16 de nov. de 2011

ÓSCULO DA PAZ?!

Neste 16 de novembro, em Paris, a Benetton, transnacional italiana de moda, famosa pela sua publicidade provocativa dos costumes sociais, anunciou uma Fundação chamada UNHATE ("não ao ódio"), que vai organizar ações simbólico-publicitárias com o objetivo de se opor à cultura do ódio, promovendo a proximidade entre os povos, crenças, culturas e a compreensão pacífica das razões dos outros. A primeira campanha mundial da Fundação foi lançada, trazendo foto-montagens de beijo, o símbolo mais reconhecido do amor, entre líderes políticos e religiosos do mundo. Por exemplo: o presidente francês Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel; Barack Obama e o líder chinês Hu Jintao; o Papa Bento XVI e Ahmed Mohamed el-Tayeb, Imã da mesquita de AL-Azhar no Cairo (o mais importante e moderado centro de estudos islâmico-sunita do mundo); o presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas e o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, e por aí vai... .
...
São imagens iconoclastas, mas aparentemente sugestivas de reconciliação, com um toque de esperança irônica, pedindo reflexão sobre como a política, a religião e as ideias, mesmo que diferentes e contrapostas, devem, todavia, levar ao diálogo. Beijar os lábios de alguém é um ato privado ou público e simboliza amizade ou desejo, dependendo do tempo e do lugar. No renascimento inglês, ao chegar em uma casa o visitante beijava os lábios do anfitrião, sua mulher, seus filhos e até o gato e o cachorro; mas hoje, por conta do puritanismo, os britânicos nunca se beijam em público! Os russos continuam se cumprimentando com beijos e vale homem com homem, mulher com mulher... E na boca! Atualmente, em países mediterrâneos ou mesmo na Argentina e Uruguai, os homens se beijam quando encontram amigos. Já na Malásia ou até na Venezuela, mesmo um casal pode ser preso por um beijo ainda que pudico, mas ndemorado. Vale lembrar que o "beijo sagrado" no irmão/irmã era parte da missa e somente no século XIII a Igreja Católica o substituiu por um cumprimento de paz (embora os Coptas osculem os lábios no seu rito) e os Protestantes abandonaram de vez o costume no século XVI. Como o sentido das coisas está em relação com o contexto psicológico e cultural de quem as fez, mas também de quem as vê, então, as imagens da UNHATE vão causar muito "unheiro" por aí...
...
Afinal de contas, as cenas desses beijos inusitados querem relativizar e questionar símbolos do poder político e religioso do mundo, em nome de uma salutar causa civil de paz e harmonia entre as pessoas? Ou, levando em conta a empresa de moda por trás da Fundação da campanha, o que se quer é difamar lideranças e aniquilar possíveis instâncias de limitação moral do consumismo em um mercado mundializado de supérfluos e marcas? Ou ainda, como citou-se um texto budista no lançamento da série de fotos que vão ser espalhadas por grupos de jovens nas grandes capitais do planeta, tratar-se-ia, ao menos inconscientemente, de um confronto simbólico entre os valores orientais mais interiores e os representantes das leis ocidentais que apregoam paz e justiça social - mas não as alcançam?! Os fanáticos, claro, políticos e/ou religiosos, sempre tímidos e medrosos, verão cenas de injúria e conspiração contra os poderes "sagrados" deste mundo e do outro - e vão apertar os silícios e se preparar pro apedrejamento... Mas você é quem decide como interpretar e se posicionar perante (ou para!) o beijaço que vai aparecer aí por todo canto.

Aqui é o site da Campanha/Fundação.

9 comentários:

  1. Para mim é apenas provocar mesmo, igual aqueles cartazes da ATEA. Ideia original é só uma desculpa furada para fazer isso.

    ResponderExcluir
  2. O tempora! O mores!

    ResponderExcluir
  3. Vige Maria, professor: chega fiquei enjoada! Se essa tal campanha é pra pregar tolerância... Ela não devia ser mais tolerante com os costumes dos outros?! Sei não...
    Virgínia.

    ResponderExcluir
  4. Acredito que a publicidade tentou chocar o público. E conseguiu. No entanto, não levou em consideração os contras, somente os prós. O fato é que uns vão amar a divulgação e outros vão odiar. Penso que isso seja bastante arriscado para a publicidade, que deve sempre buscar a demonstração de aspectos positivos em suas produções, para que haja uma boa percepção da empresa pelo público. Õbservando desse modo, o anunciante colocou em jogo a imagem de sua marca que pode ser bem e mal vista pelos diferentes receptores da mensagem e suas respectivas culturas.

    ResponderExcluir
  5. Gilbraz, eu acho que todas aquelas possibilidades interpretativas que voce apontou ali tão valendo... e mais algumas. Uma ação simbólica desse porte certamente conjuga ações de mercado, pra firma anunciante se ver associada aos jovens contestadores que ela quer vestir... mas também faz eco a uma religiosidade contra-institucional, "ecológica" e civil que se espraia. sobretudo nos países ricos... de modo que resulta em um movimento complexo e multifacetado: ninguém sabe direito no que vai dar em cada lugar onde chega! mas eu sou a favor: dê um beijo, não dê um grito!
    Fernando Trigueiro.

    ResponderExcluir
  6. Tá todo mundo osculando no Recife. Só que anonimamente! Há quem prefira assim. Outros preferem o ósculo público, como o paulino!

    ResponderExcluir
  7. kkk a do papa já foi proibida na vaticano e a de hu jintao na china: grandes diferenças, imensas semelhanças!!!

    ResponderExcluir
  8. rapaz, nunca pensei que entre os católicos tivesse espaço pra contra-cultura! tou feliz! viva o anarquismo!
    Mané.

    ResponderExcluir
  9. Vigi, credoooo! Posssa ser que nasOropa o povo liberal ache bonito! Mas por aqui uma marmota dessa, homem beijando homem, se resolve com uma pisa de macambira! Oxe?!

    ResponderExcluir

Obrigado pela sua participação!