16 de nov. de 2009

ECLESIALIDADES E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Voltamos à PUC do Rio para uma banca de doutoramento em teologia, a convite da Profa. Ana Maria Tepedino. A tese de seu orientando, Antonio Carlos Ribeiro, que aliás fez esplêndida defesa, interpela aos teólogos com o resgate de um paradigma de pensamento ternário e relacional, frente ao modo de pensar binário e monológico que sói incrustrar-se nas interpretações das sagradas letras. Na América Latina, marcada por submissão cultural e imposição religiosa, as teologias da libertação, feminista, negra e indígena, potencializadas por uma lógica inclusivista e integral, podem ajudar sobremaneira (de vez que sofrimento sempre pode gerar mais conhecimento), impulsionando as eclesialidades cristãs a reverem suas relações com a pós-modernidade e ensaiarem, desde dentro da sua pluralidade ecumênica, diálogos profícuos com os universos das ciências e com as galáxias das outras religiões.
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As igrejas cristãs, de fato, precisam rever o seu entendimento da experiência salvífica, diante de um mundo que não encontra sentido na teologia pré-moderna (que anatemiza, em nome da identidade uniforme, mesmo "irmãos cristãos separados") e, sobretudo, diante do fenômeno da universalização das culturas e das religiões. Estamos às vésperas de uma era de grande pacifismo e cooperação, pela possibilidade do reconhecimento de uma espiritualidade transreligiosa, conjugada com o debate científico transdisciplinar, ou então de um confronto mundial sem proporções. De todo modo, o pluralismo religioso hodierno é o maior desafio que se impõe à vivência da fé cristã e às suas expressões teológicas.
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Entramos em um novo ciclo religioso. Nasce talvez uma nova era axial. A mundialização das culturas e religiões decreta o fim do ciclo mágico-agrícola e vigora cada vez mais a diversidade religiosa a ser harmonizada. A diversidade pode transformar a sociedade em um paraíso ou num inferno. Essa situação torna obsoleto o sistema dualista, antagônico e monológico, nascido com a pré-história. Entra-se em um tempo, epistemológico e ético, de reconciliação dialógica da pluralidade. Há indícios de movimentos profundos de busca transreligiosa de espiritualidade, contudo, por vezes, o sagrado que aparece mais é de novo selvagem, buscado por adesão seletiva, com um conteúdo auto-sistematizado para atender interesses emocionais do momento ou ainda à busca mágica de prosperidade. Como a teologia cristã vai ajudar no discernimento?
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Nunca como hoje as ciências e as teologias descobrem-se necessitadas e possibilitadas para o diálogo. Pois não haverá um mundo novo sem paz entre os povos, e não haverá paz entre os povos se não houver paz entre as religiões – mas não haverá paz entre as religiões se não houver conhecimento e diálogo entre elas. Muitas vezes se diz que as religiões mais trouxeram violência na história que favoreceram a paz, o que pode ser constatado por muitos fatos de rivalidade fratricida, de fanatismo e de exclusão. É por isso que saudamos a aproximação entre as teologias e as ciências, como uma colaboração ao conhecimento da história e dos seus meandros complexos, que favorece sempre o diálogo (a gente só ama aquilo que conhece!) entre as religiões – que precisam ultrapassar suas vontades de conquista para colocarem-se a serviço da humanidade, reconhecendo que trazem sons diferentes para sonhos iguais.
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Em verdade, nem é somente sobre religião que se deve tratar no diálogo inter-religioso – e nem mesmo diretamente sobre Deus – mas sobre o projeto divino em vista de fazer deste mundo um paraíso amoroso. Somente mudando o “nível da realidade”, passando do teórico-doutrinal para o da práxis ética e/ou do silêncio espiritual, é que o diálogo entre religiões é possível. Somente ultrapassando a própria experiência de Deus e buscando a ética que se esconde no humano – e nos reúne a todos de maneira sagrada ou divina – é que uma religião pode dialogar com outra e colaborar com o encontro de culturas. Não é mais possível aceitar a religião em sua forma tradicional, que é a da heteronomia, baseada em autoridades inadmissíveis desde que a modernidade fundou a liberdade da razão. Mas convém, ao menos, meditá-la em seu conteúdo, enquanto mensagem de amor. Essa tese ajuda na empreitada!

SERVIÇO:
RIBEIRO, Antonio Carlos Silva. Eclesialidades e Diálogo inter-religioso: as igrejas cristãs e a experiência salvífica, a partir dos novos paradigmas teológicos na América Latina. Rio de Janeiro, 2009. 248p. Tese de Doutorado – Departamento de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Antonio Carlos Ribeiro agora é doutor em Teologia (PUC-Rio, 2009 - bolsista SA). Mestre em Teologia (PUC-Rio, 2005 - bolsista CAPES). Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo (UGF, 1990 - bolsista
CREDUC). Bacharel em Teologia (STBSB, 1983). Atuou como jornalista na 8ª Assembleia da Federação Luterana Mundial (1990, Curitiba, Brasil), na viagem de estudos à Europa a convite do Comitê de Igrejas Protestantes da Alemanha (1995, Suíça e Alemanha); na reunião da diretoria do Conselho Mundial de Igrejas (2001, Potsdam e Berlim, Alemanha); na reunião do Conselho da Federação Luterana Mundial (2002, Wittenberg, Alemanha); na assembleia da Associação Mundial para a Comunicação Cristã (2007, Buenos Aires, Argentina). Membro da Comissão Organizadora do I Simpósio Internacional de Teologia (PUC-Rio, 2008, Rio de Janeiro, Brasil). Tem estudado os temas: Religião, Eclesiologia, Protestantismo, Ecumenismo, Pneumatologia, Comunicação.

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