8 de fev. de 2010

PONTO DE MUTAÇÃO



Por Gilbraz.

· Livro: CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1999.
· Filme: Ponto de mutação, dirigido por Bernt Capra (com Liv Ullmann, Sam Waterston, John Heard), Estados Unidos, 1990.

Esta foi a obra que popularizou o conceito científico de paradigmas (T. Kuhn). O autor, Fritjof Capra, constata que vivemos uma crise de civilização sem precedentes, de vez que nos defrontamos com uma ameaça real de extinção da raça humana e de toda a vida no nosso planeta, e defende que existe uma dinâmica subjacente aos problemas de saúde, criminalidade, poluição, inflação, escassez de energia e muitos outros que padecemos: a civilização ocidental perdeu seu vigor cultural e está em queda, como demonstra o declínio dos seus pilares – o patriarcado, a era do combustível fóssil, o paradigma científico mecânico-tecnicista, que se apoiava numa visão do ser humano como ser de necessidades.

Capra apresenta então um modelo de análise cultural que ajuda a reexaminar nossos valores e tornar a transição sócio-cultural (ponto de mutação) mais consciente – e conseqüente. Ele serve-se do modelo de transições culturais harmoniosas retratado no I Ching chinês para explicar a sua tese: os filósofos chineses viam a realidade, a cuja essência primária chamaram Tao, como um processo de contínuo fluxo e mudança, sustentado pelos pólos arquetípicos Yin e Yang – relacionados aos modos de conhecimento intuitivo e racional, respectivamente. Segundo essa abordagem, o drama da nossa sociedade é que favoreceu o Yang em detrimento do Yin, a mente em detrimento do corpo, a matéria em detrimento do espírito, o instrumental em detrimento do comunicativo, a sociedade em detrimento da natureza, o masculino em detrimento do feminino. Contudo, uma série de movimentos sociais de contracultura, do eco-feminismo sobretudo, vêm desenvolvendo um movimento de mutação cultural, com o suporte da física moderna (matéria é energia e portanto indeterminada, misteriosa) e a teoria sistêmica (os sistemas vivos são organizados de modo que formam estruturas que constituem um todo em relação a suas partes, e uma parte relativamente a todos maiores). Vejamos algumas citações do primeiro capítulo do livro:

“... Podemos ler acerca de suas numerosas manifestações todos os dias nos jornais. Temos taxas elevadas de inflação e desemprego, temos uma crise energética, uma crise na assistência à saúde, poluição e outros desastres ambientais, uma onda crescente de violência e crimes. A tese básica do presente livro é de que tudo isso são facetas diferentes de uma só crise, que é, essencialmente, uma crise de percepção. (...) Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes. Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecológica que a visão de mundo cartesiana não nos oferece”.

“Essa tecnologia tem por meta o controle, a produção em massa e a padronização, e está sujeita, a maior parte do tempo, a uma administração centralizada que busca a ilusão de um crescimento ilimitado”.

“No século XX, entretanto, a física passou por várias revoluções conceituais que revelam claramente as limitações da visão de mundo mecanicista e levam a uma visão orgânica, ecológica, que mostra grandes semelhanças com as visões dos místicos de todas as épocas e tradições. O universo deixou de ser visto como uma máquina, composta de uma profusão de objetos distintos, para apresentar-se agora como um todo harmonioso e indivisível, uma rede de relações dinâmicas que incluem o observador humano e sua consciência de um modo essencial...”.

Já no filme, dirigido por um irmão de Fritjof, encontramos uma cientista (que faz as vezes do Capra), um poeta e um político, que discutem física quântica e ecologia, buscam um novo paradigma ou uma nova visão de mundo, onde se possa perceber a inter-relação de tudo. O filme começa com um político liberal, democrata (inspirado em Al Gore) em crise de sentido, ligando para seu amigo escritor, o ex-ghostwriter de seus discursos, que está na França, dando um tempo, porque se encheu de viver no meio da fogueira das vaidades de Nova Iorque. O escritor/poeta o convida para dar um tempo também, passar uns dias com ele no Monte Saint Michel, uma fortaleza antiga perto do Canal da Mancha, para relaxar e conversar sobre a vida.

Lá, por coincidência, está hospedada a física, interpretada por Liv Ullmann, que resolveu, por sua vez, dar-se um tempo, quando descobriu que as pesquisas que fazia, dedicadamente, sobre aplicações de raio laser na saúde, estão sendo usadas pelo governo americano (leia-se Ronald Reagan, “republicano”), no polêmico projeto Guerra nas Estrelas, um resquício da guerra fria, hoje comprovadamente um fiasco. Da conversa entre os três surgem novos conceitos científicos, ideológicos, ambientais, holísticos...

ESQUEMA PARA ANÁLISE DO FILME “PONTO DE MUTAÇÃO”

PERSO-
NAGENS
ÓTICA
TEMPO
MATÉRIA
AÇÃO
Poeta
Natureza
Mitologia
“feminino”
Yin
Moira
Natural
Cósmico
Mãe
“meio”
Integração
Político
Cultura
Ciência (Descartes/Newton)
Matemática séc. XVIII
“masculino”
Yang
Cronos
Histórico
Mecânico
Matéria-prima
Para máquina humana
Intervenção
Trabalho: pra que isso serve?
Física
Novo paradigma ecológico
Ciência (Planck)
Física séc. XX
“humano”
Tao
kairós
Cosmo-antropológico
Quântico-sistêmico
Conexões de energia atômica
Cuidado
“serve pra fazer poesia”
“A realidade é um poema”

Por que os cientistas (que vimos no filme/livro O ponto de mutação) começam a falar de um “ponto de mutação” necessário em nossa ótica sobre o mundo?
Com base em que esquema teórico tais pensadores apontam para essa mudança de paradigma?
Quais as principais mudanças que eles propõem em nossa compreensão da realidade?

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