26 de set. de 2010

RELIGIÃO E ESPAÇO PÚBLICO

O Diário de Pernambuco noticiou (veja aqui) que neste sábado (25) uma carreata promovida por 12 igrejas evangélicas em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, foi interceptada por oficiais de justiça, à procura de um “Manifesto pela Família”, distribuído previamente em ato pelos organizadores do evento. O manifesto busca “demonizar” o PT, enfatizando que o partido está à frente de vários projetos e programas que atentam contra os ensinamentos da Bíblia. De acordo com o pastor Pedro Rodrigues, presidente do Conselho de Pastores de Jaboatão, existem projetos em tramitação na Câmara dos Deputados, de autoria de deputados petistas, que “beneficiam o segmento homossexual e ameaçam amordaçar a igreja”. Ele também ressalta que o Programa Nacional de Direitos Humanos aprovado pelo presidente Lula no final de 2009 é uma “afronta ao que pregou Jesus Cristo”. Na noite de ontem chegou-nos pelo Orkut uma síntese desse manifesto (transcrito aqui literalmente):

"Divulguem! O seu voto é sua reponsabilidade.
O PT foi o único partido que "fechou questão" sobre isso:
Fica proibido fazer:
Cultos ou evangelismo na rua (Reforma Constitucional).
Programas evangélicos na televisão por mais de uma hora por dia.
Programa de rádio ou televisão, quem não possuir faculdade de 'jornalismo'.
Pregar sobre dízimos e ofertas, havendo reclamações, obreiros serão presos.

Quanto aos cultos: cultos somente com portas fechadas (Reforma Constitucional).
As igrejas serão obrigadas a pagarem impostos sobre dízimos, ofertas e contribuições.
Será considerado crime pregar sobre espiritismo, feitiçaria e idolatria, e também veicular mensagem no rádio, televisão, jornais e internet, sobre essas práticas contrárias a Palavra de Deus.
Pastores que forem presos por pregar sobre práticas condenadas pela Bíblia Sagrada (homossexualismo, idolatria e espiritismo), não terão direito a se defender por meio de ação judicial.
Se estabeleça: o dia do "Orgulho Gay" e que seja oficializado em todas as cidades brasileiras e comemorado nas Instituições de Ensino Fundamental (primeira a 8.a série), público e particular.
Que as Igrejas que se negarem a realização das solenidades dos casamentos de homem com homem e de mulher com mulher, estarão fazendo "discriminação", seja multadas e seus pastores processados criminalmente por discriminação e desobediência civil.

Projeto nº 4.720/03 - Altera a legislação constitucional; Projeto nº 3.331/04 - Altera o artigo 12 da Lei nº 9.250/95, que trata da legislação do imposto de renda das 'pessoas físicas'.
Se convertidos em Lei, os dois projetos obrigariam as igrejas a recolherem impostos sobre dízimos, ofertas e contribuições.

Projeto nº 299/99 - Altera o código brasileiro de telecomunicações (Lei 4.117/62).
Se aprovado, reduziria programas evangélicos no rádio e televisão a apenas uma hora.

Projeto nº 6.398/05 - Regulamenta a profissão de Jornalista.
Contém artigos que estabelecem que só poderão fazer programas de rádio e televisão, pessoas com formação em JORNALISMO. Significa que pastores sem a formação em jornalismo não poderão fazer programas através desses meios.

Projeto nº 1.154/03 - Proíbe veiculação de programas em que o teor seja considerado preconceito religioso.
Se aprovado, será considerado crime pregar sobre idolatria, feitiçaria e rituais satânicos. Será proibido que mensagens sobre essas práticas sejam veiculadas no rádio, televisão, jornais e internet. A verdade sobre esses atos contrários a Palavra de Deus, não poderá mais ser mostrada.

Projeto nº 952/03 - Estabelece que é crime atos religiosos que possam ser considerados abusivos a boa-fé das pessoas.
Convertido em Lei, pelo número de reclamações, pastores serão considerados 'criminosos' por pregarem sobre dízimos e ofertas.

Projeto nº 4.270/04 - Determina que comentários feitos contra ações praticadas por grupos religiosos possam ser passíveis de ação civil.
Se convertido em Lei, as Igrejas Evangélicas ficariam proibidas de pregar sobre práticas condenadas pela Bíblia Sagrada, como espiritismo, feitiçaria, idolatria e outras. Se o fizerem, não terão direito a se defender por meio de ação judicial.

Projeto de nº 216/04 - Torna inelegível a função religiosa com a governamental.
Significa que todo pastor ou líder religioso lançado a candidaturas para qualquer cargo político, não poderá de forma alguma exercer trabalhos na igreja.

Não se deixe enganar, a Grande Tribulação está a nossa porta. Faça a sua parte: comunique estes fatos aos seus irmãos em Cristo. "Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Ap.2:10)."
(mensagem recebida pelo Orkut em 25/9/10).

Então, como você interpreta esse Manifesto pela Família feito por evangélicos? Qual o lugar da religião no espaço público?
Dê a sua opinião clicando em "Comentários"...

5 comentários:

  1. Minha gente,
    esse PT é meio fascista mesmo, apesar de que sobram nele alguns intelectuais que tentam cuidar da coisa pública com espírito moderno - incluindo aí os republicanos que buscam obrigar as religiões a entrarem no espírito do diálogo democrático e da laicidade do público!
    Essa "carreata pela Família" lembra uma "Marcha pela Família, Tradição e Propriedade", que outros religiosos, católicos, já fizeram em nosso país (http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882004000100011&script=sci_arttext). Não importa a igreja, a falta de jeito é a mesma quando os privilégios das suas congregações e os espaços das suas ideologias autoritárias são ameaçados pelo bem comum e popular!
    Nosso maior apoio aos enquadramentos democráticos das religiões, que vêm sendo ensaiados pelo Estado brasileiro (e alguns bons políticos que restam por aí!).
    Marcus Oliveira.

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  2. CNBB está sendo usada, lamenta bispo de Jales

    Sob o título “Desmonte de um falácia”, o bispo de Jales, São Paulo, dom Demétrio Valentini, divulgou carta denunciando a publicação e distribuição de documento impresso, e de vídeos feito pelo padre Paulo Sampaio Sandes e os bispos dom Nelson Westrupp, dom Benedito Beni dos Santos e dom Airton José dos Santos, nas últimas semanas, e no dia das eleições, configurando crime eleitoral.

    ALC
    Brasília, quinta-feira, 7 de outubro de 2010

    Valentini afirmou que a falácia é dupla, destacando que a primeira invoca e usa o nome da onferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para um documento que ela não emitiu e por isso sequer foi disponibilizado em sua página na internet.

    A segunda falácia invoca a causa indiscutível da vida “para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto”.

    Bispo com inserção social, firme pastoreio e clareza de análise sócio-econômica, dom Demétrio questionou a atuação da presidência do Regional Sul 1 da CNBB, ao assumir a “manifestação de comissões diocesanas, que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT), em especial na candidata Dilma”.

    Para ele, esta postura compromete a credibilidade da CNBB. As consequências são ainda piores, já que milhares de folhetos foram distribuídos no dia da eleição “ao arrepio da lei” e seguem “à disposição da volúpia desonesta de quem a está explorando eleitoralmente”.

    Sem meias palavras, o bispo de Jales, classificou a atitude de “falácia mais sutil, e mais perversa”, ao perceber quem se arvora “em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos”. Usam a vida como “pretexto da propaganda política contra seus adversários, e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica”, sustentou.

    Dom Demétrio apontou para a “clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária”, questionou o senso moral dos que “nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida”.

    Concluiu a carta denunciando a ingenuidade dos que “votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida”, e se julgam “no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas.” Esses, escreveu, “pretendem revestir de honestidade, uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.”

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  3. Não é bom para a democracia que alguns decidam pelos outros (...) Mas é pior ainda para a religião, seja qual for, pressionar os seus adeptos para que votem em determinados candidatos, ou proibir que votem em determinados outros em nome de convicções religiosas. A religião que não é capaz de incentivar a liberdade de consciência dos seus seguidores, que se retire de campo. Seja quem for, bispo, padre, pastor, ninguém se arrogue o direito de decidir pela consciência do outro." (Dom Demétrio Valentin)



    "A Aliança de Batistas do Brasil vem a público levantar o seu protesto contra o processo apelatório e discriminador que nos últimos dias tem associado o Partido dos Trabalhadores às forças da iniquidade. Lamentamos a participação de líderes e igrejas cristãs nesses discursos e atitudes, que lembram muito a preparação das fogueiras da inquisição". (Pronunciamento da Aliança de Batistas do Brasil)



    Chamando a atenção para as palavras das lideranças religiosas acima citadas, a Direção Nacional do CEBI vem a público denunciar as práticas de setores de algumas igrejas que buscam forçar seus fiéis a não votar em certa candidatura por meio de informações manipuladas ou falsas, acerca de temáticas de cunho ético, como, aborto, união civil de pessoas do mesmo sexo ou outras.

    Denunciamos que esse tipo de manipulação religiosa, do ponto de vista legal é crime de preconceito e de incitação à intolerância; e do ponto de vista religioso, é atitude contrária ao Evangelho de Jesus Cristo.

    Reforçamos que a liberdade de consciência é direito inalienável da pessoa humana e que não é papel das instituições religiosas estimular a intolerância religiosa. Certas apelações e alguns temas que tentam implantar medo e terrorismo no imaginário do povo, já foram tentados nas eleições de 1989, resultando, naquela ocasião, na derrota das forças progressistas.

    Reconhecemos que as duas candidaturas que disputam o 2º turno têm posturas próximas do ponto de vista econômico, ambiental, ético, moral e religioso. Entretanto, entendemos que a candidata do PT ainda significa a possibilidade de maior investimento no campo social e de menor perseguição às lutas populares.

    É imprescindível que cada cidadão e cidadã decida seu voto com base em avanços ou retrocessos na qualidade de vida do nosso povo. Sugerimos que a sociedade livremente avalie as melhorias que as populações empobrecidas tiveram nos últimos oito anos e apoie sua continuidade. E que se organize ainda mais para a cobrança do que é direito do povo e dever do Estado.

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  4. Como uma onda que ganhou volume entre o primeiro e o segundo turno das eleições, a nova rodada da propaganda eleitoral no rádio e na TV foi aberta ontem com Dilma Rousseff e José Serra agradecendo a Deus e pregando a defesa da vida, da fé e dos "valores".
    A petista assumiu compromisso com os "nossos valores mais sagrados". O tucano fez a defesa "dos valores da família brasileira" e dos "valores cristãos".
    O último programa do primeiro turno já prenunciava a "guerra santa" pelo eleitor conservador: na ocasião, Dilma se comprometera a respeitar a liberdade religiosa; Serra mostrou a família e leu a Bíblia para uma eleitora.
    De lá para cá, houve um acirramento entre correligionários das duas candidaturas, a partir de material apócrifo na internet sobre as convicções de Dilma e da exploração da dubiedade da posição da petista sobre descriminalização do aborto.
    Uma pesquisa do Ibope também detectou que, em setembro, Dilma perdeu votos e teve um aumento de rejeição entre evangélicos.
    A candidata governista abriu o seu programa da tarde agradecendo a Deus por ter lhe concedido "uma dupla graça: ter sido a candidata mais votada no primeiro turno e ter a oportunidade agora de discutir melhor as minhas propostas e me tornar ainda mais conhecida".
    Serra foi mostrado num discurso em que diz que irá à vitória "com Deus, com amor no peito pelo Brasil, no nosso coração verde e amarelo".
    Até as propostas de governo ganharam embalagem adequada à nova ordem. O programa de Dilma informou que, "para fortalecer a família brasileira", a candidata irá "construir mais 2 milhões de moradias, melhorar o sistema de saúde" etc.
    Ao anunciar o programa Mãe Brasileira, de atendimento pré-natal e pós-parto, a propaganda serrista citou o "dom da vida".
    Dilma apareceu numa foto com um véu na cabeça ao lado do papa Bento 16, numa com a filha e noutra com o neto, como a "mulher mãe", "a mulher avó" e a "mulher que respeita a vida".
    Em depoimento, Lula disse já ter sido vítima de boataria: "Quando pessoas saíram do submundo da política mentindo a meu respeito. Dizendo que eu ia fechar as igrejas, mudar a cor da bandeira. Ganhei as eleições, e o que aconteceu? Mais liberdade religiosa, mais respeito à vida, mais democracia".
    O programa de Serra citou pela primeira vez a palavra "aborto". Disse o locutor: "[Serra é] um homem que nunca se envolveu em escândalos. E que sempre foi coerente. Sempre condenou o aborto e defendeu a vida".

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  5. "Nós, evangélicos e evangélicas, brasileiros, eleitores e cidadãos comprometidos com a verdade e a justiça, manifestamos profeticamente as nossas rejeições e defesas diante da onda de conservadorismo que se abateu sobre o país nesse processo eleitoral.
    Rejeitamos os posicionamentos de alguns líderes evangélicos, que em vez de preparar cidadãos, com plenos conhecimentos de seus direitos e deveres, encaminham seus fieis para um exercício equivocado da fé.
    Rejeitamos a disseminação de boatos e inverdades com fim de manipular o eleitorado.
    Rejeitamos a manipulação, seja ela de que forma for, e a redução das questões cruciais e relevantes no processo eleitoral a temas presos ao mero moralismo.
    Rejeitamos o uso da fé como instrumento de manipulação política no momento em que temas como erradicação da pobreza, sustentabilidade ambiental e desigualdade social precisam ser discutidos pela sociedade.
    Rejeitamos o papel da mídia, que dá voz e espaço, para que a onda de conservadorismo ganhe visibilidade, desviando o foco das propostas dos candidatos.
    Rejeitamos a demonização dos candidatos e partidos, além do processo eleitoral.
    Rejeitamos a difusão de informações equivocadas dos papéis que cabem ao Executivo e ao Legislativo no país.
    Rejeitamos qualquer forma de intolerância religiosa.
    Dessa forma, defendemos que as eleições devem girar em torno das questões programáticas e dos planos de governo.
    Defendemos, como herança do Protestantismo, a manutenção e o fortalecimento do Estado Laico.
    Defendemos a necessidade de uma reforma política e eleitoral que leve o Brasil, do sistema proporcional, no máximo, ao distrital misto, para que os candidatos tenham vínculos comunitários.
    Defendemos o aprofundamento do Estado de Direito e a consecução do estabelecimento do Estado de Equidade social, política e econômica.
    Defendemos uma Igreja independente, que não se submeta aos interesses políticos e eleitorais. Ao contrário, que exerça sua função profética produzindo cidadãos livres e conscientes de seu papel cívico.
    Defendemos a manutenção e o avanço das conquistas sociais que, nos últimos anos, fizeram com que uma parcela significativa de brasileiros saísse dos níveis de pobreza inaceitáveis em que viviam.
    Defendemos a manutenção de políticas públicas que promovam a erradicação da pobreza e a maior igualdade entre os brasileiros.
    Por fim, assumimos o compromisso de continuarmos orando e contribuindo solidariamente com a construção de um Brasil sustentável, economicamente viável, socialmente justo."
    Se você deseja também subscrever este manifesto, entre no site da Petição Pública
    http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2010N3315

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