender.

Enfim, não deveria mais ser preciso pagar nada para publicar (nem pagar muito para ler) um livro acadêmico: se o conteúdo for bom, vai pontuar academicamente pela sua análise qualitativa, mesmo que a produção seja caseira. E preste atenção em algumas dicas, no espírito do Documento da Área de Ciências da Religião e Teologias, para que o livro pontue também pela caracterização formal: inclua uma nominata do Conselho Editorial que o aprovou ou recomendações de especialistas da área; apresente uma síntese da obra na contracapa, coloque a apresentação do autor com filiação institucional e/ou breve biografia intelectual, prepare um índice de autores e/ou temas citados, deixe-o com uma normalização consistente e uniforme dentro de padrão reconhecido.

O ponto mais controverso da discussão aludida à epígrafe é o que afirma que seu livro será melhor pontuado se for publicado também noutro idioma e se sair por editora comercial que tenha tradição de publicação na área ou editora universitária, de preferência filiada à ABU. Nessa altura devemos evocar uma terceira opção: submeter o seu livro ao Conselho de uma editora reconhecida, que assuma os custos da publicação/distribuição profissional. A maioria das editoras religiosas da nossa área de estudos ainda está entrando nesse mundo virtual, mas as editoras universitárias já estão publicando livros eletrônicos (como a UFPE) e até formando rede na Scielo Livros, cujo comitê científico distribui - ou então vende, bem baratinho - livros selecionados (também sobre religiões, veja aqui um exemplo), tanto em PDF quanto em EPUB. Então, coragem: "ao infinito e além". Não faltam opções para publicar o seu texto!

Gilbraz.
(post dedicado a Leonildo Campos)

9 comentários:

  1. Parabens pela materia e obrigada por todas informaçoes!

    ResponderExcluir
  2. prof., de tanto a gente ser dominada pelo mercado, de repente nem se dá conta que nem precisa mais de dominação, que já tem todas as ferramentas à mão pra se lançar no mundo das edições... de fato, agora só falta coragem pra ser livre: vamos ocupar as livrarias! Manu.

    ResponderExcluir
  3. Eita, se a gente seguir esses passos direitinho, vai poder lançar um livro agora... mesmo de Roraima, né? Viva! Maria.

    ResponderExcluir
  4. Manoel Mendonça21 maio, 2013

    Qual a possibilidade de abordarmos o assunto e termos um especialista que possa colocar nossas ideias de forma organizada e corrgida. Sempre tenho dificuldade de escrever o que penso, e quando o faço percebo que não era "bem aquilo que eu queria dizer", ou que poderia ter saido muito melhor se eu soubesse como escrever um livro. Qual a sugestão?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Antes de qualquer palavra, gostaria de falar algo ao Manoel Mendonça. Você precisa de um bom editor/orientador. Esse exercício é bastante cultivado quando (formalmente) nos desafiamos a participar de Pibic, elaboração de TCC, dissertação e tese (com auxílio de um prof. orientador), além do mais, há outros meios que ajudam no exercício da escrita, como: ler muito; conhecer algumas obras metodológicas gerais (há, porém, específicas de cada área), como as do Humberto Eco, "Como escrever uma tese"; do Pe. Libânio, Introdução à vida intelectual, etc.

      Quanto a postagem, animadora, muito bem elaborada pelo Gil, também remete-nos a um assunto (ao meu ver) que é ainda um tanto complexo, sobretudo, porque estamos naquela fase planejada chamada de "Web 3.0" (será?), na qual prever que tudo será possibilitado ao internauta, porém, com um certo controle. Na verdade, estamos na etapa ainda principiante.

      Por sua vez, elaborar um produto, como o livro, todos nós podemos fazê-lo, contudo, precisamos executar com a consciência que o mercado, no caso, editorial, é muito exigente. Ninguém hoje publica, divulga e distribui um produto para vender a todos. Isto é, o mercado é segmentado (subdividido por sexo, idade, raça, cor, religião, gosto, preferência...). Você precisa elaborar algo também pensando no seu (target) público-alvo. Para isso, é necessário conhecê-lo de perto. Saber seus hábitos, costumes, práticas, etc. Tudo isso é porque o livro precisa também ter bons atributos, bom design, boa diagramação, etc. além, é claro, de ótimo conteúdo.

      Abraço e parabéns Gilbraz, gostei muito.

      Excluir
  5. sim, quero saber onde os senhores intelectuais estão pensando em botar pra trabalhar agora todos os trabalhadores que trabalham em editoras e gráficas e livrarias: se tudo vai ser virtual, como vamos cuidar das nossas famílias, heim?

    ResponderExcluir
  6. Poxa, valeu pela quantidade de informações que você compartilhou aqui! Muito grato pelas dicas, úteis com certeza pra quem se inicia na vida acadêmica, ainda mais na área dos estudos da religião, e agora tem um mapa pra mina da comunicação! Parabéns pelo blog.
    Silvestre.

    ResponderExcluir
  7. Saraiva lança plataforma de self-publishing - PublishNews - 29/05/2013 - Por Iona Teixeira Stevens
    Amazon, Kobo, Apple e alguns empreendimentos brasileiros, como a Clube dos Autores, já haviam lançado suas plataformas. Agora, a mais nova autopublicadora da turma é a Saraiva, que lançou ontem o portal Publique-se. A plataforma, que já está no ar, concede 35% de direitos autorais. O autor independente se cadastra no site, recebe a minuta simples do contrato, já registrada em cartório, faz o upload do original no formato PDF e recebe um tutorial com manual passo-a-passo. O preço do e-book é definido pelo autor também. Em nota, a Saraiva já anuncia que em breve vai oferecer “serviços editoriais com expertise do Grupo Saraiva, além da possibilidade do lançamento de versões impressas e eventos em loja”. O Painel das Letras detalhou ontem que “além de imprimir sob demanda, a Saraiva abrirá suas lojas para tardes de autógrafos dos independentes, tal como já faz com editoras. Serviço pago, com toda a estrutura dos lançamentos oficiais, incluindo o vinho branco. Coisa para os próximos três, quatro meses, segundo [Marcílio] Pousada”.
    http://www.livrariasaraiva.com.br/publique-se/

    ResponderExcluir
  8. Enquanto o mercado de livros impressos registrou sua pior queda de faturamento da última década, o de livros digitais cresceu 343% entre 2012 e 2011 - período em que ele realmente começou a fazer parte da realidade do brasileiro. E os números devem ser ainda melhores em 2013, já que foi apenas em dezembro que Amazon, Apple, Google e Kobo aportaram por aqui...

    http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/tecnologia/noticia/2013/08/02/livro-digital-vende-mais-e-o-em-papel-tem-queda-em-2012-92327.php

    ResponderExcluir

Obrigado pela sua participação!