5 de out. de 2011

BRASIL É PAÍS LAICO: ATÉ QUE PONTO?

Durante os dias 30 de setembro e 01 de outubro, tivemos um Seminário muito bom no Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP, sobre "Religião e política: a laicidade como pauta dos estudos de gênero e religião". A Prof. Dra. Sandra Duarte, da UMESP, conduziu uma discussão sobre a ambigüidade da laicidade e a difícil separação entre religião e política. Suas considerações levavam em conta os conceitos de campo e habitus, ambos de Pierre Bourdieu. A partir dele, nós compreendemos o primeiro como “um lugar de atuação de forças várias, ou seja, de intenções de poder”. E o segundo, como a “verdade socialmente construída pelo grupo, logo, cada grupo tem a sua verdade”. Juntos, esses conceitos serviram de base para alicerçar nossas observações e nossas inquietações.... E não foram poucas!
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“Qual é a política da política?”, você já se fez esta pergunta? Pois é! A Prof. Sandra saiu com essa logo de cara... Que aspectos da nossa forma de pensar e agir estão tão arraigados na nossa identidade que nos fazem agir sem questionar determinados “padrões”? A resposta... São os habitus dos nossos grupos! Eles são a “naturalização de algo já construído”, por isso não questionamos determinadas representações. Isso nos leva a pensar que tudo o que, de alguma maneira, “perturba” essa ordem, precisa ser justificado. Os exemplos são vários, nós começamos pelo binômio: mulher bonita-burra X mulher inteligente-feia... Não dá para agrupar a característica de uma com a outra!? Ou ainda, outro exemplo, todo o aparato midiático para justificar a presença de um negro na presidência do país mais poderoso do mundo, ou, se preferir um produto nacional, toda a reviravolta da campanha eleitoral que deu a Dilma o cargo de presidente do Brasil.
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Evidentemente que essas mudanças não são aceitas por todos, nem sequer podemos dizer pela maioria, mas que alguns ajustes precisam ser feitos em nosso modo de pensar, disso não resta dúvida! Mas quando o assunto é religião, não basta mudar, é preciso "dessacralizar". Se os costumes culturais são justificados por mitos e ritos religiosos... Muito mais difícil! A religião é parte da nossa identidade, somos sujeitos religiosos: como separar esse fato da nossa vida política? “Dá não!”. Sandra nos mostrou que essa luta por separação entre Estado e religião depende de como se deu o processo de secularização de cada país. Assim, vimos três exemplos: o caso da França, do Uruguai e do Brasil. Em todos os casos a laicidade é princípio constitucional, mas a história de cada um ganhou matizes diversos, dependendo das relações que a Igreja criou com a sociedade, tornando complicado esse “divórcio”.
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Fotos de Luiz Carlos Marques
Pois é, essa riqueza toda e o Seminário também foi momento de descontração, de lembranças... Todas para enriquecer e ilustrar o nosso debate, claro. Além de contar com a presença dos alunos do nosso Programa de Mestrado, o tema do Seminário contagiou mais gente: três ex-alunas do curso de história cujas pesquisas tocavam, em alguma medida, na questão da laicidade, e três dos nossos professores: Zuleica, Drance e Luiz Carlos.
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Quem foi, aprovou! Que deixou de ir, perdeu! Mas aproveitamos o ensejo para agradecer e já convidar todo mundo para o próximo Seminário! Prof. Sandra volte sempre, são contribuições como a sua que fazem valer a pena acordar cedinho, até no sábado, e nos dão energia para novas pesquisas!

Lucy Pina Neta
Historiadora. Mestranda em Ciências da Religião na UNICAP
Assistente de Pesquisa do Instituto Dom Helder Câmara

Saiba mais sobre o assunto no blog:
Símbolos religiosos em prédios públicos,
Marchas pelo Estado laico,
Liberdade religiosa e ensino religioso,
Laicidade e pluralidade na França.

Um comentário:

  1. Será que é tão difícil assim as pessoas entenderem que um estado laico não significa dizer que esse mesmo Estado seja contra a religião a, b ou c? Laicidade significa apenas que o Estado deve ficar neutro em assunto de religião. No Brasil, só é presiso que os governantes cumpram o seu papel e obedeçam ao estabelicido no art. 19 da Constituição Federal, e nada mais. Não subvencionar culto religioso ou igrejas(financiar com dinheiro público)e não manter qualquer relação de dependência ou aliança com elas. Se tivessem vergonha na cara, cumpririam direitinho.

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