28 de jul. de 2012

SESSENTA DIAS EM SÃO BERNARDO




Caro (a) leitor (a), essas palavras foram escritas enquanto eu fechava minha mala! Por favor, vá perdoando o saudosismo e sotaque! Passou num instante! Dia desses eu cheguei aqui! Sai da quentinha Recife (lugar arretado, diga-se de passagem!) para a fria cidade de São Bernardo do Campo! Minha primeira aventura foi no aeroporto, pois minha mala (essa da primeira linha deste relato!) num ato de independência chegou a São Paulo em voo diferente do que eu tinha vindo. Resultado, eu fiquei lá na frente da esteira do voo Recife/São Paulo esperando a bendita mala e nada... Quando me conformei que ela tinha se perdido fui ao guichê da companhia aérea e localizaram minha mala na esteira do voo que viera de Fortaleza... Quando eu cheguei na esteira estava lá a minha mala (como diz mainha, “rodando que só frango de padaria”). Peguei-a e finalmente tomei o caminho da minha nova casa!

Em casa, ou melhor, na Casa dos Estudantes, vivi experiências incríveis. Lá, ecumenismo é palavra chave, é a regra para bem viver! Afinal, o que dá quando se junta metodistas, batistas, luteranos, anglicanos, católicos? A resposta... Churrasco! É, estudante adora uma festa! Aquela casa é quase o retrato do Brasil religioso! Como esquecer as conversas na cozinha, ao redor da mesa, ou lá no primeiro andar, na mesa de estudos. Sim! Porque uma coisa tem que ser dita sobre essa casa. Ela é imensa! É quarto que não se acaba mais! E quando ela tá cheia de estudante parece mais a Torre de Babel - só que à moda brasileira, porque cada um traz o sotaque da sua terra, mas no fim a gente se entende!

A Universidade Metodista representa quase o bairro inteiro de Rudge Ramos, tudo gira ao redor do complexo Metodista (igreja, escola e universidade). Também, a Universidade é imensa! Tem de tudo, praça de alimentação, clínica, academia de ginástica, residência para alunos e professores. Aqui vai meu protesto: os primeiros dias passei indo estudar na biblioteca da Universidade. Tudo ia bem... Até que quando o relógio “batia” quatro horas da tarde, a biblioteca se convertia numa espécie de extensão de um shopping. Escutava-se de tudo, conversas paralelas, músicas, discussões acaloradas entres os alunos... Um dia (desses que a gente acorda “com a pá virada”) eu saí da sala que eu estudava e fui até a sala ao lado, onde estudava um grupo de quatro rapazes (usei o verbo estudar porque suponho que era isso que faziam). Bati na porta, entrei e com a “cara amarrada” pedi: Dá para estudar mais baixo! O barulho de vocês está incomodando!... Quando voltei para a sala, Nicoly, minha fiel companheira de quarto e de estudos disse: “E, da série ‘As brasileiras’... Hoje apresentamos: 'A cangaceira da biblioteca'!”

A bronca não deu muito certo, aí apelamos, Nick e eu, para o Prof. Leonildo, que gentilmente nos cedeu seu gabinete no segundo andar do ed. Capa. Lá virou a embaixada de Pernambuco naquela imensidão de Universidade. Porque por essas coincidências da vida, Nick veio da UFPB, mas é uma importação genuinamente pernambucana. Arreatado né!!? Lá estudamos por manhãs e tardes...

Gostaria de deixar registrado aqui meus agradecimentos aos professores Leonildo e Sandra, que se mostraram tão solícitos e tão gentis. Obrigada por facilitar minha estada, pelas indicações de livros e sugestões para desenvolver minhas pesquisas. À profª. Sandra um agradecimento muito especial por haver me recebido em suas aulas, por abrir meus horizontes e por me ajudar a “descer da minha torre de marfim” e me levar a pesquisar em outros campos. A vocês, meu muito obrigada!

Passados os primeiros trinta dias eu já estava acostumada com o céu cor de mingau e o frio de São Bernardo. Os amigos e amigadas são os melhores aquecedores! E por falar em amigo, o que dizer do meu orientador que veio de Recife para concluir o Pós-Doc justamente no mês que eu estava em São Bernardo? Luiz me levou para consultar a biblioteca dos redentoristas, aos jardins do Museu do Ipiranga, também me levou para conhecer um dos autores que eu tenho maior admiração, Pe. José Oscar Beozzo. Mas o melhor de tudo foi a nossa ida para Curitiba! Lá eu fui visitar minha avó Maria e fui entrevistar a senhora Aglaia Peixoto para um artigo que vamos escrever, o Prof. Luiz e eu, sobre a presença/participação de Dona Aglaia durante o Concílio Vaticano II. Voltaria contente só com a entrevista, mas afortunadamente o destino me reservou uma surpresa! Dona Aglaia entregou a mim, para que trouxesse para o Recife, o pergaminho que ela tinha recebido dos padres conciliares brasileiros ao final da última sessão do Concílio. Um gesto do episcopado brasileiro em agradecimento por todo o trabalho feito por ela.

De Curitiba peguei um avião para o Rio de Janeiro, fui visitar duas amigas: Maria Luiza Amarante e Marina Bandeira. Como elas também foram amigas do Dom (Helder Câmara) a viagem está mais do que justificada. Maria Luiza hospedou-me e, também me confiou alguns objetos que pertenceram ao Dom para trazer ao Recife. Esse pequeno conjunto pesou 12kg, entre livros e papeis. Do Rio, de volta para São Bernardo, na última semana, apresentei um trabalho sobre Religião e política: laicidade e o espiritismo kardecista no Brasil. (Esse foi o resultado da tal “descida” da torre de marfim!). Os sessenta dias longe de Recife, fazendo estágio na UMESP como mestranda em Ciências da Religião da UNICAP, decididamente, valeram a pena!!!

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